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Fluminense

O EFEITO MARCELO

por Zé Roberto Padilha

Aconteceu comigo, Cleber, Pintinho, Erivelton, Edinho, Rubens Galaxe, Abel Braga e toda a nova safra tricolor que se apresentava ao profissional. Em 1974, jogávamos direitinho. Quando Roberto Rivellino, PC e Mario Sérgio chegaram, um ano depois, passamos a jogar em um nível que nem sabíamos ser possível alcançar.

Como um sarrafo técnico que sobe, e você tem que ultrapassá-lo caso contrário retorna para o juniores, jogar ao lado da genialidade lhe inspira a buscar o seu melhor.

Se o hotel mudou, de duas estrelas (Paineiras) para cinco estrelas (Nacional), se o Torneio de Joinvile foi substituído pelo Torneio de Paris e se trinta mil pagavam ingressos e triplicou o número de torcedores que iam nos ver jogar, por que seu futebol não alcançaria um patamar acima?

Hoje, a nova geração tricolor vai ter o Marcelo ao lado. Se Nino, André, Martinelli, Alexsander estavam jogando bem, fico a imaginar o que vão jogar com tamanha inspiração ali ao lado.

O modo do aspirante se expressar diante de um ídolo que admira é jogar um futebol à sua altura. Seu cartão de boas vindas será um domínio perfeito, um lançamento correto e um drible que leva um recado na etiqueta: da fábrica Xerém, que lhe formou, somos do último lote.

Com a chegada de Rivellino, PC e Mario Sérgio, nós fomos inspirados a transformar um time em uma Máquina.

À ESPERA DOS ROYALTIES DA “TOQUEIRA”

por Zé Roberto Padilha

Trabalhei em Xerém de 1987 a 1990. Foi minha primeira experiência como treinador. Comecei no Sub-15 e sua base vinha toda do Futsal do Fluminense.

Logo percebemos que seus dribles curtos, espaços reduzidos e nem um só chutão constratavam com a imensidão de um campo de futebol. Como adaptá-los em um espaço três vezes maior?

Embora ralasse como todo mundo, embarcasse de Três Rios no ônibus das 5h30 e retornasse no das 14h30, tinha na volta, pela inspiradora Serra das Araras, duas horas para elaborar uma solução. Que treinador teria essa paz para raciocinar e buscar saídas?

Dia seguinte, pedi para que fosse pintada duas linhas intermediárias paralelas ao meio campo, dividindo aquela imensidão a três quadras que deveriam ser ordenadamente ocupadas.

Todos próximos e as ocupando com suas habilidades sob o comando dos números 5 e 10. Era bonito de ver a “toqueira”, assim falavam, que davam nos adversários.

Na quadra central, era obrigatório dar dois toques para quando a linha ofensiva fosse alcançada a liberdade de criação respeitada. Aí nascia a base do Tic Tac, dez anos antes do Guardiola e trinta anos antes do Dinizismo.

A “Tríplice Ocupação com Dupla Função” foi o fascículo inicial, que acabou no trabalho tático 5 5 Reversível, publicado pela Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro. E realizamos palestras de lançamento no Salão Nobre do Fluminense.

Depois de levantar os títulos estaduais Sub-15, 87, Sub-17 em 89, e próximos da Taça São Paulo, de 90, de apresentar a novidade em uma cobiçada vitrine, fomos demitidos. A gestão Arnaldo Santiago não era de vanguarda como a de Mario Bittencourt.

Nossas testemunhas são das safras 72, 73, 74 e 75. Habilidosas cobaias, como Renatinho, Mário Alexandre, Vlamir, Nilberto, Magaldi, Wallace e Cia. não querem discutir se foram os Irmãos Wright ou Santos Dummont que colocaram os aviões no ar.

Querem saber quando seu treinador, hoje servidor público municipal, vai receber os royalties por bolar um sistema tático que colocava seus adversários na roda?

TUDO QUE SOBROU DA INFÂNCIA

por Paulo-Roberto Andel

O Maracanã, onde minha cabeça rola e não cria limo.

Onde os abraços são sinceros.

Desde muito pequeno, minha vida teve o Maracanã. Eu gostava muito mais do outro, mas o de hoje é o que me resta.

Quantas pessoas sofrendo, doentes ou à beira da morte estiveram nesta noite no Maracanã?

E suas crianças que brincavam e riam, ainda por entender aquele cenário.

Eu, que já vi e vivi muita coisa, nunca tinha sido bicampeão da Taça Guanabara no estádio. Fui pela primeira vez.

Vi pessoas se abraçando, jovens dançando, crianças sorrindo, gritos, cantos.

Vi todos os meus mortos, aqueles que procuro lá há tempos, aqueles que me deram alegrias em campo e os heróis anônimos, que me ofereceram Coca-Cola, sanduíche, biscoito.

Eu procuro meus pais, meus amigos, as pessoas que me abraçavam de verdade e se importavam comigo. A grande nuvem branca de pó de arroz e centenas de bandeiras.

Eu procuro por Edinho, Assis, Cláudio Adão, Rivellino, por Gilberto e Mário, por Miranda e Zezé.

Uma noite de alegria no Maracanã faz a gente esquecer um pouco das dores, da humilhação, da opressão, do sofrimento que não é pouco.

Tudo que sobrou da infância é o Fluminense. Por isso, eu o persigo. Por isso, o Fla x Flu foi glorioso.

