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MEU ENCONTRO COM O REI

por Rodrigo Linhares

Nesses meus 41 anos de vida, posso cravar com absoluta certeza que jamais me esquecerei do do dia 18 de agosto de 2017.

O frio da capital paranaense contrastava com a minha inquietação para que chegasse logo o momento da entrevista. Marcamos entre 18h e 18h30. Pelé me atenderia no intervalo entre dois eventos em que estaria presente. Na cidade desde quinta-feira, a maratona do Rei só terminaria no final da tarde de sábado. Hospedado na casa dos grandes amigos Henrique e Luciane, dos quais eu e minha esposa Daniela somos padrinhos de casamento, tomei um banho, almocei pouco e fiquei à espera do horário que parecia não chegar nunca. Henrique se dispôs a me levar até hotel onde aconteria a entrevista. Saímos por volta de 17h e, durante o trajeto de aproximadamente 20 minutos, muitas coisas me passavam pela cabeça: os primeiros entrevistados, a luta para conseguir todas essas entrevistas exclusivas, a dificuldade para localizar e convencer personagens de todas as partes do mundo a participarem do programa. Tudo é extremamente trabalhoso. Entre conseguir os contatos, fazer com que grandes estrelas atendam ligações de número que não conhecem, convencê-los a marcar o bate-papo e, enfim, cumprirem a promessa de gravar a entrevista existe uma luta que exige perseverança, paciência e muito poder de persuasão. Costumo dizer que as pessoas não têm a dimensão da dificuldade que envolve todo esse processo. Uma luta solitária. Neurotizante? Sim, porém, igualmente gratificante. Entrevistar meus ídolos não tem preço, é um imenso privilégio. De repente, estava a caminho para entrevistar o maior de todos os tempos. Ainda tentava me dar conta disso.

Chegando ao hotel, o evento ainda não havia terminado. Entrei na sala e vi Pelé em meio a um mar de participantes pedindo fotos e selfies. Conforme o combinado, subimos para o quarto onde seria montado todo o aparato para a gravação. Estávamos o meu amigo Henrique, que também faria as fotos, dois câmeras que contratei para fazerem o vídeo e eu. Tudo montado, era só esperar o Rei do futebol chegar.

Passados cerca de 40 minutos, ele chega. Ainda se locomovendo com a ajuda de um andador após tantas cirurgias, Pelé abre a porta. Naquele momento ficamos todos paralisados. O Rei logo dá uma boa noite, prontamente respondido por todos. Levanto e me apresento:

– Tudo bem, Pelé? Sou o Rodrigo Linhares, de Londrina-PR, eu que vou entrevistá-lo!

Ele já quebra o gelo e brinca comigo:

– Tudo bem nada, Rodrigo! Vocês estão aqui me dando trabalho, entendeeee! – E abre um largo sorriso, provocando o riso geral.


Poderíamos gravar no sofá ou nas cadeiras. Pelé opta pelas cadeiras, argumentando ser mais fácil para se levantar depois do bate-papo. Sentamos e conversamos enquanto são colocamos os microfones de lapelas e os câmeras ajustam os últimos detalhes de foco e luz.

Engatamos na prosa.

– Rodrigo! Tem um engenheiro que trabalha comigo que também se chama Rodrigo. É praticamente da família.

– Que bom, então não terá como você se esquecer do meu nome durante a entrevista (risos).

– Não, ainda estou bem de memória (risos).

– Pô, quando você vai parar de dar susto na gente com essa ida aos hospitais?

– Rodrigo, estou lucro. A conta só chegou quase 30 anos depois que parei de jogar (risos).

Um dos câmeras interrompe. Podemos começar.

Já estava completamente à vontade ao lado do maior de todos.

Foram quase 20 minutos de uma entrevista que termina com um grande abraço.

Pelé se levanta e continua contando histórias enquanto o microfone é retirado de sua lapela:

– Gente, sempre tomo um cuidado danado com esse negócio de microfone. Uma vez em um programa estávamos Tostão, Gérson e eu. Já havíamos terminado e mesmo assim vazou no ar um monte de bobagens que estávamos falando! – contou, rindo.

Nos despedimos e fomos embora. Estava nas nuvens, vivendo ali a coroação de todo um trabalho. Me propus contar no rádio a história do futebol através da própria história, ou seja, ouvindo os protagonistas. Havia acabado de entrevistar o maior de todos e realizado um sonho.

Ainda estou me beliscando. Caramba, entrevistei o Rei! Impossível descrever a sensação de ter vivido aquele momento.

Meu muito obrigado a todos que colaboraram em toda essa caminhada. Obrigado, meu Deus.

Carregarei para sempre as lembranças de cada instante vivido naquele dia.

Jamais me esquecerei do dia 18 de agosto de 2017…