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andré felipe de lima

FIM DE COPA E O ‘JANTAR’ DO COUTINHO

por André Felipe de Lima

Cláudio Coutinho é o que podemos definir como o ápice da militarização na seleção brasileira. Ou, ao menos, a efetivação dela no escrete. Muitos dos conceitos (inclusive táticos) que empregara no time que foi à Copa do Mundo de 1978, na Argentina, tiveram como embriões modelos militares. Coutinho, afinal, era capitão do Exército e o país ainda respirava o fétido ar da ditadura militar. Isso tudo é fato. Mas a verdade é que, no campo, aquela seleção foi eficiente e só não chegou à final daquele Mundial devido à mutreta (inquestionável) naquele jogo entre argentinos e peruanos, que terminou 6 a 0 para os anfitriões, que acabariam campeões daquela que é a mais obscura de todas as Copas já realizadas. Fim de papo em Buenos Aires, Coutinho, jogadores e toda a delegação arrumaram as malas para regressarem ao Brasil com a pecha de “campeões morais”.

Mas há uma inusitada história descrita pelo saudoso repórter Tárlis Batista (1940-2002), um carioca de Pilares, que sempre entendeu (e muito!) de samba e futebol. Trabalhou na TV Manchete, onde cobria o desfile das escolas de samba e comandara um programa esportivo (cujo nome não me recordo) que recebia inúmeros craques da época. Zico, entre eles. O Galinho era uma de suas fontes principais no dia a dia do futebol.

Tárlis cobriu a Copa de 78 pela revista Manchete Esportiva — ele, aliás, trabalhou em praticamente todas elas da antiga editora Bloch. É dele a história de uma “homenagem” que os jogadores da seleção queriam prestar ao Coutinho. A ideia pintou ainda no avião que transportava todos de volta. Zico, Edinho, Rivelino, Gil, Toninho, Abel, Roberto Dinamite e Dirceu combinaram de promover um jantar para Coutinho no badalado restaurante Castelo da Lagoa, que já não existe mais. Foi fechada a umas três décadas, creio.

No dia combinado, Edinho foi o primeiro a chegar. “Chegou, olhou, procurou e concluiu que estava absolutamente só”, escrevera Tárlis Batista. A hora avançara. O relógio apontava 22 horas e o jantar estava marcado para as 21h. O zagueiro do Fluminense, que foi improvisado por Coutinho na lateral-esquerda da seleção, levantou-se e foi embora. Zico chegara logo após a saída do Edinho. Estava acompanhado de Sandra, sua esposa. “Ficou ali, parado, aguardando, durante duas horas, mas nem mesmo Cláudio Coutinho, o homenageado, apareceu. Então, cansado de tanto esperar, Zico jantou e foi embora, mancando, apoiando-se no ombro da sua mulher, grávida de quatro meses”, descrevera Batista.

A “homenagem” não rolou e a tentativa de “gratidão” ficou restrita ao Zico e ao Edinho. Nunca se soube quais foram os motivos que fizeram a maioria dos jogadores melarem o tal jantar. Somente Zico, Edinho e, sobretudo os que fizeram forfait podem explicar a repentina mudança de agenda.

