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Seleção Brasileira

ESPECIAL 70 ANOS DA COPA DE 1950: OBRIGADO, HERÓIS BRASILEIROS!

por Marco Antonio Rocha


Quanto custa o bilhete de entrada para a galeria dos grandes do futebol? Se a resposta for a conquista de uma Copa do Mundo, então veremos Lionel Messi e Cristiano Ronaldo barrados na porta… E o que falar de Cruyff, Puskas e uma infinidade de outros gênios que encantaram multidões com seu talento? Durante a publicação da série especial sobre os 70 anos da Copa do Mundo de 1950, alguns amigos seguidores do Museu da Pelada questionaram por que não falamos dos brasileiros que formaram aquele time dos sonhos. Seria um pesadelo momentâneo capaz de perturbar seu sono durante anos, no caso de Barbosa até a morte, o mais indefensável dos chutes?

Não fosse a virada na decisão, aquele Brasil que pulverizou marcas e triturou adversários teria entrado para a história do futebol como uma das seleções de campanha mais irretocável de todos os tempos: 4 a 0 no México; 2 a 2 com a Suíça; 2 a 0 na Iugoslávia; 7 a 1 na Suécia (numa época em que esse placar não era sinônimo de vergonha para nós); e 6 a 1 na Espanha, com direito ao Maracanã cantando em uníssono “Touradas de Madri”, de Braguinha e Alberto Ribeiro – um carnaval fora de época, espécie de catarse pós Segunda Guerra Mundial que havia cancelado as Copas de 1942 e 1946.  

Coube a Ademir Marques de Menezes, craque do Vasco, o papel de artilheiro do Mundial, com nove gols em apenas seis jogos. Habilidoso e dono de um chute que beirava a perfeição, Queixada teve na Seleção a companhia de outros colegas de Expresso da Vitória, alguns deles que haviam, dois anos antes, conquistado o inédito Sul-Americano. Entre eles o mítico Barbosa, goleiro que ainda acumulou seis Cariocas e um Rio-São Paulo pelo clube. A lista de destaques brasileiros é extensa, com jogadores épicos como Jair Rosa Pinto, Chico e Zizinho.

Ex-Flamengo e São Paulo e, na época, jogador do Bangu, Zizinho atribuía aos bastidores grande parte da culpa pela derrota para o Uruguai. Tudo porque a delegação, a seis dias da final, trocou a tranquilidade da concentração no Joá pelo tumulto de São Januário.

– Era uma desconcentração, ninguém tinha tempo para nada. São Januário vivia cheio de gente. Não aguentava mais tanta bagunça. Eu quis largar aquilo na véspera da decisão! – revelou o ídolo:

– Em meses aconteceria a eleição presidencial. Entrava um político e saía outro. Era muita gente pedindo autógrafo, querendo tirar foto. Minutos antes da final, o prefeito Mendes de Moraes ainda discursou, dizendo que havia feito um estádio para nós e que exigia a vitória.

Outra passagem contada por Zizinho mostra como os jogadores, na verdade, foram vítimas, não vilões:

– Eu estava com o joelho inchado e eles nem cuidavam de mim. Depois do empate com a Suíça em São Paulo, o (técnico) Flávio Costa me disse que precisaria de mim, que eu teria de fazer um teste. Meu Deus, que teste? Mal podia andar… Puseram um remédio no meu joelho e lá fui eu. Segundo Augusto, nosso capitão, era um remédio para cavalos. Mas eu não acredito que fosse, porque um cavalo não aguentaria aquilo, não.

O ex-atacante jamais se furtou de recordar a decisão contra os uruguaios, mas preferia falar de samba, em especial da amizade com Wilson Batista, Ataulfo Alves e Walter Alfaiate. É de Alfaiate uma letra que, por linhas tortas, simboliza aquele jogo que começou na tarde de 16 de julho de 1950, mas parece não ter acabado: 

“Olha aí, toda a minha gente reunida; Parece que está bem decidida e que atingiu o seu ideal; Olha aí, veja a euforia como é grande; Note como o pessoal se expande, num gesto tão humilde e leal; Cante com vontade, minha gente, porque hoje já é carnaval; Em cada bloco havia um estandarte, em cada estandarte um dizer; Simbolizando que, nesses três dias, ninguém se lembraria como é o sofrer; Após a batucada pela rua, quarta-feira a vida continua”.

