A FORÇA E A TRADIÇÃO DO FUTEBOL CAIPIRA
Se hoje os times do interior paulista estão dando show no campeonato estadual, batendo de frente com os times considerados grandes, há aproximadamente 50 anos as disputam eram ainda mais acirradas e o craque Gatãozinho relembrou aquela fase maravilhosa do nosso futebol. Em uma resenha muito bacana com o parceiro Kal Mattus, na sua casa em Piracicaba, o ex-jogador passou a limpo a sua carreira e fez uma verdadeira viagem no tempo.
Meia-esquerda habilidoso, filho do centroavante Gatão (ex-Corinthians), Gatãozinho é o jogador que mais vezes vestiu a camisa do São Bento, com 367 partidas disputadas e garante que vai ser difícil ultrapassarem:
– Hoje em dia, o campeonato tem 20/30 jogos e os jogadores fazem contrato de 1 ou 2 anos, no máximo! É muito legal esse reconhecimento! O clube sempre me liga para convidar para as festas e relembrar esse feito!
No São Bento, foram sete anos de contrato, de 74 a 81, e, segundo o próprio, muita regularidade:
– Eu não era um super craque, mas eu era um jogador muito regular, não me machucava! Sempre com uma boa condição física e é por isso que eles me adoravam!
Após construir uma linda história no clube, foi em busca de novos desafios e se transferiu para o Juventus-SP, onde ficou por mais sete anos e não demorou a cair no gosta da torcida. Logo no primeiro ano, conseguiu a façanha de participar de todos os 38 jogos da temporada e, por isso, recebeu um carro de presente da diretoria. Não por acaso, Gatãozinho foi escalado na seleção de todos os tempos do Juventus e conquistou a Taça de Prata por lá!
Tudo andava muito bem no clube, até que surgiu uma excelente proposta do Bragantino, que estava montando um elenco forte e precisava de um jogador experiente. Apesar do desejo da diretoria em manter o craque no Juventus, Gatãozinho viu o projeto com bons olhos e arrumou as malas para um novo desafio.
Comandado por Luxemburgo, fez parte daquele time que tirou o Palmeiras da fase final do estadual de 1989 e tinha como companheiros: Zé Rubens (ex-Guarani), Gil Baiano, Valmir (ex-Ponte Preta), Mário (ex-Guarani), entre outros.
Foi em Bragança, inclusive, que Gatãozinho viveu uma das maiores emoções da sua carreira:
– Naquele que seria o último jogo da minha carreira, meu pai estava no estádio, eu fiz o gol da virada do Bragantino e fui lá no setor em que ele estava comemorar! Foi uma emoção muito grande ouvir o estádio cantando meu nome!
A emoção foi tanta que Gatão Pai passou mal e precisou de atendimento médico:
– Sorte que eu só soube disso depois da partida! Caso contrário, ia perder a concentração! – lembrou Gatãozinho.
Muitos não sabem, mas o Braga até tentou fazer a cabeça do craque para continuar jogando por lá. Contudo, a proposta não agradou e o São Bento apareceu novamente no caminho dele para um final de carreira digno.
No apagar das luzes da resenha, Gatãozinho revelou que seu pai nunca fazia elogios ao seu desempenho. Mesmo quando fazia chover, Gatão Pai conseguia achar algum ponto para criticar. O que Gatãozinho não sabia, no entanto, era que tratava-se de uma forma de incentivar:
– Quando ele falou “Você representou muito bem a nossa família! Você foi um orgulho pra mim” foi um dos dias mais emocionantes da minha vida!