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VOZES DA BOLA: ENTREVISTA JÚNIOR

25 / outubro / 2020


Júnior não chegou à Gávea craque em 1973, mas foi sendo preparado para sê-lo.

Ao ingressar no clube à beira da lagoa, adentrou como uma pedra bruta pelos portões imponentes e teve a sorte de ter bons lapidários dentro e fora das quatro linhas: Modesto Bria foi um deles, Jayme Valente e Pavão outros, apenas para citar alguns.

Foi ganhando forma, se aperfeiçoando com tamanha habilidade, fascinando com sua beleza – ainda que precocemente – e foi se transformando em um diamante, sendo desnudado e tendo seu brilho mostrado.

Talento e sorte caminham de mãos dadas – e que mal há nisso? – pois foi necessário muito trabalho.

Vaidoso com a aparência ao extremo, fez o seu jogo se transformar e agradável aos olhos daqueles que torciam o nariz ao saber que com o nome de Leovegildo, poderia ser qualquer coisa, menos jogador de futebol.

Foi aos poucos aprendendo a desvendar os mistérios da bola e a se arriscar, como aves marinhas costeiras ou oceânicas – essas que mergulham em alto mar à procura de alimento para sobrevivência e emergem com o peixe agonizando em seus bicos.

O futebol leva ao céu mas também enterra a sete palmos do chão e faz a carreira de qualquer neófito morrer.

Ele corria esse risco.

Entretanto, sua maneira de sobreviver num esporte tão inóspito, foi por meio de muita dedicação, do amor infinito aos treinos exaustivos até tarde, onde apenas a lua e as estrelas presenciavam todo o seu esforço.

Se privou de muita coisa enquanto suor e lágrima confundiam-se no rosto áspero daquele paraibano que ainda não tinha o famoso bigode, sua marca registrada – além do número 5, é claro! – até hoje.

Foi nas areias das praias cariocas, sua fiel companheira – além é bom que se diga, de dona Helô, mandatária do seu coração há 37 anos – que ia se reabastecendo para enfrentar os tantos desafios.

Porquanto a praia foi local de hibernação de Leovegildo nas folgas, o campo, redenção de quem queria que o Júnior se transformasse em alguém na vida.

Batalhou, lutou, conquistou e se tornou verbo obrigatório terminados em ‘ar’ de amar, lutar e conquistar, que todos os flamenguistas conjugavam em uma só voz nas arquibancadas e nas gerais do Maracanã.

E não há de esquecer que Deus escreveu cada capítulo especial nas páginas de sua vida profissional dentro do Clube de Regatas do Flamengo.

Um exemplo?

Como explicar ele lateral-direito em começo de carreira (lembram do gol contra o América/RJ na final do Carioca em 1974 do meio campo?), não ter que disputar posição com Leandro, recém chegado de Cabo Frio (e aprovado logo no primeiro treino) em 1978 como lateral-esquerdo por Américo Faria?


Deus foi generoso por não pô-los para disputar posição no mesmo Flamengo que ganhou tudo a partir de 1980.

Ora bolas, o mundo da bola tem dessas coisas.

Reconhecido como jogador e campeão em tudo pelo Flamengo, deixou escapar pelas mãos e escorrer pelos dedos o título da Copa do Mundo de 1982, na Espanha, quando Paolo Rossi abriu a gaiola do Estádio Sarriá e mandou o ‘Voa, Canarinho’ de volta ao Brasil, que chorava enlutado.

Plural como jogador no Calcio italiano nos anos de 1984 a 1989, viveu por cinco anos regendo o meio-campo do Torino-ITA e depois do Pescara-ITA.

Não bastassem os títulos e o carinho dos rubro-negros, foi imortalizado em 1° de dezembro de 2018, na escultura de bronze do artista Luiz Eduardo dos Santos, no Ninho do Urubu, espaço que hoje abriga o CT comprado em 1984 por George Helal, então presidente rubro-negro, com o dinheiro da venda de Júnior para o Torino-ITA.

“Uma honra ter meu busto na fábrica de craques do Flamengo, que é o Ninho do Urubu! Ainda mais que o terreno do Ninho foi comprado pelo Helal com a minha venda pro Torino”, afirmou.

O Museu da Pelada apresenta Júnior nesta semana como décimo quinto personagem da série Vozes da Bola.

Texto e ilustrações: Marcos Vinicius Cabral

Como foi sua chegada ao Rio, já que você é paraibano?