Obrigado, Barbosa, Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico!

SELEÇÃO BRASILEIRA DOS SONHOS

Luis Filipe Chateaubriand


Acompanho futebol desde 1978. Se, nesses mais de 40 anos, pudesse escalar a Seleção Brasileira de meus sonhos, esta formaria com: Leão; Jorginho, Leandro, Aldair e Junior; Falcão, Sócrates, Zico e Ronaldinho Gaúcho; Reinaldo e Romário.

Leão era o goleiro imponente e preciso. Agilidade incrível, reflexos apuradíssimos, visão acurada, liderança ímpar, era difícil de ser vazado.

Jorginho tinha grande vigor no apoio, mas também defendia com intensidade. Fazia ótimos cruzamentos e sabia se apresentar para tabelas.

Leandro poderia jogar em qualquer posição, mas especialmente como zagueiro central era fabuloso. Excelente antecipação, antevidência dos movimentos adversários, técnica para sair jogando.

Aldair conciliava uma técnica apuradíssima com grande vigor físico. Excelente na bola alta, também tinha um chute potente. Sabia aparecer na hora certa como “elemento surpresa” no apoio.

Junior sabia dominar a lateral esquerda, mesmo sendo de origem lateral direito, como poucos. Apoiava o ataque com vigor, fazendo de sua excelente forma física um trunfo. Sua técnica também se sobressaía em passes e lançamentos.

Falcão era a classe em forma de jogador de futebol. Domínio de bola fabuloso aliado a inteligência privilegiada, armava, atacava e defendia, sempre fazendo tudo com extrema perfeição e com a simplicidade que só os privilegiados possuem.


Sócrates era o pensador da bola. Concebia os lances antes que a esfera chegasse. De frente ou de costas, fornecia passes açucarados aos companheiros e decidia com proceder o desenlace das jogadas com uma frieza impressionante.

Zico se destacava tanto fazendo gols – dos mais variados tipos que se possa imaginar – como criando chances de gols para os companheiros – dos mais diversos tipos que se possa imaginar, também. Conhecimento perfeito do campo de jogo, coordenação motora privilegiada, repertório de jogadas diversificado, foi o maior jogador brasileiro que vi em ação.

Ronaldinho Gaúcho era a habilidade em forma de jogador de futebol. Domínio de bola perfeito, fazia coisas inacreditáveis com a redonda. Enquanto teve vontade de exercer a carreira na plenitude, foi de deixar os apreciadores do futebol boquiabertos.

Reinaldo era um êxtase de se ver para quem apreciava futebol. Toque de bola refinadíssimo, era uma vocação para o gol como quase nunca se viu. Seus gols eram de uma beleza fora do comum, particularmente os por cobertura. Era um atacante que se movimentava de tal forma que deixava os marcadores atônitos, e estes tiveram sorte de que seus joelhos lhe tenham abreviado a carreira.

Romário era o gol em forma de homem. Aliando uma habilidade incrível com um posicionamento na área impressionante, nunca houve alguém mais vocacionado para o gol do que ele. O apelido que ganhou de “gênio da grande área” não tinha nada de exagerado.

É claro que outros poderiam entrar no time, como os geniais Rivaldo, Careca, Ronaldo Fenômeno, Bebeto, etc. Mas vamos convir que este é um timaço. Ou não?

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

A BATALHA DAS BATALHAS NO DEFENSORES DEL CHACO

por Luis Filipe Chateaubriand


Em 1985, Telê Santana havia voltado à Seleção Brasileira, depois de efêmeras passagens pelo Escrete Canarinho de Carlos Alberto Parreira, Edu Coimbra e Evaristo de Macedo. Adepto do futebol arte que era, tratou de escalar formações com jogadores técnicos.

