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renato gaúcho

O CRAQUE DO BRASIL EM 1983

por Luis Filipe Chateaubriand


O jovem Renato Portalupi – depois, rebatizado futebolisticamente como Renato Gaúcho – era, em 1983, um fenômeno de força, técnica e vitalidade.

 Na Copa Libertadores da América daquele ano, conduziu, com Tita e De Leon, o time do Grêmio à grande final.

Final difícil, tensa, agastada, eis que Renato acha um espaço milimétrico para fazer um cruzamento que vai na cabeça do centroavante Cesar.

Era o gol do título.

E eis que, então, o Grêmio foi disputar o Mundial de clubes, onde venceu o Hamburgo por 2 x 1 – dois gols de Renato.

No que pese a atuação sensacional de Mário Sérgio, ninguém mais que Renato poderia ser o melhor do jogo.

Como ele disse em entrevista ao Zico recentemente “joguei pouco… só marquei, criei, ataquei e fiz dois gols!”.

E se o homem é o melhor da Libertadores e é o melhor do Mundial, só pode ser o melhor jogador do Brasil em 1983. 

E, como diria meu amigo Sergio Pugliese, estamos conversados!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

RENATO GAÚCHO

por Serginho 5Bocas


Renato Gaúcho é um personagem emblemático do futebol brasileiro. Você pode até não gostar do jeito dele ou até mesmo do seu futebol, na maior parte das vezes individualista, mas nunca ficaria indiferente a este jogador.

Provocador, falastrão, egoísta, são inúmeras as formas de falar mal dele, mas também há um lado humano que não dá para esquecer: por onde passou, ajudou amigos e funcionários mais humildes dos clubes, muitas vezes com recursos próprios.

Apreciador da noite, bebia todas e saía com as mais belas mulheres, mas, no dia seguinte, puxava a fila do treino físico e, por isso, ninguém conseguia falar dele. Fez fortuna com o futebol que Deus lhe deu e depois foi ser um treinador vencedor, com o mesmo sucesso do tempo de jogador, um predestinado à gloria.

Foi ídolo de várias torcidas, mas no Grêmio ele foi o maior, barrando o lendário Lara e virando estátua de bronze na esplanada da Arena. Muito jovem, já era o ídolo da torcida e não decepcionava seus fãs. Dizem, inclusive, que a galera chegava cedo para ver a preliminar de juvenis e Renato já chamava a atenção pelos dribles insinuantes e a sua vontade de ganhar.

No Olímpico, fez história: campeão gaúcho, vice-campeão brasileiro, campeão da Libertadores e do Mundial Interclubes. Neste último, marcou simplesmente os dois gols do time na final contra o Hamburgo, da Alemanha, em 1983, e fez os gringos de “joãos”, encarnando um Garrincha, respeitando as devidas proporções. Naquele dia, deu tudo certo para o jovem ponta-direita, que desmontou a zaga alemã.


Renato foi o grande nome do Brasil nas Eliminatórias para a Copa do Mundo do México (1986), consagrando o centroavante Casagrande com seus cruzamentos. Contudo, por conta da constante indisciplina dentro e fora do campo, o treinador Telê Santana decidiu cortá-lo do grupo que foi a Copa. Ruim para Renato, pior ainda para o Brasil. Renato estava “voando baixo” e seria fundamental numa Copa com jogos disputados na altitude e diante de um sol de meio-dia, quando boa parte dos principais dos titulares já estava em final de carreira e faltava fôlego.

Ele jogou e também foi ídolo de Flamengo, Botafogo, Cruzeiro e Fluminense, com ótimas atuações nos clubes e poucos momentos de brilho pela Seleção. Ainda assim, ele foi campeão da Copa América de 1989 no Brasil e esteve no grupo que jogou a Copa da Itália, em 1990, ambas como reserva.

O trauma por não ter sido convocado em 1986 foi demais e parece que ele ficou marcado por aquele episódio para sempre, mas Renato ficará na memória de quem gosta de futebol como um jogador de muita raça, força, habilidade, cruzamentos e, claro, gols decisivos. Podem até dizer que ele era “fominha”, com uma parcela de razão, mas nunca “amarelão”.

Muitos vão dizer que ele era muito individualista, mas, quando estava disposto a cruzar para os companheiros, era brincadeira. Caio, na final da Libertadores de 1983 contra o Peñarol, Casagrande, nas Eliminatórias da Copa de 1986, e Bebeto, na fase final da Copa União de 1987, deitaram e rolaram com seus cruzamentos sempre perfeitos, tirando do goleiro.


Para se ter uma noção da sua grandeza, Renato foi eleito o melhor ponta-direita de cinco Campeonatos Brasileiros e, em um deles, ganhou o prêmio de melhor jogador da competição pela renomada crítica da Revista Placar. Nesses anos todos de Campeonato Brasileiro, não me lembro de outro ponta ter vencido o prêmio tantas. No entanto, não conseguiu escrever seu nome na Copa do Mundo e isso acabou minimizando o seu verdadeiro tamanho.