Eu cheguei no Rio de Janeiro no final de 1959, quando minha família se transferiu para cá, vindo de João Pessoa, na Paraíba. Ao chegar em Copacabana, morei com minha avó materna e com meu irmão mais velho Lino, que já estava aqui. Em seguida, veio o Luiz Eduardo e depois o caçula Leonardo, que aliás é o único carioca da família.

Quem foi sua grande inspiração no futebol?

Na verdade, acredito que as grandes inspirações, não só para mim, mas para os meus contemporâneos, tenham sido Pelé e Garrincha. Os dois jogadores que inspiraram toda minha geração, mesmo não tendo muitos aparelhos de TV’s naquela época, mas eu tive a sorte em ter um tio, chamado Aloísio, irmão da minha avó, apaixonado por futebol e que levava eu e meus irmãos para o Maracanã. Inclusive, todas às vezes que o Santos vinha jogar no Rio de Janeiro, ele levava a gente e sempre íamos também ver os jogos do Botafogo, por causa do Garrincha. Acho que esses dois, foram os caras que mais trouxeram inspiração para mim.

Como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao coronavírus?

Estou em casa desde 16 de março e quando completei quatro meses de isolamento social, saí apenas duas vezes: uma para ir ao dentista e outra para pegar um documento para o meu Imposto de Renda. O resto fiquei em casa, mantendo a forma na minha pequena academia, vendo filmes, participando de lives para poder passar o tempo e ouvindo música, já que eu adoro. É dessa forma que tenho enfrentado esse momento que ainda não acabou e até o fim do ano esperamos que a coisa possa dar uma melhorada. Na verdade, não voltar à normalidade mas melhorar um pouco para que a gente possa voltar à vida que a gente levava antes.

Há uma curiosidade que pouca gente conhece, envolvendo você e o Leandro. Quando você chegou ao Flamengo em 1973, você era lateral-direito e acabou sendo deslocado para à esquerda, e o Leandro, ao chegar em 1976, era lateral-esquerdo e foi deslocado à direita. Se tivessem que disputar a titularidade de uma lateral, tanto na esquerda ou na direita, pela qualidade dos dois, na sua opinião, quem jogaria?

Eu cheguei no Flamengo em 1973, quando fui jogar de meio-campo, indicado por Seu Napoleão, que era amigo do meu tio Aloísio. Foi ele que me levou para treinar, já que era amigo e vizinho do (técnico) Modesto Bria. Eu joguei praticamente todo o campeonato daquele ano como meio-campo, até que no segundo turno, em um jogo contra o Madureira, Garrido, nosso lateral-direito, acabou sendo expulso e eu fui jogar naquela posição. Pouco tempo depois, fui convencido pela comissão técnica na época, que a possibilidade para subir ao profissional como lateral era maior do que jogando no meio-campo, já que a concorrência era muito grande, inclusive com Geraldo, o assoviador, que nos deixou prematuramente em 76 e que era a grande revelação do Flamengo naquela posição. Naturalmente, eu tive essa oportunidade com o Joubert e fiquei dois anos jogando na lateral-direita, até acontecer o troca-troca entre Flamengo e Fluminense, quando (o goleiro) Renato, Rodrigues Neto e Doval foram para as Laranjeiras e (o goleiro) Roberto, Toninho Baiano e Zé Roberto vieram para a Gávea, e acabei sendo deslocado para a lateral-esquerda pelo treinador Carlos Fromer e fiquei por quase oito anos atuando ali, inclusive, jogando a Copa do Mundo de 82. Sobre o Leandro, eu não sei se teria problema, porque, ou ele seria deslocado, ou então, eu teria que ser. Realmente, jamais passou pela minha cabeça ter que disputar posição com ele, até porque, o Leandro, talvez, tenha sido o maior lateral-direito que a gente tenha visto, com todo respeito ao Carlos Alberto Torres. Eu acho que o Leandro foi mais completo, enquanto o nosso saudoso Carlão, no qual tive o privilégio de jogar ao seu lado em 1977, quando ele veio para o Flamengo, não com lateral, mas como beque central. Mas o Leandro sem dúvida, foi o maior jogador da sua posição e da história do futebol brasileiro.

Quem foi seu melhor treinador?