Nas Eliminatórias para a Copa do Mundo, a Seleção havia vencido a Bolívia por 2 x 0 nos domínios adversários, em Santa Cruz de la Sierra. Agora, jogaria com o Paraguai em Assumpção, e um bom resultado deixaria encaminhada a classificação para a Copa do Mundo de 1986.

O Brasil formou assim: Carlos; Leandro, Oscar, Edinho e Júnior; Toninho Cerezo, Sócrates e Zico; Renato Gaúcho (Alemão), Casagrande e Éder.

Jogo extremamente disputado e nervoso, com um primeiro tempo tenso. Mas o Brasil sairia na frente: Renato Gaúcho dominou a bola pelo lado direito do campo, correu com ela por essa mesma faixa e cruzou alto para Casagrande, na pequena área e de cabeça, estufar as redes.

Brasil 1 x 0.

Veio o segundo tempo, e a pressão guarani foi inevitável. Mas a Seleção sairia dela com um gol antológico de Zico, o maior jogador brasileiro que este escriba viu em ação.

Leandro tinha a bola no lado direito da intermediária de ataque. Vendo Zico ao centro e um pouco adiantado em relação a si, fez o passe em trajetória diagonal.

A bola chegou em Zico quando este se encontrava bem no centro da intermediária ofensiva, mas, devido ao gramado irregular, não se apresentou ao craque em sua frente, mas um pouco atrás de seu corpo.

Zico não se fez de rogado: já que a bola chegou por de trás do corpo dele, com um leve toque de seu calcanhar direito, puxou-a para a sua frente.

A bola subiu um pouco, passou pelo lado direito do corpo de Zico, e se apresentou majestosa a sua frente.

Quando todos imaginavam que Zico iria ajeitar a bola novamente, para executar o passe ou um improvável chute, o Galinho de Quintino surpreendeu a todos…

Que ajeitar a bola que nada! Tal qual ela, a bola, descaiu e chegou em sua frente, ele já emendou de primeira para gol, sem que a deixasse tocar no solo antes que chutasse.

Desferida com precisão enorme, a bola seguiu o seu caminho, baixa mas não rasante, bateu no chão já na pequena área, e entrou bem no canto esquerdo do goleiro local, surpreso com a audácia de Zico. Um golaço!

Brasil 2 x 0.

Depois da obra prima do maior craque brasileiro pós Pelé, os paraguaios estavam batidos e abatidos, e o Brasil tinha ótimas possibilidades de ir à Copa do Mundo. Em novo jogo com o Paraguai, em um Maracanã lotado, com o signatário deste texto presente, a classificação foi confirmada. Mas esta é uma outra estória.

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!   

SELEÇÃO BRASILEIRA 6 X 1 COMBINADO VASCO E BOTAFOGO

por Paulo Roberto Melo

 

– 03/03/1977 – 

– AMISTOSO DE PREPARAÇÃO PARA A COPA DE 1978 –

– MARACANÃ –

  


O ANÚNCIO

 

 Domingo, nós vamos ao Maracanã!

A voz forte do meu pai era dirigida a mim e o anúncio carregava toda a alegria que ele sentia. Afinal, ele iria me levar pela primeira vez ao maior estádio de futebol do mundo! 

O ano era 1977 e eu tinha 10 anos. Pode parecer estranho, mas aos 10 anos, eu nunca havia visto um jogo no Maracanã. Até mesmo a chegada de Papai Noel, programa quase que obrigatório em dezembro, numa época em que as crianças realmente acreditavam nele e que lotava o Maracanã, só pude ir depois. 

Até hoje, fico pensando por que demorei tanto para ir ao Maracanã! Quando vejo pela TV, crianças com muito menos de 10 anos indo aos jogos, tenho a certeza de que de fato, os tempos são outros. 

