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RENATO GAÚCHO

24 / fevereiro / 2021

por Serginho 5Bocas


Renato Gaúcho é um personagem emblemático do futebol brasileiro. Você pode até não gostar do jeito dele ou até mesmo do seu futebol, na maior parte das vezes individualista, mas nunca ficaria indiferente a este jogador.

Provocador, falastrão, egoísta, são inúmeras as formas de falar mal dele, mas também há um lado humano que não dá para esquecer: por onde passou, ajudou amigos e funcionários mais humildes dos clubes, muitas vezes com recursos próprios.

Apreciador da noite, bebia todas e saía com as mais belas mulheres, mas, no dia seguinte, puxava a fila do treino físico e, por isso, ninguém conseguia falar dele. Fez fortuna com o futebol que Deus lhe deu e depois foi ser um treinador vencedor, com o mesmo sucesso do tempo de jogador, um predestinado à gloria.

Foi ídolo de várias torcidas, mas no Grêmio ele foi o maior, barrando o lendário Lara e virando estátua de bronze na esplanada da Arena. Muito jovem, já era o ídolo da torcida e não decepcionava seus fãs. Dizem, inclusive, que a galera chegava cedo para ver a preliminar de juvenis e Renato já chamava a atenção pelos dribles insinuantes e a sua vontade de ganhar.

No Olímpico, fez história: campeão gaúcho, vice-campeão brasileiro, campeão da Libertadores e do Mundial Interclubes. Neste último, marcou simplesmente os dois gols do time na final contra o Hamburgo, da Alemanha, em 1983, e fez os gringos de “joãos”, encarnando um Garrincha, respeitando as devidas proporções. Naquele dia, deu tudo certo para o jovem ponta-direita, que desmontou a zaga alemã.


Renato foi o grande nome do Brasil nas Eliminatórias para a Copa do Mundo do México (1986), consagrando o centroavante Casagrande com seus cruzamentos. Contudo, por conta da constante indisciplina dentro e fora do campo, o treinador Telê Santana decidiu cortá-lo do grupo que foi a Copa. Ruim para Renato, pior ainda para o Brasil. Renato estava “voando baixo” e seria fundamental numa Copa com jogos disputados na altitude e diante de um sol de meio-dia, quando boa parte dos principais dos titulares já estava em final de carreira e faltava fôlego.

Ele jogou e também foi ídolo de Flamengo, Botafogo, Cruzeiro e Fluminense, com ótimas atuações nos clubes e poucos momentos de brilho pela Seleção. Ainda assim, ele foi campeão da Copa América de 1989 no Brasil e esteve no grupo que jogou a Copa da Itália, em 1990, ambas como reserva.

O trauma por não ter sido convocado em 1986 foi demais e parece que ele ficou marcado por aquele episódio para sempre, mas Renato ficará na memória de quem gosta de futebol como um jogador de muita raça, força, habilidade, cruzamentos e, claro, gols decisivos. Podem até dizer que ele era “fominha”, com uma parcela de razão, mas nunca “amarelão”.

Muitos vão dizer que ele era muito individualista, mas, quando estava disposto a cruzar para os companheiros, era brincadeira. Caio, na final da Libertadores de 1983 contra o Peñarol, Casagrande, nas Eliminatórias da Copa de 1986, e Bebeto, na fase final da Copa União de 1987, deitaram e rolaram com seus cruzamentos sempre perfeitos, tirando do goleiro.


Para se ter uma noção da sua grandeza, Renato foi eleito o melhor ponta-direita de cinco Campeonatos Brasileiros e, em um deles, ganhou o prêmio de melhor jogador da competição pela renomada crítica da Revista Placar. Nesses anos todos de Campeonato Brasileiro, não me lembro de outro ponta ter vencido o prêmio tantas. No entanto, não conseguiu escrever seu nome na Copa do Mundo e isso acabou minimizando o seu verdadeiro tamanho.

Ele não chega a ser um completo injustiçado no futebol, mas bem que merecia melhor sorte. Foi o último dos grandes e autênticos pontas que vi jogar, inclusive sendo o primeiro vencedor do troféu “Alegria do Povo”, concedido pela Revista Placar aos maiores dribladores da extrema direita, numa homenagem a quem mais se aproximava do “Anjo das Pernas Tortas”.

É muito difícil aceitar as escolhas dos outros! Fui e sou fã do Telê, mas ele aprontou cada uma com a gente por conta de suas convicções, que vou te contar! Não levar o goleador em 1986 foi uma decepção gigantesca para mim e um crime para o Brasil e a Copa do Mundo. Imagino a cara de pavor dos gringos, vendo Renato partir para dentro e enfileirar os adversários. Talvez o “Casão” fosse o artilheiro da Copa e Maradona tivesse um concorrente à altura, pelo menos naquele momento, acreditem.

Recentemente, foi responsável por criar uma polêmica quando se comparou ao craque Cristiano Ronaldo, o CR7. Disse que queria vê-lo jogando com três ou quatro meses de salários atrasados como se joga no Brasil e disparou que, se jogasse ao lado dos colegas de CR7 no Real Madrid, também faria estragos ainda maiores nas defesas.


Muitos riram do Renato, mas, sem querer comparar números, acho que o que ele quis dizer é que é muito mais fácil você ter sucesso quando está sendo suportado por uma máquina vencedora e ao lado de companheiros de nível de seleção, do que quando você integra um time que nunca havia conquistado nada. Renato simplesmente reverteu a situação do Grêmio, colocando este time em um outro patamar. Talvez, se CR7 tivesse conquistado alguma coisa pelo Sporting, de Portugal, poderia facilitar as nossas comparações, mas fica aqui o esclarecimento para reflexão e futuras resenhas.

Essa é minha singela homenagem ao Renato, o ex-padeiro e o gaúcho mais carioca que conheci. Me tornei fã pela sua vontade de vencer e por todo o talento demonstrado com o manto rubro-negro na Copa União de 1987, quando ele gastou tanto a bola, que levou o prêmio Bola de Ouro, por ter sido o melhor jogador do campeonato.

Renato foi singular, um forte, que nasceu “vaca premiada”. Fico me perguntando que esse cara podia ter aprontado em 1986! Vai saber…

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