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UMA RELÍQUIA QUE MANTÉM VIVO O VERDADEIRO MARACANÃ

16 / julho / 2020

por André Felipe de Lima


Há uma bola de futebol em minha vida. Não aquelas convencionais, de couro ou mesmo as de meia, com as quais dei meus primeiros chutes no chão de terra e cimento da vila onde nasci e cresci. É uma bola de mármore. Um mármore muito especial no qual milhões um dia pisaram, pularam, vibraram, cantaram ou mesmo choraram. Aliás, o choro primevo está cravado nela, que tornou-se uma relíquia sem preço. Minha amada bola está marcada com lágrimas que, na dolorida tradução poética, assemelham-se às lanças com as quais imperadores romanos ceifaram cristãos em priscas eras. Só mesmo a fé celestial de gente como aquela para seguirmos adiante após o fatídico 16 de julho de 1950. Vejam, amigos, são 70 anos que esta bola permanece encharcada com lágrimas de milhões. Mas ela, teimosa, seguiu firme para presenciar reviravoltas de placares inimagináveis, no campo e na vida. Esta bola viu seleções extraordinárias conduzirem o Brasil ao pentacampeonato mundial. Viu, inicialmente, Zizinho e Ademir de Menezes. Viu também Barbosa e sua imagem mais marcante após o gol de Ghiggia naquela data medonha. Viu depois Didi, Nilton Santos, Dida, Evaristo, Garrincha, Dequinha, Bellini, Vavá, Almir, Quarentinha, Waldo, Telê… viu Pelé, a nossa majestade universal. Viu Gerson, Paulo Cezar Caju, Tostão, Rivellino e o nosso tricampeonato sendo construído nas gramas de seu septuagenário estádio. Viu Zico, Roberto Dinamite. Viu Romário. A minha bola de mármore viu isso tudo, mas não verá mais. Ela está aqui comigo, longe do chão onde um dia brilhava porque havia gente zelosa e especial a lustrá-la diariamente. Gente que, embora com nome, CPF e identidade, sempre passava despercebida aos olhos de torcedores e jornalistas. Hoje, setenta anos após aquele gol uruguaio que nos fez chorar sangue, a minha bola tem um novo e dedicado lustrador. Este cronista, no seu recanto, no Rio de Janeiro, no dia 16 de julho de 2020, sentindo muita saudade daquele estádio que já não existe mais. Daquele do qual restou somente a minha linda e brilhante bola de mármore.

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