@pauloandel

O ÍDOLO SAMARONE

por Elso Venâncio, o repórter Elso

Em Pé: Oliveira, Felix, Denilson, Galhardo, Assis e Marco Antonio | Agachados: Cafuringa, Didi, Mickey, SAMARONE e Lula

Samarone foi um Ídolo no Fluminense. Chegou ao clube com 18 anos, contratado por 60 milhões de cruzeiros junto à Portuguesa Santista. A moeda mudou, mas pode acreditar, era muito dinheiro! Na época, Carlos Alberto Torres, o ‘Capitão do Tri’, era a maior transação da história do nosso futebol. O Santos pagou 200 milhões para tirar o já consagrado lateral das Laranjeiras.

Em algumas conquistas do Tricolor, Samarone foi destaque absoluto. Como, por exemplo, a Taça de Prata de 1970, que era o Campeonato Brasileiro naquele tempo. Por sinal, muitos o consideram o mais difícil de todos os tempos, por contar com os tricampeões do mundo, que haviam vencido a Copa do México, logo após a conquista e posse definitiva da Taça Jules Rimet.

Félix, Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antônio; Denilson e Didi; Cafuringa, Flávio (Mickey), Samarone e Lula. Contundido, Flávio Minuano não pôde jogar as finais. Mickey, seu substituto, marcou gols decisivos nos últimos jogos. Inclusive o do título.

Esse grupo também foi campeão carioca em 1969 – naquele Fla-Flu que terminou 3 a 2 para o tricolor e o imortal Nelson Rodrigues teceu como o maior clássico de todos os tempos, dizendo que ‘vivos e mortos saíram de suas tumbas’ para juntos irem ao Maracanã. Além de vencer o Estadual de 1971: 1 a 0 no Botafogo, time que por contar com tantos craques era chamado de ‘Selefogo’.

O sinal da Rádio Globo ecoava forte no Maracanã. Torcedor com o radinho de pilha colado no ouvido, o locutor Waldir Amaral ressoou para todo o país:

“São cinco horas e trinta e dois minutos na mais linda cidade do mundo. Rio, capital mundial do futebol. Domina no peito Samarone, o catimbeiro Samara, lança Lula em diagonal e… gol!!! Lula, 11 é a camisa dele. Indivíduo competente o Lula. Tem peixe na rede…”

Denilson, o ‘Rei Zulu’, usava a braçadeira de capitão e tinha moral, por ter disputado a Copa de 1966, na Inglaterra. Só que o líder da equipe era mesmo Samarone. Até controlar a arbitragem ele fazia como ninguém.

Armando Marques, o número 1 do apito, chamava todos os jogadores pelo nome e sobrenome:

“Senhor Wilson Gomes (Samarone), o senhor está passando dos limites. Pare já de gesticular!”

Raçudo, de meias arriadas e com dribles curtos, peito estufado e cabeça erguida, Samarone obrigava Cafuringa e Lula a dar inúmeros piques em direção ao gol adversário. Irrequieto, numa ocasião cometeu falta dura no violento e temido zagueiro Moisés, o ‘Xerife’. Waldir Amaral alertou:

“Estão mexendo no formigueiro…”

Mário Vianna, ‘com dois enes’, comentarista e ex-árbitro, era uma espécie de VAR: decidia o que estava certo ou errado com o microfone. De repente, ele decretou:

“Tem que expulsar! Armandinho, Armandinho… eu vou descer! Vou descer!!!”

Os geraldinos reagiam na hora. Uns a favor, outros contra.

De repente, Flávio Minuano perde um gol. No ato, Samarone reclama:

“Não pode! Gol feito!!!”

Minuano, um dos grandes artilheiros do futebol nacional, retrucou na mesma hora:

“Vai tomar no seu c*…”

Tempo bom aquele… Eram tantos craques com a camisa 10: Pelé, Tostão, Gerson, que trocara a 8 pela dez, Silva Batuta, Ademir da Guia, Rivellino, Dirceu Lopes, Edu, enfim, ficava difícil para o técnico da seleção convocar Samarone. Aliás, naquela época o país parava para ouvir e discutir os relacionados. Hoje, o torcedor está a cada dia mais frio e distante da seleção que por tantas décadas foi uma verdadeira paixão nacional.

O BOM FILHO… VOCÊ SABE!

por Zé Roberto Padilha

O Fluminense tem sido um grande laboratório de craques. Rodolfo, Diego Souza, Thiago Silva, Carlos Alberto, Roger, Jean, Andre..

Eles chegam em Xerém por volta dos 13 anos, superam peneiras, jogam todas as divisões de base e são revelados na Copa São Paulo de Juniores.

Depois, ganham o mundo. Poucos chegam ao Real Madrid ou ao Barcelona.

Marcelo é uma dessas joias raras que deixou o tricolor para ocupar a lateral esquerda do clube espanhol. Desde sua chegada, os cruzamentos sobre área foram substituídos pelas assistências. Os chutes para a frente deram lugar ao sair tocando a bola, e o seu domínio revelou momentos de absoluta cumplicidade.

Fora seu inesgotável arsenal de dribles que desmontam retrancas adversárias.

Pep Guardiola, quando lançou seu Tic Tac, chegou a sonhar com ele para se juntar a Daniel Alves, Iniesta, Xavi, Rakitic e Messi, para alcançar um Dream Team.

Hoje, aos 34 anos, Marcelo retorna às Laranjeiras. No auge de uma idade em que a maturidade encontra atalhos para correr menos e produzir mais, ele será a cereja do bolo que o Fluminense servirá ao mundo do futebol.

Se ano passado o clube fez bonito, venceu o estadual e chegou em terceiro no Brasileirão, com Marcelo se credencia a disputar, em igualdade de condições, a Copa Libertadores da América.