O MEU LATERAL-ESQUERDO

por André Felipe de Lima

Marco Antonio Feliciano foi daqueles laterais esquerdos fora da curva. Foi campeão com a seleção brasileira na Copa de 70 e conquistou títulos pelo Fluminense e o Vasco. Minha relação com Marco Antonio é especial porque foi ele o lateral esquerdo, também, do meu time de botão quando eu tinha uns nove anos de idade. Era o Orlando Lelé na direita e ele na canhota. Não abria mão de ambos. E esta reverência ao Marco Antonio é ainda maior porque o jogador esteve na final do campeonato carioca de 1977. Vibrei feito um doido, um menino maluquinho, encantado com aquela escalação campeã que sei de cor e salteado. Nunca a esqueci: Mazzaropi, Orlando, Abel, Geraldo e Marco Antônio. Zé Mário (estupendo! O craque do jogo), Zanata (depois entrou o Helinho) e Dirceu. Wilsinho (depois o Zandonaide), Roberto Dinamite e Paulinho (que jogou no lugar do Ramon, o titular). O treinador era o “Titio” Orlando Fantoni. Marco Antonio esteve soberbo naquele jogo sem dar mole para as avançadas do Ramirez (depois as do Tita) e do Toninho, um lateral desesperadamente improvisado na ponta direita. Fomos campeões, e isso é que importa. Dona Agripina tinha muito orgulho do filho Marco Antonio. Afinal, era um garoto ajuizado que a ajudava entregar quentinhas e que um dia quis ser detetive, mas foi como jogador que Marco Antonio brilhou à beça e enchia de lágrimas os olhos da mãe extremosa. O cara foi cinco vezes campeão carioca. Quatro pelo Fluminense e uma pelo Vasco. Isso é para poucos. Lembro até o hoje o dia em que abri uma embalagem do chiclete Ping Pong com alguns cartões da coleção Futebol Cards. Deparei-me com o do Marco Antonio. Foi uma felicidade indescritível. Hoje, dia 6, é aniversário dele. Parabéns, Marco Antonio, o meu lateral-esquerdo.

COMO CONSTRUÍ UM AMOR

por André Felipe de Lima

Eu tinha, sei lá, uns quase seis anos. Vivo confundindo minha idade. Ter nascido em um dia 31 de dezembro sempre deixou-me um pouco (às vezes até muito) confuso. E é assim até hoje. Só tenho certeza de que o ano era 1974 e o mês era julho. Ano e mês em que comecei a compreender que o futebol entrara em minha vida para não mais sair dela. Um dia em que, ao lado do meu pai, assisti, numa TV colorida (raridade na época), da tribuna dos profissionais do Hipódromo da Gávea, o jogo em que o Brasil perdera da Holanda, sim, a “Laranja mecânica”, de um tal “Cruyff”. Meu pai via o jogo e conversava comigo como se eu lá entendesse alguma coisa daquilo que se passava na TV. Solitários, eu e papai, em um jóquei clube completamente vazio, sem vivalma sequer, vimos o Brasil tomar um baile. Eu, e faço questão de frisar, não entendia nada do que acontecia em campo, mas achava do cacete aquele monte de maluco (sim, para mim todos uns doidos varridos) cabeludo (sim, cabeludos, porque era moda, na época, ostentar cabeleiras) chutando a bola um para o outro e os que vestiam camisa de cor azul tentando roubar a bola do pé dos camaradas que vestiam blusa laranja. Comecei a me dar conta de que aquilo ali, além de ser muito divertido, chamava-se futebol. Essa emoção aumentaria no mês seguinte. Eu explico o porquê. Meu pai tinha tudo para ser botafoguense. O pai dele, meu avô, o levava a jogos do Botafogo, isso lá nas décadas de 1940 e de 50. Mas havia um certo “Expresso da Vitória”, cuja camisa era ora branca, com faixa diagonal preta e uma cruz de malta no coração, ora o contrário, ou seja, preta com faixa branca, porém com a cruz sempre em vermelho. Havia também naquele “Expresso da Vitória” um cara chamado Ademir, com um queixo proeminente, mas com uma imagem quase bíblica nas fotos. Papai mostrou a foto dele para mim. Bom, por causa do tal Ademir o meu pai ignorou a “pressão” do vovô, deixando para lá o Botafogo. Voltando a minha particular história, eu, no mês seguinte aquele jogo dos caras de azul contra os caras de laranja, voltei a me empolgar com o futebol. Estavam em campo, aquele time da cruz de malta e outro com cabeludos de azul. Sabia que meu pai gostava do time que tinha a cruz de malta. Tentara me explicar isso algumas vezes, a história dele com o vovô. Mas não demoraria para que eu a compreendesse. Daquela vez não assistimos ao jogo pela TV. Não tínhamos TV em casa. Ouvimos, então, pelo rádio. E, naquele dia de agosto de 1974, passei a amar três coisas, e todas, harmoniosamente como uma trova, entrelaçadas: o time da cruz de malta, o futebol e as transmissões pelo rádio. O jogo terminara e recordo a alegria do meu pai, que gritava: “É campeão! É campeão! O Vasco é campeão!”. Eu não entendia rigorosamente nada, mas gritei com ele. “Campeão, papai! Campeão, papai! Vasco! Vasco! Vasco!”. No dia seguinte, logo cedo, pela manhã, peguei minha caixinha de lápis de cor e desenhei, tentando copiar o que via no jornal do meu pai, o escudo que se tornaria amor da minha vida, e encantei-me com a foto, em especial, de um cabeludo, de proeminentes dentes frontais e de sorriso farto, que no jornal se encontrava. As imagens daquele escudo e do cabeludo de sorriso farto jamais saíram da minha memória. E da minha caixinha de lápis de cor nasceu o que eu entendia como “O meu Vasco, o meu amor”. Obrigado, Ademir, pelo meu pai; obrigado Roberto Dinamite, por mim.