Ele não chega a ser um completo injustiçado no futebol, mas bem que merecia melhor sorte. Foi o último dos grandes e autênticos pontas que vi jogar, inclusive sendo o primeiro vencedor do troféu “Alegria do Povo”, concedido pela Revista Placar aos maiores dribladores da extrema direita, numa homenagem a quem mais se aproximava do “Anjo das Pernas Tortas”.

É muito difícil aceitar as escolhas dos outros! Fui e sou fã do Telê, mas ele aprontou cada uma com a gente por conta de suas convicções, que vou te contar! Não levar o goleador em 1986 foi uma decepção gigantesca para mim e um crime para o Brasil e a Copa do Mundo. Imagino a cara de pavor dos gringos, vendo Renato partir para dentro e enfileirar os adversários. Talvez o “Casão” fosse o artilheiro da Copa e Maradona tivesse um concorrente à altura, pelo menos naquele momento, acreditem.

Recentemente, foi responsável por criar uma polêmica quando se comparou ao craque Cristiano Ronaldo, o CR7. Disse que queria vê-lo jogando com três ou quatro meses de salários atrasados como se joga no Brasil e disparou que, se jogasse ao lado dos colegas de CR7 no Real Madrid, também faria estragos ainda maiores nas defesas.


Muitos riram do Renato, mas, sem querer comparar números, acho que o que ele quis dizer é que é muito mais fácil você ter sucesso quando está sendo suportado por uma máquina vencedora e ao lado de companheiros de nível de seleção, do que quando você integra um time que nunca havia conquistado nada. Renato simplesmente reverteu a situação do Grêmio, colocando este time em um outro patamar. Talvez, se CR7 tivesse conquistado alguma coisa pelo Sporting, de Portugal, poderia facilitar as nossas comparações, mas fica aqui o esclarecimento para reflexão e futuras resenhas.

Essa é minha singela homenagem ao Renato, o ex-padeiro e o gaúcho mais carioca que conheci. Me tornei fã pela sua vontade de vencer e por todo o talento demonstrado com o manto rubro-negro na Copa União de 1987, quando ele gastou tanto a bola, que levou o prêmio Bola de Ouro, por ter sido o melhor jogador do campeonato.

Renato foi singular, um forte, que nasceu “vaca premiada”. Fico me perguntando que esse cara podia ter aprontado em 1986! Vai saber…

DRIBLANDO ATÉ O ANIVERSÁRIO

por Marcos Eduardo Neves


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Hoje não é aniversário de Renato Gaúcho. Incrível como nem quem trabalha diretamente com isso tem o costume de ler. Assim como boa parte da mídia, cresci acreditando que hoje era o dia do aniversário do ex-craque e hoje técnico de futebol Renato Portaluppi.

Não é. Por meio da falecida Dona Maria, mãe do próprio, soube que em 9 de setembro de 1962 o mais bem sucedido dos Portaluppi foi registrado em cartório, porém, nasceu meses antes. Portanto, bola fora da mídia – principalmente a gaúcha.

Um pouco de leitura não faz mal a ninguém. Compartilho aqui trecho do meu livro “Anjo ou demônio – A polêmica trajetória de Renato Gaúcho” no que diz respeito às circunstâncias do nascimento do meu primeiro biografado:

“Fazia frio em Marco da Pedra, distrito de Guaporé. A tarde coberta de nuvens anunciava a chegada de mais um Portaluppi. Como em dias chuvosos as múltiplas goteiras se manifestavam, inundando o casebre, dona Maria, 38 anos, ao sentir os primeiros sinais, preparou-se para dar a luz ao décimo terceiro rebento na casa dos vizinhos, seu Genuíno e dona Ivete. Foram dois dias e duas noites de sofrimento. Até que por volta das 17h de 22 de janeiro nasceu Renato. Mais um homem a juntar-se a Deoclido, Jaime, Adão, Mauro e Ardiles (Flávio fecharia o time masculino). As mulheres chamam-se Jane, Venulda, Íris, Salete, Inelve e Lurdes.

Ao sair do ventre materno, o pequerrucho pesava cinco quilos e duzentos gramas. Bebê robusto, forte como toda família. E lindo, segundo a “mamma”. Tanto que seria apelidado Rosa. Quando Flávio completou seu primeiro aniversário, Renato já com três, mudaram-se todos, em definitivo. Atravessaram 65 quilômetros para fazer a vida na promissora Bento Gonçalves(…)”

O VERDADEIRO MOTIVO DO CORTE DE RENATO EM 1986

por Luis Filipe Chateaubriand


Antes da Copa do Mundo de 1986, o ponta direita Renato, conhecido como Renato Gaúcho, estava jogando o “fino da bola”. Mesmo assim, foi cortado pelo ranzinza Telê Santana da delegação que foi à Copa do Mundo de 1986, no México.

