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VAI’NBORA, NÃO. PLEASE!

23 / agosto / 2016

por Mauro Ferreira


Vai passar. 

O tempo apaga tudo, é senhor da razão, é isso e também aquilo. Diz-se. No entanto, você se foi e não prometeu voltar. E a dor é profunda, daquelas que jamais vai parar de doer. Por oito anos esperei sua chegada. Supus, inclusive, que não viria. Ou, se viesse, traria problemas, uma certa ciumeira poderia atrapalhar bastante o relacionamento. Sua única promessa era ficar por 17 dias. Ficou os 17. Nem um a mais, nem um a menos. Mas ô 17 dias! 


Começou reclamando das acomodações, e com razão. Na pressa misturada com ansiedade, dei uma vacilada. Depois… Depois foi ficando intenso, a paixão aumentando o desejo, o desejo revirando os olhos, e, de tanta intensidade, a paixão virou amor. Um amor cúmplice. Amor tão grande como se fosse um planeta enclausurado numa pequena cidade.

Sério, você viu a festa que fiz na sua chegada? Preparei cuidadosamente para que fosse grandiosa, diversa, eloquente, alegre, chique e mínima. A grandiosidade de uma pétala. Confessa, você achou o máximo. Pode confessar. Depois dali, daquela festança que teve até fogos de artifício, fui mostrando todos os meus cantos e até – perdão pela marra – os encantos. Perdão de novo, mas sou assim porque não consigo esconder as belezas e a simpatia. É meu. Está no meu DNA.

Mas você também é um encanto. Daqueles arrebatadores. Enquanto eu reino no microcosmos, você se utiliza de todas as cores e bandeiras, da força e da delicadeza, da lágrima e do sorriso. E mistura tudo isso pra dirigir todos os olhares em sua direção. E faz o mundo se derreter. Alguns já desfrutaram da sua beleza, mas nenhum, nenhum foi como eu. Por acaso alguém levou você para mergulhar numa piscina verde? Alguém já disse pro mar dar uma forcinha e alimentar uma baia poluída com águas fresquinhas, só pra você velejar? E remar naquela lagoa de visual exuberante e ainda com um Cristo empoleirado em cima daquele pico, de braços abertos como se águia fosse? Foi uma benção, fala sério.

Como os outros, ofereci medalhas aos que mais se destacaram da trupe trazida para cá. Mas, pra ser diferente, em vez de raminho de flores, estilizei uma sandália havaiana, a enchi de cores e distribui. Fiz um boneco serelepe, meio tudo, meio nada, com o meu sorriso estampado na cara. Dei vida a ele, como se Gepeto fosse. Traquina, uma hora fez o raio, noutra deu cambalhotas e até se meteu no meio de umas brigas estranhas. Além da vida, também dei um nome. Nome de poeta. E você levou Vinicius para compor sua coleção. 


Os dias foram passando, seus olhos com um brilho mais intenso a cada um deles. Lá, naquela chamada de Princesinha do Mar, vivemos dias muito intensos, energéticos, Red Bull. Nos jogamos na areia e depois nadamos por horas. Passeamos do Leme ao pontal. Andamos de bike pela floresta, num parque único no mundo. E ainda mostrei algumas de nossas mazelas, quando um puliça foi morto a dois passos de uma boca de fumo, dentro de uma das mais famosas de nossas favelas. Ou quando mostrei um presidente não tão presidente assim, logo na festa de abertura, dando a ele o direito de falar uns segundinhos e demonstrar logo no início que a gente também vaia gente que não é simpática. Tudo isso para você ver exatamente como eu sou, meus defeitos e minhas muitas enormes virtudes. Já falei, sou marrento como qualquer carioca, perdão.


E você, moça bonita, também foi me derretendo. Brincando com meus sentimentos. Chegou a me fazer torcer até por juiz, tamanha a loucura e o amor que tomou conta da gente. Um amor daqueles de não se largar mais. Pois é, mas foi chegando o fim dos tais 17 dias. Muitos da sua trupe já não queriam mais sair daqui. E nem você. Nem você. Mas, mesmo apaixonada por mim – e eu por você, confesso – você se foi. No último dia, esperneei, bufei forte, sopros de mais de 100 quilômetros, misturados a um choro que durou o dia todo. Mesmo assim, com muita tristeza, fiz outra festa para sua despedida. Com direito a desfile de escola de samba, mesmo não sendo época de carnaval.

De todos com os quais você se relacionou, nenhum tem sobrenome. Nenhum. Portanto, ninguém pode lhe prometer sobrenome num pedido de casamento. Eu posso. E por todo esse amor construído em 17 dias eu lhe peço em casamento. Casamento sem direito à dissolução. Eterno, mesmo se não durar. 

Ah, Olimpíada, vai’inbora não, please!

Do seu,

Rio de Janeiro.

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