LEMBRA DO RODRIGUES NETO? FOI O CASCA-GROSSA NA COPA DE 78

Foi ídolo no Flamengo, no Fluminense e no Inter. Hoje, faria anos o lateral-esquerdo que encantou os argentinos no Mundial de 1978

por André Felipe de Lima

Foto de J.B.Scalco, Copa de 78

Ele curtia os atores Gary Cooper, John Wayne (e porque ninguém é de ferro) a estonteante Sônia Braga. Diziam que gostava de churrasco com farofa e de um carteado com amigos, mas apenas para passar o tempo, sem grana na jogada. Esse perfil está na antiga coleção Futebol Cards, com a qual a garotada, hoje na casa dos cinquentinha, se divertia entre 1979 e 1980. Réu confesso, fui um daqueles “fominhas” pelos disputadíssimos cartões com chiclete. Mas o camarada do cartão a que me refiro chama-se José Rodrigues Neto, um mineiro que hoje completaria 73 anos.
Foi um lateral-esquerdo valente, excelente marcador. O estilo seduziu Claudio Coutinho, que, além de técnico da seleção brasileira, também treinava o Flamengo, onde o titular da posição era o incomparável Junior. Coutinho ignorou Junior e levou Rodrigues Neto para a Copa do Mundo de 1978, na Argentina.
Começou na reserva, mas com o ímpeto nos treinos convenceu Coutinho de que seria importante para a defesa, onde também se destacava Amaral. Aliás, como esquecer aquela rebatida na bola, em cima da linha do gol, no jogo contra os espanhóis? Amaral era sensacional. Mas o papo (e prossigamos) é com o Rodrigues Neto, que também foi um leão na grande campanha do Brasil naquela Copa do Mundo fajuta, arranjadinha pela ditadura argentina para que eles, os hermanos, fossem os campeões.

Ficamos com um honroso terceiro lugar, e Rodrigues Neto lavou a alma com os apupos que justamente recebera. Afinal, ele teria ido para a Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, não fosse uma até hoje mal explicada história em que o jogador abandonou o escrete durante uma excursão à Europa, no ano anterior. Ao dar de ombros para a delegação, que se encontrava em Berlim, o lateral selara seu destino longe da seleção brasileira. Pelo mesmo enquanto Zagallo fosse o técnico. Pelo menos até o fiasco do Brasil na Copa de 74.
Inventaram de tudo como motivo para Rodrigues Neto ter abandonado a seleção em 73. Citaram, inclusive, a trágica morte da primeira esposa dele, ocorrida em 1970, durante um parto prematuro. Rodrigues não estaria bem psicologicamente e por isso andava fazendo bobagens; também maldosamente comentaram que estaria enrabichado com amantes e que até teria se recusado a fazer um tratamento psiquiátrico sob recomendação do Flamengo após a morte da esposa. Porém o próprio jogador desfez o emaranhado de especulações e disse que decidiu deixar a seleção porque estava machucado e de nada adiantaria brigar pela posição com Marinho “Bruxa” Chagas e Marco Antônio, o reserva do Everaldo na Copa de 70.