Quando eu tinha 10 anos, o futebol era um entretenimento de adultos. Jovens eram permitidos, desde que estivessem acompanhados de adultos ou em grupo. 

E é bom frisar, que era um entretenimento para homens! As mulheres quando surgiam nas arquibancadas, eram saudadas com um singelo coro de “Piranha! Piranha!”. Cruel machismo dos estádios de futebol, vencido hoje em dia pela democratização e globalização do esporte bretão.

Voltando ao anúncio da minha ida ao Maracanã, não posso afirmar se houve alguma negociação entre meus pais, no sentido de me iniciar nos estádios de futebol. E explico a necessidade de uma negociação. 

Meus dois irmãos mais velhos, com 16 e 17 anos, já iam ao Maracanã com meu pai ou com amigos. Eu demoraria em alcançar tal liberdade.

A verdade é que minha mãe morria de medo de jogos no Maracanã. Havia escutado pelo rádio, ainda jovem, a derrota do Brasil na final da Copa de 1950 para o Uruguai em pleno Maracanã e, como todo brasileiro, chorado um choro sofrido pela perda de um título tão ganho.Talvez aquele choro tenha marcado minha mãe de uma forma que nem mesmo ela tinha consciência. Muitas vezes, os medos têm origem no imaginário, naquilo que nós mesmos criamos e não sabemos como lidar. 

E talvez, por isso, minha mãe tinha medo de tudo: Da sujeira do estádio, do tamanho dele, das possíveis brigas entre torcidas, enfim, tinha medo. Creio que tinha medo de me perder, como o Brasil havia perdido aquela Copa de forma tão inexplicável.

 

MEUS PAIS

 

É importante que eu explique o contexto futebolístico em que nasci. 

Meu pai, José Ferreira, português dos Açores, chegou ao Brasil em 1953, depois de longos três meses em um navio. Antes da chegada definitiva no Rio de Janeiro, aportou em São Paulo por três dias. Tempo suficiente para ir ao Pacaembu, ver o Palmeiras jogar. Daí, o carinho que nutria pelo alviverde do Parque Antártica. 

Mas quando chegou ao Rio de Janeiro, o sangue português gritou em suas veias e a paixão pelo Vasco tomou sua vida. Afinal, ainda era a época do Expresso da Vitória!

Quando eu era bem pequeno, ouvia algumas vezes os gritos de felicidade por cada gol do Vasco que meu pai escutava em seu rádio de pilha Spica. Meu pai faleceu em 2006, aos 79 anos, sem nunca ter voltado a sua terra. 

Hoje entendo a alegria de vê-lo cantar o trecho do hino do Vasco, que expressava que esse clube era bem mais do que uma agremiação de futebol e regatas. Para meu pai, o Vasco era a “união de Brasil/Portugal”.

Assim, meus irmãos e eu nascemos e crescemos em um lar vascaíno. Minha mãe, Maria da Glória, como filha de pais portugueses e casada com um português, navegou ao longo de sua vida pelos mares do clube do navegante português.

 

 

PREOCUPAÇÕES

 

O anúncio da minha ida ao Maracanã foi feito em uma quarta-feira. Desde então, ocupei minha mente com algumas preocupações que se transformaram em dúvidas: 

Qual seria o jogo? Meu pai me respondeu que seria a Seleção Brasileira contra um Combinado Vasco e Botafogo.


Juro que não entendi. Brasil contra Brasil?! Meu pai então me explicou que o jogo fazia parte da preparação da Seleção para a Copa do Mundo de 1978, que seria realizada na Argentina. E que a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) havia decidido que a preparação seria contra Combinados de times brasileiros e seleções de estados.

A outra preocupação, era se conseguiria enxergar o campo. Essa preocupação tinha um motivo: Eu sou míope desde que me entendo por gente. Apesar de ter colocado pela primeira vez um óculos aos nove anos, portanto, um ano antes de ir ao Maracanã, a sensação que tenho é que sempre precisei deles para enxergar. E naquela época, mesmo usando óculos, parecia que continuava a não enxergar bem.

