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O ARTILHEIRO QUE CALOU OS GRANDES

entrevista e texto: Paulo Escobar

Na cidade de Tatuí, Adhemar começou seus passos na várzea e era lá que ele corria atrás da bola, foi lá que de uma bola medicinal encontrada chutava com um amigo e foi com aquele peso que adquiriu a potência que viria a ter no seu pé direito.

Até chegar ao São Caetano foram duros os passos e a estrada longa, jogando a terceira, a segunda até serem campeões e num fato inédito levar um time de uma cidade pequena do ABC Paulista a primeira divisão do Brasileiro. Não é fácil ser time dito pequeno no Brasil, pois tudo joga contra tanto dentro como fora de campo, é desigual em todos os sentidos.

Nem todos são reconhecidos no futebol e muitas vezes a grandeza e visibilidade dependem do time onde se joga, nem todos querem jogar nos ditos pequenos e muitos somente olham pra cima. O time dito pequeno, e digo sempre dito pequeno pois pra sua torcida é grande e com razão, muitas vezes é visto somente como aquele de passagem e se a identificação já é rara nos ditos grandes imagina nos ditos pequenos.

Aquele São Caetano que empolgou pelo seu futebol bem jogado e por aqueles que até então eram desconhecidos, mas que se dispuseram a jogar de igual a igual com todos, chegou a jogar um futebol ofensivo com três atacantes. Naquele ataque em que Adhemar fez cada golaço e que fez chorar mais de algum torcedor dos times ditos grandes, era um baixinho que incomodava e que acreditava em praticamente todas as jogadas.

A tal Copa João Havelange foi o reflexo do que é um time dito pequeno lutando contra tudo e todos, se fez de tudo para evitar o título do São Caetano. E matando um leão por jogo é que o Azulão chegou a final, inclusive numa semifinal num Maracanã com 90 mil torcedores do Fluminense na qual Adhemar faz aquela pintura de falta calando a torcida e eliminando o tricolor carioca. Como o próprio Adhemar diz:

– Três pessoas calaram o Maracanã, Ghiggia, o Papa e Adhemar!

Naquela final contra o Vasco que tinha um belo time, e que também do lado de fora tinha o Eurico, que fez de tudo em São Januário, desde pintar o vestiário do visitante um dia antes, o cheiro forte de tinta, mandou trancar a porta do vestiário e colocar mais torcedor do que o estádio comportava e assim contribuiu na tragédia que feriu muitos naquele dia. O jogo que só voltaria a ser jogado em 2001 com um time modificado do São Caetano pois muitos tinham sido vendidos, com este time remendado perderam a partida, que talvez fosse diferente se jogado no dia da tragédia no Maracanã e não em São Januário.

Naquele ano Adhemar foi artilheiro com 22 gols de um Brasileiro que tinha Romário, Tulio, Washington, Magno Alves e tantos outros. Jogou com o coração e cada jogo como se fosse o último, conseguiram unir corintianos, são paulinos, palmeirenses e santistas nos mesmos estádios.

Adhemar era o artilheiro inesperado, era aquele que os prognósticos não contavam e que nos começos de campeonato não estava sendo comentado nos jornais esportivos. Poderia ter chegado na seleção, não deixou a desejar a nenhum outro, mas os bastidores do futebol talvez impediram isso, pois tinha mais gols e era mais eficiente na época que Luizão que tinha sido convocado por Felipão.

Adhemar com seus gols contra os grandes, acredito que teve que matar um leão por jogo, que com força no pé e na alma teve que balançar e calar estádios e previsões que muitas vezes os colocavam como Zebra. Invadiu a festa dos grandes artilheiros nos tempos em que os atacantes não tinham medo de gols, e foi assim que contra tudo e contra todos colocou seu nome entre os artilheiros do brasileiro.

Daqui a 50 anos ao abrir qualquer documento ou sites pra consultar os artilheiros dos campeonatos você vai ver Adhemar, que vestiu a camisa de um dito pequeno, que calou multidões e honrou a camisa do Azulão. Lembra de quantos artilheiros de campeonatos de times ditos pequenos tem na história? Então Adhemar é um deles, e lá o seu nome foi escrito e marcado.