A vida seguiu. O lateral impressionou os argentinos na Copa seguinte e ficou por lá mesmo, em Buenos Aires. Poucos meses após a vexatória competição organizada pela Fifa, o Ferro Carril Oeste, que na época peitava os grandões Boca Juniors, River Plate, Independiente, San Lorenzo e Racing, contratou o brasileiro. Rodrigues Neto estava com 29 anos: “Aqui, na Argentina, o jogador é mais respeitado como ser humano. No Brasil, você é considerado acabado quando passa dos 27 anos. Mesmo assim, não entendo como lá, no Brasil, possam se surpreender com meu sucesso no Ferro Carril Oeste. Ora, em julho de 1978 eu era titular da seleção brasileira!”

Veja só o que César Luiz Menotti, técnico da seleção da Argentina campeã da Copa de 78, dizia do Rodrigues Neto: “Lástima que El Negro Neto no sea argentino”. Pois bem, ele era respeitadíssimo e sempre garantiu jamais ter sofrido alguma cena de racismo na temporada que passou em Buenos Aires. Já “coroa”, com 35 anos, defendeu o Boca Juniors, mas a passagem pela Bombonera durou muito pouco. Nem um ano inteiro.

Rodrigues Neto jogou pelo Flamengo. Chegou à Gávea após ser “descoberto” pelo olheiro e massagista Mineiro, em 1965. Com o Rubro-negro, foi campeão carioca de 72 e de 74. No troca-troca da dupla Fla-Flu, ele acabou indo para as Laranjeiras no ano seguinte. No Fluminense, foi o lateral canhoto titular da Máquina montada por Francisco Horta, e foi campeão carioca de 1976. Do Tricolor foi para o Botafogo, em fevereiro de 1977, ocupar a lacuna deixada pelo Marinho Chagas. Não ganhou nada lá. Era um tempo difícil demais para o Alvinegro, que mesmo assim montou um timaço, que incluía Paulo Cezar Lima e outros cobras sensacionais. Mas Rodrigues Neto queria ser novamente campeão, e foi com Inter, em Porto Alegre, ser feliz novamente, erguendo taças.

O futebol é generoso para quem o leva a sério e é, sobretudo, competente com a bola nos pés. Rodrigues Neto foi tudo isso e um pouco mais.

Do sucesso nos gramados a um susto tremendo muitos anos depois. Em 2015, Rodrigues Neto descobrira, pela imprensa, que havia… morrido. Vários jornais, sobretudo da Bahia, e sites esportivos conceituados publicaram a notícia, com obituário, lástimas e tudo o mais. Mas o Rodrigues que verdadeiramente morrera foi um ex-ponta-esquerda que defendeu o Flamengo, a Portuguesa de Desportos e o Cruzeiro.

Após dias internado no Hospital de Bonsucesso, na zona norte do Rio, Rodrigues Neto nos deixou, no dia 28 de abril de 2019, em decorrência de uma trombose que, por sua vez, foi intensificada pela diabete.

ASSIS, UM ÍDOLO TRICOLOR QUE NASCEU NO DIA DO FLUMINENSE

Assis foi um jogador mágico. Encantou milhões de tricolores país afora. Hoje, o saudoso ídolo faria anos. Lei nas linhas a seguir a biografia do “Carrasco” do Fla-Flu

por André Felipe de Lima

Inquestionável. Os primeiros anos da década de 1980 foram dominados pelo Flamengo de Zico, um time [aparentemente] insuperável, conquistador de tudo o que via pela frente. Diante da superioridade rubro-negra, os rivais precisavam responder à altura. Missão espinhosa, sobretudo para Vasco, Fluminense e Botafogo. Um destes clubes daria, contudo, o troco ao clube da Gávea… e na mesma moeda. Ou, talvez, mais.

Em 1983, despontava um time Tricolor, comandado pelo técnico Cláudio Garcia, que poucos acreditavam ir longe. Tampouco afrontar aquele indefectível e intransponível Flamengo. Pena Nelson Rodrigues, que morrera em dezembro de 1980, não ter visto aquela até então desconhecida fileira heroica, da qual o líder chamava-se Assis. Quantas odes Nelson escreveria para reverenciá-los o Tricolor e, por que não, o Assis?