Assim, perguntei diversas vezes aos meus irmãos se da arquibancada enxergaria bem os jogadores no campo. Como morava no oitavo andar, queria saber se a distância da arquibancada para o campo era a mesma do prédio para a rua. Afinal, nessa distância eu conseguia ver as pessoas e distingui-las. Lembro-me com carinho do cuidado dos meus irmãos em tranquilizar-me, afirmando que a distância era menor e que eu veria os jogadores tranquilamente.

Creio que nos dias que antecederam o jogo, meu pai deve ter escutado umas quinhentas e dezenove recomendações da minha mãe no cuidado em relação a mim. Mas eu me sentia seguro. Ansioso, mas seguro. 

Essa, aliás, era uma particularidade no que diz respeito ao meu pai: Ele sempre me passou muita segurança! Dessa forma, era controlar a ansiedade e esperar o Domingo.

 

 

O MARACANÃ

 

Também preciso explicar a relação que a minha família tinha com o Maracanã. Já disse aqui sobre a minha mãe escutando pelo rádio a derrota do Brasil na Copa de 50 e chorando com a narração de Luiz Mendes. 

Ela dizia que o silêncio das arquibancadas era algo assustador e que o padrinho dela a consolava dizendo: “Minha filha, não chora! É só futebol!” Pois é, quando se tem um pouco de sensibilidade, entende-se que o futebol nunca é só futebol.

Em relação a mim, meus irmãos e meu pai, o Maracanã era um dos locais do nosso lazer. A distância do estádio para a nossa casa era de uns vinte minutos a pé e tanto a ida quanto a volta eram recheadas de resenhas pré e pós-jogo. 

Por conta disso, a relação afetiva que tínhamos com ele era muito forte. Determinadas lembranças, desses momentos em que íamos aos jogos, ficarão para sempre dentro de mim. 

Entrar pelo túnel que dava acesso às arquibancadas, vendo o campo surgir diante dos olhos era algo indescritível! O cheiro do gramado quando estávamos na Geral, dava uma sensação de proximidade incrível! Enfim, essas e outras lembranças ficaram definitivamente marcadas em mim.

Mas, vocês devem ter reparado que falo do Maracanã no passado, como se o estádio não existisse mais. Pois é, ele não existe mesmo! O estádio que está lá e que tem o mesmo nome, não é o local de lazer e emoções que aprendi a amar ao longo de 40 anos de futebol.

As últimas reformas que fizeram no estádio, seguindo as normas da FIFA, para a Copa do Mundo de 2014, descaracterizaram-no de vez. Praticamente colocaram abaixo o velho estádio e construíram um novo.

Essa construção, ainda se tornou um símbolo de um governo estadual corrupto, mergulhado em diversos escândalos financeiros. O orçamento estourou e o custo de milhões, transformou-se em bilhões.

É importante dizer que o Maracanã, antes de 2014, nunca teve uma grande reforma, mas sim, pequenas reformas, muitas delas maquiando o estádio.  


A sensação que eu tinha quando ia ver os jogos, era de que o Maracanã nunca havia ficado pronto desde 1950! Era comum, especialmente no túnel que dava acesso à Geral, ver entulhos de obras espalhados, dando a impressão de uma obra inacabada. 

Como escrevi acima, ao longo de todos esses anos, o Maracanã passou por diversas pequenas reformas. Elas tiveram como objetivo dar mais conforto e segurança a todos que iam ao estádio. E a cada pequena reforma, o estádio diminuía. 

Depois da última e definitiva reforma para a Copa de 2014, o estádio construído em 1950 para abrigar 200 mil pessoas, abriga agora cerca de 80 mil. Assim, o maior do mundo deixou de ser o maior do mundo…

Deixou de ser também um estádio para o povo. Os preços dos ingressos estão longe de serem acessíveis a uma camada da população. E creio que o fator determinante para isso, foi terem acabado com a Geral. O ingresso barato da Geral facilitava a ida ao Maracanã. Mas isso, eu falo mais pra frente.

