por Pedro Barcelos

Era apenas um jovem sem grandes ilusões, infelizmente, mas com grandes ambições inalcançáveis, felizmente. De repente, uma estrela solitária ilumina os caminhos: “pode vir”, disse, “te darei abrigo na tempestade”.
A oferta não foi muito tentadora, visto o panorama atual da situação. A segunda divisão do campeonato nacional não era a oferta mais vantajosa naquele momento. Perdido, preferiu arriscar e aceitar. A situação piorou e mais uma vez a estrela veio: “continue aqui”, disse com confiança, “te darei abrigo na tempestade”.
Depois de dobrar a aposta, ele entendeu o propósito. Com a alma vendida, não tinha muito mais o que oferecer para si mesmo e seguiu. Entendeu, em parte, que aquele fardo seria carregado para sempre. Mais perdido que nunca, em meio aos contornos cotidianos, aceitou a derrota. A estrela solitária, mais uma vez falou: “não saia daqui, te darei abrigo na tempestade”.
Caíram juntos de novo. Caíram juntos pela terceira vez. “Posso desistir e viver outra vida”, pensou, mas a dívida já estava firmada, autenticada em cartório e sem prazo de validade. Achou que o fim estava próximo, sem visão de horizonte ou previsão de futuro. Tudo iria acabar afinal, mas a estrela apareceu: “não parta”, falou calmamente, “te darei abrigo na tempestade”.
Do nada, tudo virou, vingou. Os caminhos se abriram. Era a hora, a hora da estrela solitária. Tudo indicava que venceriam. Jogando em casa com três gols a mais, “esse título está garantido”. Piscaram e perderam para eles mesmos. Ele pensou que de todas as possibilidades, firmou compromisso justamente com a estrela mais azarada de todas. Resiliente, perguntou: “posso ficar aqui? Preciso de abrigo na tempestade”.
A estrela olhou com desconfiança, mas, sem esperar a confirmação, ele continuou. Não foi uma negociação tranquila, mas o futuro reserva confortos que o presente não prevê. Campeões da Libertadores. Campeões do Brasileirão. “O que mais eu poderia querer?”, pensou. A estrela respondeu: “Calma, a tempestade ainda não chegou”.
Conta paga, caminho livre para outras aventuras. “Este mundo não basta, outros caminhos precisam ser traçados”. De um lugar morto, Igor Jesus ressuscita o futebol, o esporte. “Não precisa agradecer, estamos aqui para isso”, pensaram.
Ganharam o universo, mas perderam o mundial. Perderam para eles mesmos, de novo. Ainda sem entenderem o que aconteceu, olharam para os demais que buscavam a própria salvação e falaram: “sejam bem-vindos, te daremos abrigo na tempestade”.
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