Fluminense e Assis — reunidos em uma única entidade, a vitória — encantaram o futebol carioca. E ao Flamengo restou a conformação. Era necessário aturá-los, pelo menos entre 1983 e 1985. Nesse período, só deu Flu, e mais ninguém.

À frente da trupe das Laranjeiras, Assis, o “carrasco rubro-negro”, um camarada que, como poucos na humanidade, ostenta a aura dos heróis predestinados. Seres mitológicos, que sofrem o pão que o diabo amassou até alcançarem o reconhecimento do Olimpo.

Bastaria a trajetória de Assis para que se instaurasse um encantamento imediato entre ele e o “profeta tricolor”. Seria amor à primeira vista. Amor santificado, imaculado, porque o ídolo tem nome e sobrenome de santo popular: “Benedito” é o primeiro, “Assis”, o segundo. Sobra espaço para o “Silva”, o derradeiro. “Silva”, de santo genuinamente brasileiro. Assim foi batizado o ídolo: Benedito de Assis da Silva, um ex-meia-atacante, que nasceu em São Paulo, no dia 12 de novembro de 1952. Uma data que, segundo a Lei Estadual nº 5094 de 27 de setembro de 2007, se tornaria, oficialmente, o Dia do Fluminense Football Club. Uma coincidência divina, peremptória. “Minha ligação com o Fluminense começou quando era criança em São Paulo. Colecionando figurinha, me encantei com o cartola que era o mascote tricolor […] Acompanhava os jogos pelas TVs Excelsior e Tupi e em 1968 vi o Fluminense pela primeira vez no Parque Antártica. Foi 1 a 1, comemorei o gol do Dário e só não apanhei da torcida do Palmeiras porque era moleque”.

A carreira de Assis começou em 1970, na divisão de base do Clube Atlético Juventus. Ficou apenas dois meses na Rua Javari, no bairro paulistano da Mooca, e seguiu para a Portuguesa de Desportos. Por pouco, desistiria de jogar bola. Seria uma lástima para o futebol. Um pecado mortal, cuja pena pagariam muitos tricolores que ficariam privados da história de Assis. “Eu nasci na Vila Prudente [zona leste de São Paulo] e jogava na várzea. Nunca tive um trabalho de base. Fui para o Juventus, fiquei dois meses, mas fui dispensado. Aquilo me desiludiu. Aí fui para a Portuguesa e aconteceu a mesma coisa. Resolvi parar com o futebol […] comecei tarde na carreira, nos contratempos da ilusão e desilusão”.
De segunda-feira à sexta-feira, Assis, órfão de mãe aos cinco anos e de pai, aos 19, trabalhava durante o dia, inicialmente na Ford e depois na Persiana Columbia, e à noite estudava. Como a paixão pelo futebol falava mais alto, continuou jogando em campos de várzea nos fins de semana para receber alguns trocados. Um olheiro do São José o descobriu nas “peladas” e, em 1975, o levou para lá. Foi contratado e passou a morar no alojamento do clube. Mas Assis, já com 22 anos, vivia uma indefinição profissional. Como o São José não pagava o seu salário, resolveu parar por um tempo. Reapareceu em 1976, na Internacional de Limeira, e, no ano seguinte, na Francana, enfim decolou. Foi o destaque do time e artilheiro do campeonato paulista, na série B da competição.

Durante uma partida contra o São Paulo, um gol de Assis chamou a atenção do técnico Rubens Minelli, que recomendou a contratação do jovem ponta-de-lança da Francana aos dirigentes do São Paulo. Minelli saiu do tricolor do Morumbi em 1980 e em seu lugar entrou Carlos Alberto Silva, que endossou a ida de Assis para o São Paulo. No Morumbi, Assis realizou um antigo sonho do pai, que faleceu sem vê-lo brilhar.