Eu já fui ao estádio depois da reforma de 2014. Inegavelmente é um estádio mais limpo, mais seguro e mais bonito. Mas não consigo vê-lo como o Maracanã. É um estádio padrão FIFA, parecido ou igual a muitos estádios espalhados pelo mundo.

Na verdade, padronizar é uma tendência que atinge praticamente tudo relacionado ao futebol atualmente. Os estádios são padrão FIFA. O futebol é padrão europeu, com esquemas táticos cada vez mais mirabolantes e o torcedor, é padrão inglês. Bem vestidos e com dinheiro para aproveitar os shoppings e as praças de alimentação dentro de cada estádi

 

O JOGO

 

Confesso que foi um jogo meio estranho. Afinal, eu não sabia muito bem pra quem torcer! Se torcesse pela Seleção Brasileira, estaria torcendo contra o Vasco. Torcendo pelo Vasco, estaria contra a Seleção.

Quando perguntei para o meu pai qual seria a atitude certa em relação a minha torcida, ele me respondeu com a sabedoria e a simplicidade de sempre: “Hoje, tanto faz! O importante é vermos o jogo!”

Aprendi naquele dia, que no futebol, apesar de sermos levados sempre a torcer por algum time, determinados jogos são para apenas se ver! E foi isso o que fiz!

Vi uma Seleção Brasileira repleta de jogadores de times cariocas: Marco Antônio e Roberto Dinamite (Vasco), Carlos Alberto Torres e Zico (Flamengo), Edinho, Marinho Chagas, Rivelino e Pintinho (Fluminense), Gil, Nílson Dias e Paulo Cezar Caju (Botafogo).

E um Combinado Vasco e Botafogo, com alguns jogadores que tranquilamente poderiam estar na Seleção. Tais como Wendell, Zanatta, Dirceu e Manfrini. Nessa época, o futebol brasileiro ainda podia se dar ao luxo de ter pelo menos três seleções com jogadores de muita categoria.

Vi e vibrei com o primeiro gol do jogo, marcado por Roberto Dinamite pela Seleção Brasileira. Roberto Dinamite era meu ídolo vascaíno! E vi como o zagueiro vascaíno Geraldo, jogando pelo Combinado e famoso pelas violentas “botinadas” em diversos atacantes, poupava o Dinamite.

Tive o prazer de ver jogar pelo Combinado, um dos atacantes mais perigosos do futebol brasileiro: o Dé! Nesse momento da sua carreira, ele defendia o Botafogo, mas quando despertei para o futebol, um ano antes, ele era do Vasco.

E como jogava o Dé! Rápido, driblador e inteligente, Dé é uma figura antológica do futebol, especialmente o carioca. Suas passagens por Bangu, Vasco e Botafogo são recheadas de histórias deliciosas, construídas dentro e fora dos gramados.

Bem, o resultado final do jogo foi 6×1 para a Seleção Brasileira. E como meu pai havia me ensinado, o resultado era o menos importante.

Importante foi ter visto um monte de craques em campo. Na década de 70, montar uma Seleção Brasileira era realmente escolher os melhores jogadores do país. E com uma particularidade: Todos jogavam no país! Torcer para aqueles jogadores era o mesmo que torcer pelo seu clube, afinal, eles representavam o clube na Seleção! 

Importante foi ter iniciado, em um amor à primeira vista, uma relação com o futebol e com o maior Estádio do Mundo, o Maracanã!

GÊNIOS E DENGOSOS

por Rubens Lemos 


Nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970, a seleção brasileira do jornalista João Saldanha, o João Sem-Medo, venceu os seis jogos e humilhou os adversários em campanha indiscutível. O Brasil cintilou em todas as partidas, marcou 23 gols e sofreu apenas dois. Eram as Feras escaladas tão logo convocadas.

