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ABELARD PAIVA DE ABREU, UMA VIDA DEDICADO AO FUTEBOL

30 / junho / 2025

por Marcos Vinicius Cabral

Abelard (segundo da esquerda à direita) começou a escrever sua linda história no Maracanã sendo gandula

O Maracanã, que completou 75 anos no dia 16 de junho, foi palco da decisão do Campeonato Brasileiro de 1980, recebendo craques como Zico, Reinaldo, Raul, Toninho Cerezo, Junior, Palhinha, Carpegiani, Éder, Adílio e Andrade, num jogo eletrizante, que terminou com a vitória do Flamengo e a conquista de seu primeiro campeonato nacional.

Junto desses craques, adentrou o gramado, pela primeira vez em sua vida, Abelard Paiva de Abreu. Abelard não jogou, mas cumpriu com maestria sua nobre função de gandula do clássico e desde então, nunca mais ficou muito distante do tapete verde.

Funcionário da Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro (Suderj), Abelard recebeu esse nome, escrito com “d” mudo, de seu pai, também ele um antigo funcionário da Suderj, que pretendeu com isso homenagear Abelard França, dirigente da Federação Carioca e ex-presidente do Maracanã, falecido em 1973.

– É difícil ver um nome como o meu. Não conheço nenhum. Acho que sou único! – gaba-se.

Abelard, apesar da pouca idade, era compenetrado em seu trabalho, mas não escondia a alegria e o orgulho de ser rubro negro:

– Comecei muito pequenininho a ser gandula no Maracanã. Tinha oito, nove anos e, mesmo sendo uma criança, era uma emoção muito grande. Lembro que toda vez que eu entrava em campo com os outros gandulas, a gente ia até o meio-campo saudar a torcida. Eu tremia, ficava super nervoso e me sentia importante quando os torcedores nas arquibancadas batiam palmas para a gente. Havia naquele simples gesto, um pertencimento que para nós, simples crianças, era muito importante. A sensação que, pelo menos eu tinha, era de termos sido escolhidos para assistir jogos memoráveis como vários craques por perto. Eu dava bola para Leandro, Junior, Tita, Adílio, Zico… sabe o que é isso? Até hoje, passados tantos e tantos anos, lembro dos times entrando em campo, cada um em um túnel, o grito das torcidas e a chuva de papel picado. Ficávamos deslumbrados com aquilo. Até hoje lembro daquele primeiro título em cima do Atlético Mineiro. – recordou.

Passados 45 anos, Abelard não comparece mais à beira do gramado como gandula, nem nas arquibancadas como torcedor. Dá plantão no 22° andar da Suderj, na Avenida Presidente Vargas, no Centro, onde trabalha de segunda a sexta-feira, mas não se esquece do olhar maravilhado daquele menino cheio de sonhos.

Aos poucos vai juntando as lembranças que viveu no Maracanã e que o tempo, antagonista de uma história com final feliz, não foi capaz de apagar.

Ainda hoje, vira e mexe, contempla em algum lugar do passado a cabeçada de Rondinelli na final contra o Vasco, em 78; o balaço de Leandro no Fla-Flu de 85; e a falta perfeita de Petković, no ângulo de Hélton, arqueiro cruzmaltino, em 2001. Jura de pés juntos que foram as maiores alegrias vividas no estádio.

– Foram as três maiores emoções que senti aqui no estádio! – garante.

Embora o coração tenha batido mais forte pelas emoções que o Flamengo lhe proporcionou, Abelard pensa na história que construiu na Suderj e no saudoso pai Caliedônio Cândido de Abreu, que faleceu em 2021, toda vez que faz parte do quadro móvel para trabalhar nos jogos.

– Convivi mais com meu pai no Maracanã do que em casa. Na verdade, como foi o único emprego dele, ele morava praticamente no estádio e ia pouco em casa. A nossa relação de pai e filho acabou se tornando uma relação de trabalho, já que ele me apresentou a todos os funcionários e me ensinou tudo sobre o Maracanã. Por ser um sujeito tão querido, os amigos dele passaram a ter o mesmo carinho por mim. O tempo passou, Seu Caliedônio se aposentou, adoeceu e eu continuei trabalhando na Suderj. Estive fora um tempo e voltei em 98 para nunca mais sair.

Atualmente, Abelard é servidor público da Suderj e trabalha no Centro do Rio

Sobre o pai, abre o coração e faz uma confissão:

– Sinto a presença do meu pai em todos os jogos em que vou trabalhar no quadro móvel do Consórcio Fla-Flu. Seja no portão ou em outra função dentro do estádio, sempre estou com o Seu Caliedônio ao meu lado me instruindo, me aconselhando, me indicando a fazer a coisa certa. Quando chega o fim de mais um jogo, converso com meu pai em silêncio e agradeço por ter me iluminado naquela noite. Trabalhar no Maracanã não é fácil, mas com meu pai ao meu lado, acaba sendo possível.

Casado com Renata Leitão de Abreu, pai de Amanda Leitão de Abreu e morador de Itaipú, Região Oceânica de Niterói, Abelard quer apenas que as lembranças do Flamengo e do saudoso pai Caliedônio sejam mantidas para sempre no seu coração, do mesmo jeito como guarda no coração a última vez que foi gandula em uma partida de futebol no Maracanã.

– Foi no jogo contra o Santos, na decisão do Campeonato Brasileiro de 83, despedida do Zico, antes dele ir jogar na Udinese. Eu estava com 12 anos e vencemos por 3 a 0. Foi o mais marcante para mim! – finalizou.

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