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NIELSEN, O GOLEIRO MÃO QUENTE

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Felipe de Lima | fotos e vídeo: Daniel Planel 

Nielsen é o melhor goleiro do Brasil. Essa era a opinião de qualquer pessoa que minimamente conhecia futebol lá por volta dos primeiros anos da década de 1970. O rapaz era o titular dos juvenis do Fluminense e da campeoníssima seleção de novos. Não havia, naquela época, nenhum outro garoto no arco melhor que ele. Nem no Flamengo e tampouco no Vasco ou no Botafogo. Só para falarmos de Rio de Janeiro. Nielsen era mesmo o melhor. Mas o destino não permitiu que o jovem talentoso fosse mais do que realmente merecia embaixo das traves. Era a promessa, mas os dirigentes tricolores o seguraram, impedindo-o de alçar voos maiores no começo da carreira.


Foi grande, sem dúvida, um campeão na Máquina Tricolor e no Flamengo do Zico, porém poderia ter sido ainda mais gigante caso não tivesse também nascido em uma geração de grandes arqueiros brasileiros e sofrido um revés contratual com o Flamengo no final dos anos de 1970. Azar? Essa palavra definitivamente jamais fez parte da vida pessoal e da carreira do Nielsen, que teve no pai, um apaixonado torcedor do América, sua maior referência em toda a existência. Um espelho, como o do magistral samba do João Nogueira: “Eh, vida voa/ Vai no tempo, vai/ Ai, mas que saudade/ Mas eu sei que lá no céu o velho tem vaidade/ E orgulho de seu filho ser igual seu pai”.

O goleirão fez de sua camisa verde e preta um símbolo incomum de sorte. A mesma sorte de ter tido um pai maravilhoso que o ensinou ser um grande filho e… um grande pai.

Com aquele pedaço de pano verde com retalhos pretos, espantara o azar para sempre. Não há parâmetro na história do futebol mundial do que foi capaz aquela camisa do Nielsen, que está para o futebol como a veste rubra de Cristo inspirou o roteiro de cinema do famoso “O Manto sagrado”, obra-prima dirigida por Henry Koster, em 1953. A verde e preta do Nielsen operou milagres tão intensos quanto aquele manto vermelho que cobriu a personagem do estupendo Richard Burton na telona.


Nielsen vestiu-a com galhardia no Fluminense, no Flamengo, no Vasco, no Botafogo e derradeiramente no São Cristóvão. Ainda jovem, com trinta e poucos anos, foi treinar outros goleiros. No Vasco, Acácio, seu pupilo, também a vestiu. O mesmo fez o saudoso Zé Carlos, no Flamengo. E com a surrada, porém mágica camisa verde e preta do Nielsen, o arqueiro fechou o gol e o Rubro-negro foi tetracampeão brasileiro em 1987. Foi Nielsen quem fez do Vágner, do Botafogo, um goleiro extraordinário. Levantou-o quando ninguém mais acreditava nele. Com essa injeção de ânimo do Nielsen, Vágner fechou o gol e o Alvinegro foi campeão em 95. E Taffarel? Com ele, Nielsen fez o mesmo e o Brasil voltou a ser o maior.

Deixe estar, Nielsen, que Gylmar dos Santos Neves, o seu ídolo, está muito orgulhoso de você. Afinal, qual goleiro, além de você, foi tão “mão quente”, tão iluminado pelo destino? Tão fantasticamente verde e preto? Ao contrário do desfecho do samba do João Nogueira, você jamais teve medo de o espelho se quebrar. Ele nunca quebrou… nem quebrará.