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PUNHO CERRADO

texto: André Mendonça entrevista: Sergio Lobo | vídeo e edição: Daniel Planel | fotos: Marcelo Tabach 

Estrear no time profissional aos 16 anos, ser o dono da maior média de gols da história de uma edição do Campeonato Brasileiro e barrar Roberto Dinamite na seleção brasileira foram apenas alguns grandes feitos de Reinaldo, do Atlético-MG, um dos atacantes mais técnicos e letais do futebol mundial. Maior artilheiro do Galo, com 255 gols, o craque lançou recentemente, no Rio de Janeiro, a sua biografia, “Punho Cerrado – A História do Rei”, escrita pelo filho Philipe Van R. Lima, torcedor apaixonado, que resolveu compartilhar as muitas histórias do paizão com a legião de fãs. O próprio Reinaldo ligou nos convidando, o que encheu nossa equipe de orgulho. Fomos, claro!!!!

Apesar da chuvinha chata, muitos torcedores do Atlético-MG, em sua maioria integrantes da torcida CarioGalo, marcaram presença na sessão de autógrafos, no Meiai Hostel, em Botafogo. O evento também teve a presença do jornalista e ilustre torcedor Chico Pinheiro, que assinou o prefácio do livro, do ídolo botafoguense Carlos Roberto e do artilheiro “rival” Roberto Dinamite! O ídolo do Vasco da Gama conviveu com Reinaldo durante a Copa de 78 e descreveu a admiração pelo amigo, embora fossem concorrentes de posição na seleção.

– A gente se respeitava muito! Não tinha essa de rivalidade por concorrer pela posição. Ele fazia gols maravilhosos e tinha uma técnica muito apurada. Eu tinha consciência de que ele era o melhor jogador daquela posição. Quando os zagueiros pensavam em marcar, ele já tinha feito o gol! Era muito imprevisível! – elogiou Dinamite.

Sem esconder a felicidade com a festa, o eterno camisa 9 do Galo tirava fotos com todos, sempre com o punho cerrado e o braço levantado. O gesto aparecia toda vez que o artilheiro marcava gol. Como balançar as redes era rotina, a comemoração foi vista e revista muitas vezes pelos brasileiros.

Reinaldo explicou que naquela época, por volta de 1975, o Brasil vivia dias conturbados por conta da ditadura militar, com muita repressão. Quando começaram a surgir manifestações mais consistentes contra o regime militar, com o intuito de alcançar maior liberdade de expressão, Reinaldo viu que era a hora de entrar em ação e aproveitou-se da visibilidade para chamar a atenção para a causa.

– Fazia esse gesto para demonstrar minha insatisfação com a política e mostrar que os jogadores tinham consciência social e poderiam contribuir para acelerar o processo democrático do país. Sabia da minha importância.

Para evitar problemas, no entanto, Reinaldo dizia que era um gesto em alusão ao Partido dos Panteras Negras, uma organização política norte-americana ligada ao nacionalismo negro. De acordo com o Rei, havia um grande medo de sofrer retaliações, o que aconteceria caso fosse descoberto pelos militares.

A comemoração ficou tão marcada na história e se repetiu tantas vezes que virou o nome da biografia do Rei. De acordo com o artilheiro, o livro fala não só de futebol e de partidas marcantes, mas das fases da sua vida.

– Vai desde a infância, do meu sonho de ser jogador, da alegria de vestir a camisa do Galo, da minha estreia na equipe profissional, dos jogos decisivos contra o Flamengo, dos clássicos contra o Cruzeiro, até uma fase difícil na minha vida, de envolvimento com as drogas, que eu superei. O livro mostra que tudo é possível quando temos força de vontade.

Sobre os jogos decisivos contra o Flamengo, relatados no livro, as lembranças não são das melhores. O primeiro grande jogo ocorreu em 1980, pela final do Campeonato Brasileiro, em um Maracanã lotado de rubro-negros. Na ocasião, o Flamengo abriu o placar com gol de Nunes, após passe de Zico, e a torcida explodiu. Logo na saída de bola, artilheiro do Atlético-MG conseguiu empatar a partida, calando o estádio. O Flamengo desempatou com gol de Zico, aproveitando a sobra na área. No decorrer da partida, Reinaldo, que já tinha um histórico de lesões, sofreu uma grave distensão no músculo da coxa, mas permaneceu em campo porque o treinador já havia feito todas as substituições. A torcida do Flamengo, no entanto, não perdoou e passou a ofender o craque com gritos de “BICHADO!”.

– Aquilo foi um massacre para mim! Deu vontade de me esconder, de entrar no vestiário… Eu não conseguia fazer mais nada em campo, o Júnior roubava a bola de mim com muita facilidade!

Mesmo com os movimentos limitados por causa da lesão, o Rei percebeu uma jogada na ponta-esquerda e penetrou na área como se estivesse sem dor alguma para marcar o gol de empate, que daria o título ao Galo.

– Naquele momento eu podia estar até sem perna, esqueci todas as dores! Aquele silêncio no estádio foi bom demais! Até hoje me arrepio ao lembrar esse lance!

Depois disso, o árbitro José Assis Aragão o expulsou por, supostamente, retardar uma cobrança de falta de Júnior, o que Reinaldo trata como uma grande injustiça. Com um a menos, o Atlético-MG não conseguiu superar a pressão do Flamengo e Nunes fez o gol do título!

No ano seguinte, quis o destino que Atlético e Flamengo fizessem mais um jogo decisivo, dessa vez pela Libertadores. Em um jogo muito polêmico, com a arbitragem de José Roberto Wright, o Atlético teve cinco jogadores expulsos, inclusive Reinaldo, após dar um carrinho em Zico, no ataque do Galo.

– Aquele foi o jogo que não acabou! O Wright estava muito nervoso desde antes do apito inicial. Ele manchou uma fase bonita do futebol brasileiro e manchou até a conquista do Flamengo! Eles tinham um grande time e não precisavam da influência da arbitragem!

Se os jogos contra o Flamengo não trouxeram muitas alegrias, o mesmo não se pode dizer dos clássicos contra o Cruzeiro, que paravam Belo Horizonte! Em 1976, surgia uma geração de grandes craques do Galo, liderada pelo Rei, que acabaria com a hegemonia do grande rival no campeonato mineiro. Embora contasse com jogadores muito mais experientes e já consagrados, como Piazza, Nelinho e Raul, o Cruzeiro passou a ser freguês dos garotos de 17, 18 anos do Galo.

– Eram dois times muito fortes e os jogos costumavam ser muito bons, mas, com todo respeito, nosso time brincava com esse o do Cruzeiro, que já estava em declínio.

Nesses jogos, a equipe do Cruzeiro sofria com o time veloz do Galo e, sobretudo, com Reinaldo, que atormentava a zaga rival. O atacante era extremamente frio na frente do goleiro e costumava marcar muitos gols de cavadinha. Apesar de ter sido especialista nesse chute, o craque admite que se inspirava em outro artilheiro!

– Eu era bom na cavadinha, mas antes de mim o Coutinho fazia muitos gols assim! Eu esperava o goleiro cair e dava aquele toque por cima dele! A bola não encostava nem na rede – lembrou, orgulhoso.

Por fim, Reinaldo deu uma linda declaração de amor ao clube que ama e o revelou. De acordo com ele, o Atlético é um time de glória, de massa e é um dos melhores sentimentos de Minas Gerais!

– Só quem é atleticano sabe como é esse amor pelo clube!