Santos, Botafogo e Cruzeiro formavam a base do escrete e o entrosamento era de orquestra. Colômbia, Paraguai e Venezuela levaram bailes em ritmo de Bossa Nova ou Jovem Guarda, Roberto Carlos explodindo em discos de ouro. Os bolachões de couro cintilavam nos pés de um time espetacular, que seria modificado por Zagallo um ano depois e também dava seus shows. 

Saldanha, sondado ou convidado pelo presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), João Havelange, definiu logo seus 22 titulares e reservas para evitar pressões que viriam e o jogariam no fosso das conspirações. 

A exigência da convocação do atacante Dario, goleador e perna de pau, foi apenas pretexto para servir a cabeça de Saldanha em bandeja de segunda categoria. Ele caminhava para o heroísmo de trazer o tricampeonato sendo adversário radical do Regime Militar. Saldanha militava no clandestino Partido Comunista e provocava os generais. “O presidente escala o ministério e eu escalo a seleção”. Ninguém atiçaria o General Médice assim, à toa.

Enquanto esteve técnico, Saldanha viveu o delírio de comandar com liberalismo e firmeza o creme do futebol nacional. No dia 10 de agosto de 1969, em plena tensão, o melhor comentarista brasileiro de todos os tempos, deixou ecoar sua anarquia. O gramado do Estádio Universitário de Caracas não passava de um chiqueiro disfarçado. Caía um temporal.

No primeiro tempo, as Feras rebolavam. Pelé dava um drible a mais, Gerson virava o jogo de um lado a outro, Edu humilhava o lateral-direito com fintas recorrentes. Carlos Alberto Torres, o capitão, parecia gripado, sem avançar um milímetro até o ataque. Termina o primeiro tempo no impensável 0x0.

Os jogadores caminham ao vestiário e Saldanha esbraveja:

– Porra nenhuma de vestiário!  

Pega a chave e joga fora. Os jogadores, com uniforme imundo, sentam no meio da grama parca e Saldanha deixa chover sem que ninguém pudesse beber um copinho de água:

– Tá vendo aquele 3, Tostão? Aquilo é um padeiro, apontava para o zagueiro Freddy Ellie. E você, Crioulo? Vai deixar o número 5 achar que é Beckenbauer?, rugia o treinador e jornalista. Eles não jogam nada e vocês não querem porra nenhuma! 

No segundo tempo, ajuizados, os canarinhos enfiaram 5×0, três gols de Tostão e dois de Pelé, restabelecendo a lógica e a ordem natural da hierarquia boleira. Gerson brincou: “Gostou, chefe?” Saldanha ainda fumaçava: “Na próxima sacanagem, eu mando voltar todo mundo e jogam os reservas”.

Aquele time era espetacular. Felix; Carlos Alberto Torres, Djalma Dias (Pai de Djalminha, ex-Flamengo, Guarani, Palmeiras e La Coruña), Joel Camargo e Rildo (que viria para o ABC em 1972); Piazza e Gerson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Edu. 

Na Copa, competente, Zagallo mudou a zaga, com Brito e Piazza, escalou Clodoaldo de volante e formou um ataque só de camisas 10 nos seus clubes: Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivellino. Saldanha caiu de pé.

50 anos e meses depois, o Brasil é novamente convocado. Pelo diplomata Tite, uma agressão à memória de Saldanha. Sem autoridade, sem esquema tático, sem admitir que não temos jogador de qualidade, trata seus pupilos com mimo, dengo, frescura. É advogado dativo do menino Neymaaaaaaaaaarrrrrr!

Na lista de Tite, nenhum teria vez na pior entre todas as seleções, a de 1990, com o abjeto Lazaroni. Mas o gaúcho Adenor protege a garotada, blinda cada um dos que desfilam marrentos de fones de ouvido e cabelo espetado. A chave do enigma é a profusão de craques do passado. O complemento, o dengoso Tite e seus mascarados que podem, pela primeira vez, tirar o Brasil de uma Copa do Mundo.