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“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 56

4 / abril / 2024

por Eduardo Lamas Neiva

A “Balada nº 7”, com Noite Ilustrada, emocionou todo mundo e o tema sobre a despedida de Garrincha continuou à tona, com João Sem Medo falando um pouco mais sobre aquele momento de gratidão do povo brasileiro pelo Anjo das Pernas Tortas.

João Sem Medo: – Pagamos um pedacinho da dívida. A renda? Foi boa. Alguns empresários entenderam a ideia e deram o principal. Não foi muita coisa. O Garrincha, em 14 anos de atividade, não ganhou nem um décimo do que o Netzer e o Cruyff custaram para o Barcelona naquele ano de 73: um milhão de dólares! É por isso que garanto que fizemos muito pouco.

João é interrompido em sua fala em defesa de Mané pelos aplausos de pé de todo o público presente ao bar.

João Sem Medo: – Obrigado, meus amigos. O Mané merece mais, bem mais desses aplausos.

E assim foi feito, com todo mundo se virando para um Mané Garrincha bastante emocionado, que agradeceu sorrindo.

Ceguinho Torcedor: – Bom, João, mas você falava sobre a injustiça que cometeram com o Mané. Prossiga, por favor, quero ouvi-lo. Queremos todos!

João Sem Medo: – Obrigado, Ceguinho. Como dizia, em todo caso aquela despedida serviu pra tapar a boca de alguns detratores do Mané, que ganhavam de graça sensacionalismo à custa do rapaz. O Garrincha, de 1953 até 1965, foi o jogador de um só clube. Quando saiu já não valia um milhão de dólares. Ganhou ordenado e quem ganha ordenado não pode juntar muito.

Garçom: – O Mané foi muito injustiçado, né, seu João?

João Sem Medo: – Uma gente muito ruim, Zé Ary, dessas que berram impunemente, cobrava do Mané o que ele não tinha. Tiveram de calar a boca. O que ele ganhou naquele jogo, de gratidão de todos nós, que quase nada pudemos fazer para pagar as duas copas que o Garrincha ganhou, ele mandou a parte maior para a sua criançada. Os “chavequeiros” tiveram de calar a boca definitivamente, pois não mereciam mais ter o direito de detratar o jogador, um dos melhores do mundo de todos os tempos.

Mais aplausos.

Idiota da Objetividade: – E Garrincha acabou se despedindo do Mundo Material em 20 de janeiro de 1983, aos 49 anos, em virtude de uma cirrose hepática.

Ceguinho Torcedor: – Mas pra nossa alegria aqui está!

Garrincha mais uma vez é muito aplaudido. Bastante emocionado, ele se levanta vai até a mesa dar um forte abraço em João Saldanha e mais uma vez agradece ao público do bar Além da Imaginação, como quando se despediu dos gramados, em 1973.

Garçom: – Bom, senhoras e senhores, com tanta emoção fica até difícil falar. Mas, como ouvimos a versão de Noite Ilustrada, acho que não poderíamos deixar de ouvir também a gravação de Moacyr Franco, concordam?

O público diz que sim.

Garçom: – Então vou pôr aqui pra ouvirmos esta versão que fez muito sucesso no início dos anos 70. Sei que vamos criar mais emoção por aqui, mas vamos lá.

João Sem Medo: – Segura, Mané!

Mané Garrincha (já mais sorrindente): – Vou tentar, seu João. Vou tentar.

Zé Ary tinha razão, muita gente se emocionou muito novamente, inclusive Mané Garrincha. Houve um burburinho em volta do Mané, principalmente, mas Ceguinho Torcedor tratou de recuperar a bola e quebrar o clima com sua verve humorística.

Ceguinho Torcedor: – Amigos, fui um dia à casa do Ivo Pitanguy a convite do Otto Lara Rezende para uma reunião de intelectuais. Houve um momento em que Pitanguy falou em Garrincha. Sim, o Pitanguy, o cirurgião plástico. Houve um silêncio ávido. Mas ele não queria fazer nenhuma correção plástica, nenhuma retificação estética no craque. Pelo contrário. Pitanguy parecia muito interessado em que o Mané continuasse torto, cada vez mais torto.

Sobrenatural de Almeida: – Assombroso!

Idiota da Objetividade: – Como pode isso?

João Sem Medo, meio que já sabendo o desfecho, só sorria, enquanto o público parecia em suspenso, como na expectativa de um gol iminente. E Ceguinho não perde o domínio, vai em frente.

Ceguinho Torcedor: – Assim é o nosso egoísmo patriótico. Fosse Pelé um Quasímodo negro, e toda a Nação acrescentaria ao divino uma corcunda sobressalente.

Uma explosão de risos, gargalhadas e pilhérias circula o bar. Todos riem muito, inclusive Pelé e Garrincha. Quando há uma leve tranquilizada, João Sem Medo retoma a bola e vira o jogo.

João Sem Medo: – Entre as duas conquistas mundiais do Brasil houve dois momentos muito interessantes que queria que a gente falasse antes de comentar o fiasco de 66, que por mim a gente podia até pular. Um foi a disputa do Sul-Americano de 1959, na Argentina, e outro, o jogo em que Julinho calou o Maracanã.

Ceguinho Torcedor: – Foi, se me permitem a expressão, trágico. Insisto: trágico! Quem estava lá viu ou, por outra, ouviu. No instante em que o alto-falante do Maracanã anunciou Julinho em lugar de Garrincha, o estádio entupido foi uma vaia só. Menos eu. Eis a verdade: eu não apupei, embora preferisse Garrincha. Parecia-me que o escrete sem o “seu” Mané era um mutilado. Na pior das hipóteses, eu achava que o Feola devia ter posto os dois: Julinho na ponta direita e Garrincha na esquerda. Mas um técnico tem razões que a razão desconhece.

Idiota da Objetividade: – No dia 13 de maio de 1959, pouco mais de um mês após a seleção brasileira terminar com o vice-campeonato sul-americano disputado na Argentina e vencido pelo time da casa, Brasil e Inglaterra fizeram um amistoso no Maracanã. Até então, a seleção brasileira nunca havia vencido o English Team.

João Sem Medo: – Idiota, foram só dois jogos, uma derrota de 4 a 2 em 56 e um empate sem gols na Copa de 58.

Idiota da Objetividade: – Pois é, mas sem vitórias. E Garrincha nunca tinha enfrentado a Inglaterra, o que só foi ocorrer nos 3 a 1 de 62. Mas em 59, Mané Garrincha foi barrado por Julinho pelo técnico Vicente Feola.

Sobrenatural de Almeida: – Dizem um monte de coisa sobre o Mané naquele dia. A verdade é que agi fora de campo pra ele não jogar e dentro de campo segurei o Pelé. O Rei não jogou nada naquele dia. Mas Julinho me escapou…

João Sem Medo (sorrindo marotamente): – E aí, Mané, o que aconteceu naquele dia?

Mané Garrincha (rindo): – Ih, seu João, melhor deixar quieto. Não me lembro.

Risada geral no bar “Além da Imaginação”, mais uma vez.

Garçom: – Bom, minha gente, vamos dar um tempinho na nossa resenha, que está ótima, para ouvir outra música maravilhosa em nosso aparelho de som, em que mais uma vez, Garrincha, o Maracanã e o Rio de Janeiro são belamente retratados. É “Estrela Solitária”, de Zécarlos Ribeiro, com o grupo paulistano Rumo.

Músico: – Ná Ozetti, grande cantora que é, interpreta maravilhosamente esta música.

Garçom: – Sem dúvida alguma. Vamos lá!

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Um gol desse não se perde!

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