Não dá para escolher o melhor treinador. Eu tive vários treinadores, como o Joubert, que talvez tenha dado, não só para mim, mas toda a geração do Zico – que subiu um ano mais cedo do que eu para o profissional – a oportunidade de trabalhar muitos fundamentos e nos colocar em melhores condições técnicas, vamos dizer assim, pelos treinamentos que ele nos dava. Um outro treinador importantíssimo na minha carreira, foi o Cláudio Coutinho, que tinha uma visão muito à frente de sua época, vale lembrar o que ele fez com a formação da nossa equipe de 76 a 80, quando deslanchamos e começamos a ganhar todos os títulos possíveis no futebol brasileiro, e para completar ainda tive o Telê, que na seleção brasileira, foi um treinador que conseguiu extrair, o que eu tinha de melhor, seja pela liberdade que dava a cada um de nós atletas, em fazer o nosso melhor dentro das nossas características e pela sua visão de futebol.

Quando entrevistamos o Zico, ele falou que o Botafogo era um time que ele sempre gostava de ganhar em razão das provocações do ex-goleiro Manga, na década de 1960. Quando jogava tinha algum time que gostava de enfrentar?

O Botafogo passou por muito anos, em função dos grandes times que teve na década de 1960, a massacrar o Flamengo. Havia uma faixa que eles levavam, que era na verdade um pano branco, no qual estava escrito: ‘VO6’, numa clara alusão à goleada que o Botafogo deu no Flamengo, no dia 15 de novembro de 1972, no 77° aniversário do clube, um verdadeiro presente de grego. Não bastasse isso, ainda vinha o (goleiro) Manga e aquelas brincadeiras de que comprava a feira antecipada na sexta-feira, porque no domingo ia jogar contra o Flamengo. É lógico, que isso era uma forma de motivação para eles e para nós e quando tivemos a oportunidade de devolver essa goleada, nós devolvemos. A partir daquele ano de 81, aquele pano branco escrito ‘VO6’ sumiu e depois, em 85, o Flamengo deu outra goleada por 6 a 1, mas eu já não estava mais e jogava na Itália. Mas na minha opinião, a grande rivalidade era com o Vasco nessa época e não o Botafogo, até porque o Glorioso não tinha grandes times, tanto que ficou um bom tempo sem ganhar um campeonato carioca e foi onde o Flamengo reinou.

Grandes jogadores do futebol nacional e internacional sofreram com contusões ao longo da carreira. Aqui tivemos como exemplo, Leandro e Zico, seus companheiros de Flamengo, que sofreram muito com cirurgias em seus joelhos e lá fora, o holandês Van Basten, com seus tornozelos. O que você atribui não ter passado por isso em 20 anos como atleta profissional?

A minha grande vantagem em relação aos meus companheiros de profissão, foi ter jogado sem apresentar contusões sérias. Tive uma torçãozinha aqui, uma pancada ali e isso, acredito eu, foi por ter tido uma formação física nas areias, onde comecei jogando com oito anos de idade. Então, meus joelhos, tornozelos, articulações, devem ter se fortalecido, e teve até um estudo feito pelo Dr. Giuseppe Taranto na época, no qual foram fazer uma reportagem sobre a minha carreira e os repórteres queriam saber sobre o fato em ter jogado tantos anos sem contusões, e o Dr.Taranto tinha a certeza que foi em função de ter jogado futebol de areia desde pequeno. E graças a Deus, isso me ajudou a jogar profissionalmente. 

Segundo o ‘Almanaque do Flamengo’, de Clóvis Martins e Roberto Assaf, foram 857 jogos, 492 vitórias, 210 empates e 155 derrotas, com 73 gols marcados. São números expressivos, não é mesmo?

Verdade. É, sou recordista de jogos do Flamengo, né? Uns dizem que são 857, outros afirmam que são 876, mas o mais importante é saber que dificilmente essa marca vai ser batida, porque a minha vida toda foi dentro do clube. Infelizmente, hoje é difícil isso acontecer, pois os jogadores trocam de clube a toda hora e na nossa época não existia muito disso.

Qual foi o título inesquecível e o jogo mais importante nessa sua trajetória no Mais Querido?

São muitos títulos e jogos disputados com a camisa do Flamengo, porém, a decisão do Mundial Interclubes contra o Liverpool em 1981 e o primeiro jogo da decisão do Campeonato Brasileiro em 1992 contra o Botafogo, vencido por nós por 3 a 0, foram os mais importantes e que eu, particularmente, tenho um carinho especial por eles.

No dia 19 de julho foi comemorado o Dia Nacional do Futebol. O que esse esporte representou para o Júnior?

O 19 de julho para a gente foi e sempre será um dia de comemoração. E esse esporte é a minha vida, onde eu entrei com 17, 18 anos e fui até meus 39 jogando profissionalmente.

E o Beach Soccer?