CONTRAPESO

Assis permaneceu no São Paulo até 1981. Foram 88 jogos, 40 vitórias, 31 empates, 15 gols e alguns constrangimentos durante sua estada no Tricolor paulista. Muitas vezes, Assis e a torcida não se bicaram. Chegou a ouvir um grito cruel logo que o alto-falante do estádio do Morumbi anunciara a entrada do jogador em campo: “Vai, morto!”. Assis era motivo de chacota, e isso o perturbava
Sem espaço na “Máquina”, que contava com Renato, Serginho, Oscar, Dario Pereyra e Mário Sergio, foi negociado com o Internacional, de Porto Alegre. Lá, conheceu o centroavante Washington, com quem formaria uma das melhores duplas de ataque do futebol brasileiro na década de 1980. Mas não no time gaúcho. A futura dupla só vingaria no Atlético Paranaense, em 1982, quando foram trocados pelo lateral Augusto, que seguiu para uma obscura passagem pelo Inter.

Se o Atlético os recepcionou muito bem, o mesmo não se pôde dizer de parte da imprensa paranaense, como destacou reportagem da revista Placar: “A manchete da Tribuna do Paraná, de Curitiba, opinava com todas as letras: não passavam de dois mercenários. E suas fotos estavam estampadas sob um grotesco xis”.

A prioridade dos dirigentes do Furacão era, inicialmente, apenas o centroavante Washington, mais jovem que Assis. “Fui de contrapeso, fiquei mal, mas não queria atrapalhar a vida do Washington. Jurei para mim mesmo: vou provar meu valor”, disse Assis ao jornalista Paulo Fávero. Não tardou, e os dois começaram a jogar partidas memoráveis pelo Rubro-negro. Tanto que foram apelidados de “Casal 20”, em referência ao seriado americano de TV. Juntos, foram fundamentais na conquista do campeonato paranaense de 1982, cujo troféu o Atlético não erguia há 12 anos, e da ida do time às semifinais do campeonato brasileiro, realizado no primeiro semestre de 1983.

O futebol refinado de Assis, com passes precisos e velocidade, e os gols e cabeçadas de Washington deixaram a “Baixada” de Curitiba e foram parar nas Laranjeiras, após os cartolas dos clubes fecharem a negociação dos passes dos dois craques em 130 milhões de cruzeiros, mais o empréstimo de Cândido e os passes definitivos de Cristóvão, Zezé Gomes e Lela, que estava emprestado ao Coritiba.

Embora tenha chegado ao Rio novamente como contrapeso na negociação entre Atlético e Fluminense, Assis, que vestiria a camisa 10, outrora de Rivelino, foi tranqüilizado pelo então supervisor do Flu, Roberto Seabra, e pelo diretor de futebol, Nílton Graúna — este o responsável direto pela ida do Casal 20 para as Laranjeiras —, de que seria muito bem acolhido no Rio de Janeiro. Promessa cumprida. Dos dois lados. Assis abraçou a cidade e os torcedores, literalmente, o amavam. Tudo à primeira vista.

Nos seis primeiros jogos do Fluminense pela Taça Guanabara, o primeiro turno do campeonato carioca, Assis realizou façanhas em campo, com suas passadas largas e dribles. Sim, dribles apesar das longas pernas e do corpo, vá lá, esbelto, perfil que lhe rendeu o apelido “Linguiça”, que abominava.

O estilo lembrava o de Ademir da Guia. Marcou vários gols e tornou-se o cérebro daquele time, que conquistara cinco vitórias e um empate. No jogo contra o competitivo Bangu, Assis marcou dois dos 3 a 0. O primeiro gol marcou após a bola rebatida da defesa. Com malícia, Assis jogou o corpo um pouco para trás e desferiu um voleio inesquecível, com a canhota. O goleiro Tião procura a bola até hoje. Na saída do Maracanã, nos tempos em que um Bangu e Fluminense levava, fácil, fácil, mais de 60 mil ao estádio, um coro de cerca de 30 mil vozes gritava seu nome.

COMO É BOM GANHAR DO FLAMENGO

Assis nascera para liderar multidões, tal e qual um Moisés tricolor conduzindo seu povo rumo à liberdade, pela aridez do deserto. Os fiéis a segui-lo, não questionavam o ídolo, que agradecia pela incontida fé: “O futebol no Rio é diferente: mais técnico, bonito de se ver. O tratamento também é diferente: a gente vê que as pessoas torcem para que você cresça, seja bom, seja amado. Sinto-me muito bem aqui”.

