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FUTEBOL ARTÍSTICO E FUTEBOL DE TERROR

8 / junho / 2018

por Rubens Lemos


Enquanto traço o queijo de coalho bem nordestino, o amigo 12 anos mais novo, faz observações sobre minha ortodoxia pelo futebol antigo. Ele, Pacheco de Copa do Mundo. E vocifera, no entusiasmo dos juvenis em HD:

– Você gosta de um futebol do passado, gosta de um futebol bonito, mas os tempos mudaram, hoje é marcação e velocidade.

O tempo e a impaciência são primos próximos, irmãos da razão. Deixo o queijo (uma delícia), descer devagar, tomo um gole de Coca-Cola e aciono o gatilho de minha metralhadora indignada:

– Gosto de tudo o que é bonito. De mulher bonita, de livro bom, de filme bonito, de música bonita, de um queijo delicioso e de uma carne de sol suculenta. Prefiro tudo isso à uma canelada de Fred ou uma arrancada inútil de Taison, seus ídolos.


Ele ponderou que tudo tem sua época e eu respondi que meu tempo é o tesouro precioso guardado no baú de minha alma. No futebol, prefiro rever o futebol brasileiro esquecido às palhaçadas de uma geração rica, mimada e mais preocupada com o contracheque do que o
gol.

Passei da metralhadora ao fuzil M-16 verbal. O amigo é vascaíno igual a mim, porém necessita de medicamentos, pois considera razoável o horroroso time atual.

Solto o questionário, admito, mais interrogatório do que entrevista:

– Você é fã de Juninho Pernambucano é? Pois saiba que ele não jogava um milímetro de Geovani…

– Juninho batia falta bem e lançava muito… – retrucou

– Geovani driblava, lançava, batia pênalti, falta, escanteio, dava lençol e caneta em adversário craque, era um maestro. Se quisesse, faria chover numa chapada na bola.

Meu amigo estranhou. Afinal, conhece a Chapada Diamantina e a dos Guimarães.

– É, mas eram outros tempos..

Prossegui enquanto uma picanha descia ao prato:


– Se você acha que Willian sabe jogar, veja um vídeo de Paulo Cézar Caju, um gênio malabarista, se você acha que Renato Augusto merece a camisa 8 do Brasil, vá ao YouTube e digite Didi 1958 ou Gerson 1970. Se Roberto Firmino te encanta, crave Romário e procure uns golzinhos dos tantos que ele fez. Entre Paulinho e Zico, respeito sua opinião, mas Zico jogou mais o equivalente à distância entre a Terra e o infinito, o interminável.

Mudamos de assunto. Passou uma loira de ganhar Hexas e Heptas, bronzeadíssima e plenamente consciente e mascarada dos seus predicados volumosos. Uma gostosa institucional.

Saí do restaurante mais puto da vida com quem idolatra uma seleção sem exceções que não Neymar e Phillipe Coutinho. Saí certo de que minha geração não engole esse tipo de futebol agradável feito dor de dente em fim de semana: feio, fechado, esquemático e cheio de jogador com nome de praça e desempenho de lixo.

No estacionamento, ainda provoquei:


– Você que gosta de marcação e correria, escreve para a Fifa e pede logo para retirar as traves do gramado. Joga tudo pro 0x0, que é o escore da mediocridade, dos notebooks e dos scouts, que Garrincha desmoralizaria num drible de gafieira.

Respeito aos mais velhos, meninada.

Somos pelo futebol artístico, vocês pelo de terror.

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