Tive a oportunidade, o prazer e o privilégio de jogar na areia, no Beach Soccer de 1993 a 2001. Foram oito anos se divertindo, em um esporte que estava começando e a gente conseguiu dar um impulso grande. Particularmente falando, tenho o maior orgulho em ter começado aqui no país esse esporte que se tornou profissional. 

Ser campeão do mundo com a camisa da seleção, seria a cereja do bolo numa carreira tão vitoriosa como a sua?

É lógico, que uma Copa do Mundo é importante na carreira de todo jogador de futebol. Infelizmente, a gente não teve essa sorte, mas acho que a minha geração deixou um legado dentro do futebol brasileiro. Eu por exemplo, fui comprado pelo Torino-ITA, exatamente pelas minhas atuações dentro da seleção brasileira no Mundial de 1982, na Espanha. Se tivesse vencido, é lógico, seria a cereja do bolo de uma carreira em que, afirmo, não posso me lamentar por tudo aquilo que aconteceu em mais de vinte anos como profissional.

Do que você sente mais saudades quando era jogador?

Saudades mesmo eu sinto do clima, da atmosfera, do ambiente do futebol. Foram muitos amigos, vitórias, conquistas, e tudo vivido no Flamengo dos anos 80 e depois em 1992 com a garotada extremamente talentosa, como Marcelinho, Júnior Baiano, Marquinhos, Rogério, Nélio, Piá. Foi essa rapaziada toda que me deu uma sustentação muito boa para que eu pudesse prolongar minha carreira. Para você ver, eu voltei com a intenção de jogar um ano, e joguei por mais cinco, voltando inclusive à seleção. Sou muito grato a essa molecada!

Ter retornado ao Brasil, mais uma vez para vestir a camisa do Flamengo, em 1989, foi uma decisão tomada para realizar o sonho do seu filho Rodrigo ou realmente era hora de voltar?

Quando eu voltei em 1989, foi muito mais em função do pedido do meu filho Rodrigo,  que vendo um vídeo cassete que o Zico me deu de presente com os gols dele me perguntou: “Pai, quando eu vou te ver jogando no Maracanã?”. Então,  desde 84 na Itália, achei que era o momento de voltar, apesar de ter um convite para continuar no futebol italiano. Acho que foi uma das coisas, ou melhor, um dos grandes acertos que fiz no que se refere ao tomar uma decisão. Na verdade, não somente pude dar essa possibilidade dele me ver jogar no Maracanã, mas com conquistas importantes como a Copa do Brasil em 1990, Campeonato Carioca em 91 e o Brasileiro em 92, inclusive voltando para a seleção brasileira, aos 38 anos. 


Você comandou o jovem time da Gávea, que tinha Júnior Baiano, Nélio, Marquinhos, Fabinho, Paulo Nunes, Marcelinho, entre outros, no título Brasileiro de 1992. À época, você era o meio-campista da equipe comandada pelo técnico Carlinhos e que derrotou o Botafogo nas finais. Como foi ser o único remanescente do Flamengo de 81 e conviver com aquela garotada?

Essa foi uma conquista das mais importantes na minha carreira, tendo Carlinhos como treinador, no Campeonato Brasileiro de 1992. Vale ressaltar, que aquele grupo conseguiu superar uma série de problemas. Aquela garotada foi como um elixir da juventude, porque eu pude conviver com eles por quatro anos e eles me dando muitas forças, ouvindo meus conselhos, no qual ia contando muitas histórias do que vivi e do que eles estavam por viver em suas carreiras. Foi muito legal e um momento muito especial de verdade, não só para mim, mas para eles também, acredito. 

Você já foi diretor de futebol do Flamengo em 2004. Pensa em algum dia em se tornar presidente do clube?

Quando se é pelo Flamengo nunca se é convidado e sim convocado, e na verdade, eu não queria ser treinador. A minha ideia sempre era fazer um trabalho da direção do futebol como aconteceu em 2004, em um período difícil em relação a recursos financeiros, pois o Flamengo passava um momento muito difícil. Mas independente disso tudo, a gente conseguiu ser campeão Carioca tendo o Abel como treinador, chegamos à final da Copa do Brasil, mas infelizmente perdendo em casa para o Santo André. No entanto, conseguimos permanecer na primeira divisão do Brasileiro, que era o nosso desafio. E mesmo com tudo desfavorável, conseguimos, repito, ter um ano satisfatório, apesar dos poucos recursos.  

Primeiro você foi chamado de Capacete e anos depois de Maestro. Como surgiram esses apelidos?