Muitos atribuíram o corte ao fato de, em determinado dia, ter ficado na farra com Leandro em um dia de folga e só ter aparecido na concentração, junto com o craque rubro negro, às duas horas da manhã, quando a reapresentação estava marcada para as 22h.

Alguns atribuíram a Telê um grande maquiavelismo: desistiu de cortar os dois porque queria contar com Leandro; aí, à véspera do embarque para a Copa, quando teria que cortar cinco jogadores, cortou Renato, podendo manter Leandro. 

Leandro, tendo percebido a situação, desistiu de jogar a Copa.

Mas muitos esquecem de um outro fator que, este sim, parece ter sido decisivo para o corte de Renato.

Jogo amistoso em São Luiz do Maranhão, durante a preparação para a Copa. Brasil x Peru. O Brasil ganhou de 3 x 0.

Em determinado momento do jogo, Éder agride um peruano – uma agressão absolutamente desnecessária. É expulso. Sai de campo… aplaudido por Renato.

Telê Santana, que sempre abominou violência (no que tinha toda razão…), corta Éder. E fica fulo da vida com Renato, que aplaudiu Éder pelo desatino.

Na hora de proceder os cinco cortes, pensa que Renato foi indisciplinado no episódio da chegada à concentração, pensa que Renato foi apologista da violência ao aplaudir e incentivar Éder. Corta Renato, ele é um dos cinco preteridos.

Em suma: se Renato não tivesse aplaudido Éder por ter agredido o jogador peruano, muito possivelmente não seria cortado. É o que muitos não lembram, atribuindo a exclusão do gaúcho apenas à farra com Leandro pela noite nas alterosas.

A pergunta que não quer calar é: Telê agiu certo ao cortar Renato? Na opinião deste signatário, não. 

Chegar atrasado em concentração por uma farra eventual não é motivo de gravidade que justifique um corte. 

Quanto a ter aplaudido Éder, não necessariamente estava fazendo apologia da violência. Possivelmente, não estava. Estava, tão somente, querendo dar ânimo, incentivo, a um colega que tinha acabado de fazer uma besteira.

Em outros termos: Telê, você deixou de levar para a Copa um cara que poderia fazer a diferença para a gente ganhá-la. Como fez, por exemplo, com Reinaldo, em 1982. 

Sempre isso, teimoso?

O TEMPO, O ÍDOLO E O ESCUDO

por Claudio Lovato


Em 1983 eu estava no Olímpico com o meu velho e um dos meus irmãos mais novos. Um baita frio. Julho em Porto Alegre, quinta-feira à noite. Um a um com o Peñarol, jogo encardido, peleado, até que o nosso louco genial, o cara da camisa 7, deu o balão mais improvável de todos os tempos para dentro da área dos uruguaios, César voou, meteu a cabeça na bola e então estava decretado o nosso primeiro título da Libertadores. Em 1983 eu tinha 18 anos.

Neste 29 de novembro de 2017, dia em que conquistamos a nossa terceira Libertadores, lá estava ele de novo, o louco genial, o rebelde nascido em Guaporé. Em Lanús, na Argentina. Agora na beira do campo, como técnico.

O primeiro brasileiro a conquistar a Libertadores como jogador e como treinador – e pelo mesmo clube.

Marcelo Bielsa disse que o futebol pode prescindir de tudo, menos do escudo. Porque o escudo é o que emociona.

O escudo é o que nos identifica entre os nossos. O escudo é aquilo que somos.

Caras como Renato ajudam a tornar o escudo indestrutível.

Na quarta-feira, assisti à final com amigos e com os Borrachos de Brasília, no CTG Estância Gaúcha do Planalto, que virou uma extensão da nossa Arena aqui no Distrito Federal.

Crianças, jovens, gente de meia-idade, idosos. Todos por um escudo. Nossa identidade.

O tempo passou para Renato, passou para mim, passou para todos nós. Ou talvez seja mesmo como alguém já escreveu: “Não é o tempo que passa, somos nós que passamos por ele”.O jeito que passamos é o que conta.

Valeu, Portaluppi.


Obrigado pelo que fizeste pelo nosso escudo. Obrigado pelo que fizeste por todos nós, portanto. Tu e essa gurizada que está sob o teu comando – do garoto Arthur, craque pronto aos 21 anos, ao garoto-vovô Léo Moura, quase quarentão. 

Mas vamos em frente, que a vida segue. Na semana que vem já tem Emirados Árabes e lá enfrentarás aquele que provavelmente será o desafio mais extraordinário da tua vitoriosa carreira. E tu sabes bem o que significará para nós a superação dele.