por Ricardo Alves (Rico)

Ah, meu amigo… houve um tempo em que o futebol brasileiro não era apenas um jogo — era um bailado sobre a relva, um samba com chuteiras, um espetáculo em preto e branco que fazia o rádio tremer de emoção. Nas tardes de domingo, as famílias se reuniam ao redor do aparelho, e cada gol era celebrado como se fosse poesia recitada no coreto da praça. Era amor puro. Era arte.
Mas hoje… o buraco é muito mais embaixo. Apesar das cinco estrelas no peito e da glória que construímos ao longo das décadas, o futebol brasileiro anda como quem perdeu a cadência do coração. Desde o apogeu de 1970 no México, quando o mundo se curvou diante da genialidade de Pelé, Tostão, Gérson, Rivelino, Jairzinho e companhia, muita coisa mudou — especialmente lá fora.
Os europeus, que antes vinham assistir ao nosso espetáculo de chuteiras, entenderam que não poderiam competir com a nossa arte pela técnica. Então, com sabedoria e humildade, trataram de estudar. E estudaram. Evoluíram na força, na tática, na organização. Hoje, jogam com o coração na cabeça e os olhos no futuro.
Nós, por outro lado, esquecemos de onde viemos. Os campinhos de várzea — santuários da improvisação, da ginga, do drible encantado e mágico — foram engolidos pelo concreto das cidades grandes. Nossos meninos crescem com buracos enormes na formação. Chegam ao profissional sem saber cruzar, cabecear, chutar com a perna ruim ou entender que futebol também se joga com o cérebro.
E a nossa seleção? Ah, quanta saudade de quando a camisa amarela arrepiava a espinha. Hoje, parece vitrine de empresário. Onde estão os líderes de campo? Os que olham o adversário nos olhos e mudam o rumo do jogo pela intuição e pela coragem?
Veja o jogo de ontem. Flamengo e Bayer. Um tapa na cara da ilusão. Técnica ainda temos, mas a força e a tática dos alemães engoliram nosso talento. Marcaram alto, sufocaram. Mas… deixaram a defesa exposta. Bastava um plano B. Bastava olhar além. Bastava raciocinar. Colocar dois velocistas na frente, explorar o espaço nas costas da zaga. SIMPLES.
E por que não foi feito? Porque nem o treinador nem os jogadores leram o jogo. Estavam presos ao SCRIPT, à cartilha, à mesmice. Faltou ousadia. Faltou leitura. Faltou futebol.
E enquanto isso, no topo da pirâmide, a CBF — nossa casa, nossa matriz — mergulha em escândalos e presidentes afastados. Se a cabeça está podre, como esperar que os pés dancem como antes?
É preciso mais do que saudade. É preciso revolução. O futebol brasileiro precisa se olhar no espelho, com a coragem dos tempos de outrora e a humildade dos que querem renascer. Porque talento nós ainda temos. O que falta é o resto: amor à camisa, caráter, estudo, visão e paixão verdadeira.
Do contrário, seguiremos vivendo do passado — e chorando o presente.
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