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A MÁQUINA TRICOLOR, SEPP MAYER E A ESTREIA DE PC CAJU

25 / maio / 2020

por Valdir Appel


Eu e meu pai, subimos a rampa do Mário Filho e assumimos uma posição privilegiada nas arquibancadas, pertinho daquela linha imaginária que costuma dividir as torcidas rivais nos dias de clássico. Linha desnecessária porque era noite de uma torcida única, exceção para meu pai e eu, dois torcedores sem bandeira, ávidos por um grande jogo de futebol.

No gramado, os times saúdam os torcedores e os craques se cumprimentam antes do pontapé inicial do amistoso internacional promovido pelo Fluminense contra o Bayern de München, base da seleção alemã, Campeã do Mundo em 1974.

É a estreia de Paulo César Caju na “máquina”, repatriado junto ao Olimpique de Marselha. É o “pó de arroz” se preparando para o bicampeonato após a conquista da Taça Guanabara.

O espetáculo atrai um público soberbo, muito acima do previsto, e a administração do estádio acaba liberando a entrada de milhares de pessoas sem ingresso.

Bola rolando.

Desde o começo o Fluminense é só pressão. Tem o domínio da meia-cancha, é agressivo, brilhante. Entusiasma até quem não torce por ele.

Apenas um “chucrute” não quer ser coadjuvante do show de bola aplicado pelos bailarinos do presidente Francisco Horta, é o goleiro alemão Sepp Mayer, destaque do Die Bayern, como é conhecido o timaço europeu.

Rivelino dá um elástico na entrada da área e toca a bola para Cléber que invade a área. Mayer sái fechando o ângulo. Cléber desloca o goleiro com um toque sutil, mas sem endereço e a bola caprichosamente encontra as canelas de Gerd Müller – centroavante do Bayern que voltara para marcar no escanteio – indo para o fundo da rede.


Gol contra do artilheiro da Copa de 74.

E é só o comecinho da partida.

Um time dá espetáculo, o outro se defende. Aliás, Mayer defende. A facilidade com que detém os disparos, sempre bem colocado, é de arrepiar.

Meu pai, que no passado também fora goleiro, vibra muito, aplaude e não contém o comentário ácido:

– Isto sim é que é goleiro, não estes merdas que a gente vê por aí!

Sorri concordando, com uma pontinha de inveja. Ele nem se lembrou que o filho também era goleiro.

Segundo tempo, réplica do primeiro. O show de Mayer continua. Defesas incríveis, seguras. Feitas com tanta simplicidade que irrita os atacantes do Fluminense e delicia quem vê.

Cafuringa, que nunca fez gol em ninguém, invade a área na vertical, ameaça o chute uma, duas vezes, cortando sempre para a direita. Quando vai fazer o disparo final, Mayer se projeta aos seus pés, dá um tapa com a mão espalmada e arremessa a bola pela linha de fundo.

O alemão ergue-se rápido e desafia:

– Mann, hier nicht!

Os astros Beckenbauer, o Kaiser Rumenigge, Kapelman assistem impotentes à exibição de bola de Rivelino, Marco Antonio, Mário Sérgio. O magro marcador construído na etapa inicial é pequeno e não espelha a superioridade do futebol jogado pelos astros das Laranjeiras.

O espetáculo termina. O público aplaude de pé, inclusive Herbert e eu.

A vida inteira e até o fim dela, meu pai não perdeu uma única oportunidade de descrever para os amigos as defesas daquele que para ele foi o maior goleiro do mundo.

(Amistoso internacional. Dia 10 de junho de 1975 para um público pagante de 60.137 torcedores. Fluminense 1 x 0 Bayern München Local: Maracanã. Árbitro: Arnaldo César Coelho. Renda de Cr$ 1.162187,50. Gol: Müller contra, aos 7 do 1º tempo.

Fluminense: Félix, Toninho, Silveira, Assis, Marco Antonio, Zé Mário, Cléber, Cafuringa, Paulo César (Manfrini), Rivelino e Mário Sérgio.

Bayern: Maier, Durnberger,Schwarzenbeck, Beckenbauer, Weiss, Roth, Tortensson, Rumenigge, Zobel, Müller e Kapell .                                                                                    

(Glossário pra quem não sabe nada de futebol: Mário Filho = Maracanã; máquina, pó de arroz, tricolor das Laranjeiras = Fluminense; Die Bayern = Os Bárbaros; chucrute = alemão; Mann, hier nicht! = Cara, aqui não!; Kaiser = Imperador)de arroz, tricolor das Laranjeiras = Fluminense; Die Bayern = Os Bárbaros; chucrute = alemão; Mann, hier nicht! = Cara, aqui não!; Kaiser = Imperador)

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