Após aquela Taça Guanabara, da qual o Flu foi campeão invicto [nove vitórias e dois empates], Assis continuou a fazer gols — principalmente os dois na final contra o América —, proporcionou outras grandes conquistas ao Flu e ingressou definitivamente para o panteão de heróis tricolores, tornando-se um dos maiores jogadores de todos os tempos do clube e figurinha fácil em qualquer escalação de time dos sonhos do Fluminense. E o Flamengo que o diga…

Marcou gols antológicos, sobretudo em clássicos Fla-Flu, como o da final do campeonato carioca de 1983, realizada em dezembro, assinalado aos 45 minutos do segundo tempo. O mais marcante de sua carreira, confessou Assis, que foi o artilheiro da campanha do estadual, com 11 gols, e considerado o grande ícone daquele novo Fluminense que emergia.

A premonição de que o Flamengo tombaria diante do Flu viera às três horas da madrugada de sábado para domingo, na concentração tricolor. Assis, cumprindo uma espécie de ritual em vésperas de jogos, telefonara para seis amigos, entre eles a então noiva Ane Valéria e Ivair, ex-companheiro do Atlético Paranaense, definido por Assis como pé de coelho. “Olha, bicho, domingo à noite nos encontramos nos Gols do Fantástico”.

Dito e feito.

Faltavam apenas 15 segundos para se esgotarem os 45 minutos do segundo tempo. O 0 a 0 no placar colocaria o Flamengo para decidir o título contra o Bangu e tiraria o Fluminense do páreo. Naquele momento, o bandeirinha Eraldo Prevot apontou impedimento de Adílio, na intermediária tricolor. O meia [e maestro] Delei, exímio lançador, ajeitou a bola rapidamente, esticando-a até Assis, que, pela meia-direita, e completamente desmarcado, troca de pé, tirando o goleiro Raul da jogada. Um chute preciso de canhota. Gol que, após o empate entre Flamengo e Bangu, entraria para a história como o do primeiro título da “Era Assis”.

“Ali [após o gol aos 45 minutos] o Flamengo não teve mais chance de reação. Era meu primeiro ano no Fluminense e foi um dos dias mais importantes da minha vida. Meu parceiro de quarto na concentração era o Jandir. Antes do jogo, estávamos no hotel depois do lanche e senti que ele estava nervoso. Daí eu falei: “’Tá com medo, Jandir? Se estiver, fala comigo, que eu te tranquilizo fazendo um gol na final.’ Depois, já no vestiário, passei pelo Newton Graúna, que era o diretor de futebol da época e foi uma pessoa que lutou muito pela minha contratação. Ele estava estranho e eu logo falei: ‘Alguém arruma um calmante pro Graúna? O cara está tremendo! Pode deixar que eu vou fazer o gol’”.
O “intranquilo” e feliz Jandir, já nos vestiários, agradecia a Deus ter Assis no mesmo time. “Olha, gente, quem tem esse neguinho Assis no time, tem bicho certo”.
Edinho ganhou de Zico. Ambos estavam na Itália, defendendo a Udinese, que acabara de empatar um jogo encarniçado contra a Juventus, de Platini. Edinho, preocupado com o Fla-Flu, telefonou para Assis horas antes de o jogo começar no Maracanã. “Cara, eu e Zico apostamos umas mussarelas [sic], provolones e vinhos neste Fla-Flu. Quero ganhar, Assis”. De supetão, O Galinho de Quintino entra na linha: “Assis, o Tita é melhor que você!”. Restou ao Assis emitir uma sonora gargalhada e rebater a tese de Zico: “Melhor que eu, só você, Zico. E trate de pagar o Edinho, porque o Flu vai massacrar”.
No final do jogo, o craque-profeta Assis vaticinou: “Ao olhar o presidente do Flamengo [George Helal], senti que nem precisarei jogar com o Bangu. Eles vão fazer o serviço para nós. Pena que não poderei me despedir da torcida, nem dar volta olímpica. Azar. Ano que vem tem mais”.