Quem me colocou o apelido de Capacete, foi o Reinaldo, aquele ponta-direita que veio do América para o Flamengo. Em função do meu cabelo, ele dizia que parecia um Capacete, mas não era pejorativo e sim um apelido carinhoso. Inclusive, é bom que se diga, eu jamais fiquei na bronca com isso e brinco sempre no que se refere a apelidos, de quem tem o nome de Leovegildo, não sofre nenhum problema com isso. Posteriormente, já no final de carreira, o (radialista) garotinho José Carlos Araújo, me chamou de Maestro, dizendo que eu regia o meio-campo e ficou esse apelido. E quem mais fez solidificar esse apelido Maestro foi o meu amigo e narrador Luís Roberto, que durante as transmissões começou a me chamar de Maestro e hoje, isso foi aclopado, vamos dizer assim, ao meu nome. 

Jorge Jesus saiu do Flamengo com números extraordinários, títulos, recordes quebrados e deu ao clube uma Libertadores que há 38 anos o torcedor rubro-negro não comemorava. Na sua opinião, quais foram os méritos do treinador português à frente do ‘Mais Querido’?

Jesus conseguiu fazer um trabalho excepcional em todos os sentidos. Primeiro, pela questão do tempo, porque o que ele conseguiu em seis meses, dificilmente vai acontecer com outro treinador, um trabalho tão vitorioso e jogando um futebol em que até os próprios adversários admiravam. Portanto, de junho de 2019 a dezembro do mesmo ano, o Flamengo jogou um futebol encantador a ponto de conquistar uma Libertadores e fazer uma partida de igual para igual contra o Liverpool na decisão do Mundial. O legado de Jorge Jesus foi para o futebol brasileiro e não apenas para o Flamengo, que fez com que os outros treinadores revissem seus conceitos em termos de futebol. Sinceramente falando, dificilmente vai acontecer com um outro treinador conseguir fazer um trabalho assim tão bom em tão pouco tempo como ele conseguiu.  

Quem foi melhor na sua opinião: o Flamengo de 1981 ou o de 2019?

Acho que não dá para comparar. O time de 1981, reinou por anos e conquistou muitos títulos, como três Brasileiros, uma Libertadores e um Mundial. Mas admito que o time de 2019 jogou um futebol parecido com aquele nosso, mas o time de 1981, ganhou tudo e por muito tempo. Acho que essa é a diferença entre essas duas equipes.

Você recentemente se tornou vovô do pequeno João. Já começou a contar suas histórias para contar para o netinho?

Ele ainda é pequeno ainda, João Henrique tem somente 2 anos, mas a gente já começa a contar as histórias da carreira e de tudo isso que aconteceu. Quando ele estiver maiorzinho, ele vai gostar mais ainda (risos).

Faltou algo na sua carreira?

De forma alguma. Muito pelo contrário, só tenho a agradecer, porque joguei por mais de vinte anos, com grandes conquistas, com grandes experiências no Flamengo, Seleção Brasileira, Torino-ITA, Pescara-ITA, e não posso reclamar. Apenas agradeço por tudo o que aconteceu na minha carreira.


Sabemos que você tem duas paixões: o seu projeto social ‘Samba da Sopa’, que em virtude desse isolamento social está parado, e caricaturas. Queria que falasse um pouco delas.

Verdade. Esse projeto social O Samba da Sopa, no qual a gente consegue se divertir numa roda de samba, mas também ajudando com cestas básicas para várias instituições que precisam. Em agosto agora, completou treze anos desse projeto e temos conseguido fazer coisas legais e arrecadar bastante coisa. Espero que esse projeto não pare nunca, pois é uma satisfação muito grande você ajudar pessoas que precisam de verdade. Já sobre as caricaturas, elas são uma outra paixão, que vem desde pequeno. Sempre gostei de fotos, mas as caricaturas me encantam, porque eu vejo uma arte naqueles que conseguem fazer esses desenhos e que é realmente uma coisa excepcional. A caricatura traduz exatamente a arte dessas pessoas que têm essa capacidade. Amo caricaturas e tenho várias, tem uma inclusive, de um amigo de Torino, que fez na época em que eu estava lá, caricaturando todos os jogadores e a minha que ele retratou foi quase uma fotocópia. Eu adoro, adoro caricatura realmente!

Defina Júnior em uma única palavra?

Eu acho que sou um parceiro, sou um cara que gosto de amizade e de ter meus amigos sempre por perto. Mas se realmente for para me definir em uma única palavra, diria que sou um parceiro.

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