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DUPLA AFI(N)ADA

texto: André Mendonça | vídeo e edição: Daniel Planel | fotos: Marcelo Tabach

“Todo jogador sonha em ser cantor e vice-versa”. A frase mais do que batida é pura realidade, mas quando junta um craque da bola e um fenômeno da música, não tem jeito, dá samba. Literalmente!

Imediatamente após compor uma canção em homenagem a Jairzinho, Moacyr Luz, eufórico, entrou em contato com a equipe do Museu da Pelada para contar a novidade e solicitar mais um encontro musical daqueles, afinal já havíamos unido o próprio Moacyr com Júnior Capacete, além de PC Caju com Evandro Mesquita, e Adílio com Oswaldo Montenegro. O Furacão da Copa de 70 não pensou duas vezes e poucos dias depois estávamos no apartamento novo do Moa, no Flamengo.

– Nunca na minha vida eu imaginei estar perto de você desse jeito aqui! – disparou o anfitrião para Jairzinho após abrir a primeira gelada.

Vestido com a camisa da seleção brasileira, que tanto honrou, o Furacão agradeceu o carinho e emendou:

– Quer dizer que você vai me brindar com uma música?

A ansiedade tomava conta de todos: Moacyr não sabia qual seria a reação de Jairzinho e, assim como nós, o artilheiro não fazia a menor ideia do que escutaria. Tudo bem que Moacyr Luz não precisa provar mais nada para ninguém, mas a expectativa era gigantesca. Logo nos primeiros versos, no entanto, tratou de “botar a bola no chão” e narrou de forma precisa e detalhada o primeiro gol do Furacão na Copa de 70. Um golaço, diga-se de passagem.

A missão de Moa não era nada fácil, tratava-se de uma obra em homenagem a um feito histórico: Jairzinho marcou gol em todos os jogos daquela Copa. Acontece que o músico é “jogador experiente”, acostumado a carregar multidões, toda segunda-feira, ao Clube Renascença, para as rodas do Samba do Trabalhador, e tirou de letra o desafio de narrar em forma de samba todos os tentos do goleador na Copa de 70.

Uma homenagem justa, merecida e que, inevitavelmente, fez passar um filme na cabeça de todos nós. De tão bem detalhadas, até quem não teve o privilégio de assistir àquela Copa conseguiu imaginar as pinturas de Jairzinho pela descrição.

– Gostou? Pensei numa coisa meio épica, para homenagear mesmo. Eu corri atrás para fazer esse samba, tive que rever a Copa de 70 inteira. – revelou Moa.

– Se eu gostei? Tô chorando de alegria. Você fazendo rever o melhor momento da minha carreira! – agradeceu Jairzinho.

Em seguida, visivelmente emocionado, o craque lembrou o drama que viveu antes de brilhar na campanha do Tri:

– Passei por uma tremenda tempestade, mas consegui soprar como um furacão. Depois de ter fraturado o quarto e o quinto metatarso do pé esquerdo, após a Copa de 66, cheguei a ser condenado a não jogar mais futebol. Até que apareceu um “Jesus Cristo” da ortopedia, Dr. Nova Monteiro, que me ressuscitou e possibilitou tudo isso.

Lá pelas tantas, após muita resenha, Jairzinho solicitou o tamborim e fez uma bela dupla com Moa. Juntos, relembraram o sucesso “Jair da Bola” e cantaram o refrão do presente que o craque havia acabado de receber.