E teve.

Além do campeonato brasileiro, no primeiro semestre de 1984, em cima do Vasco, na final do campeonato carioca, no segundo semestre, Assis repetiu a dose sobre o Flamengo e, após uma cabeçada certeira contra a meta do argentino Fillol, deu ao Flu o bi-campeonato. Com esse feito incomparável, tornou-se o único jogador a marcar o gol do título estadual do Rio em duas decisões seguidas entre Flamengo e Fluminense.

O “carrasco do Flamengo” não se satisfez com o “bi” e conquistou o estadual em 1985, para cima do Bangu, em um controvertido jogo apitado por José Roberto Wright. Embora tenha sido um dos pilares do time durante toda a campanha do “tri”, Assis não entrara em campo na final. Em novembro daquele mesmo ano, sofrera uma grave contusão após uma entrada violenta do marcado Jair, do Bangu. Como o joelho direito baleado, só voltaria a tocar numa bola em março do ano seguinte.

Assis estava tenso naquela final contra o Bangu. Sentado nas cadeiras azuis do Maracanã, observava o time apático. Terminado o primeiro tempo, com o Flu em desvantagem no placar, desceu ao vestiário tricolor para incentivar os companheiros. Assis não retornou às cadeiras especiais do Maracanã, preferindo ficar no bando de reservas. A imagem do ídolo foi fundamental, mesmo que fora de campo. Com Assis mais próximo, os jogadores sentiram-se seguros e Flu virou o jogo. Flu, enfim, “tri”. Assis, decididamente, mestre.

No Maracanã, durante os anos de glória de Assis no Flu, a torcida do Flamengo ouviu diversas vezes o coro tricolor ecoar nas arquibancadas: “Recordar é viver, Assis acabou com você”. Era a especialidade dele: demolir o Flamengo. Gostava de aporrinhar a torcida rubro-negra com os seus gols em Fla-Flu. Já contra Vasco e Botafogo, isso não acontecia. No time de São Januário, só marcou um gol, contra o Alvinegro, nunca balançou as rede.

Assis era o jogador mais espirituoso daquele grupo tricolor. Embora nunca tenha aprendido a tocar instrumentos musicais, era o “músico” número dos jogadores. Como narrou o jornalista Marcelo Rezende, Assis herdara do pai Oswaldo, compositor e festeiro da Vila Prudente, o gosto pelo samba e chorinho. Nas rodas de samba dos jogadores, fazia questão de ajudar na marcação do samba com a boca. E não era apenas com música que o craque se dava bem. Era o “Maneca”, como o chamava Washington, por ser o jogador do Flu que mais elegantemente se vestia. Nos tempos em que defendeu a Francana, já havia experimentado o gostinho de ser manequim por um dia ao posar para um figurinista da cidade de Franca. Era um período ruim para sua carreira nos gramados, como saía sempre em colunas sociais, a torcida pegava no seu pé. Do bando de reservas, pensava: “Meu Deus, protege este filho, que não é manequim e vai acabar sendo ex-jogador”.
Não foi isso que aconteceu.

TAL PAI, TAL FILHO

Assis brilhou [e muito!] para manter, na fase em que esteve nos gramados, uma vida confortável e alimentar o gosto pela moda e bom estilo. Tinha um farto guarda-roupa, com cerca de 200 camisas esportivas, 50 calças, 40 pares de sapato e, curiosamente, apenas cinco de tênis.
O salário de cerca de dois milhos de cruzeiros, engordado após o título nacional de 84, permitia-lhe alimentar seus refinados gostos e comprar imóveis para garantir-lhe um tranquilo futuro pós futebol. Mas Assis acreditava piamente que após deixar os campos teria de trabalhar. Isso, definitivamente, não seria problema para ele, que reconhecia sofrer de carência, talvez pelo fato de ter perdido a mãe muito cedo, sempre lutou bravamente contra as adversidades que a vida o fez confrontar. O pai, enquanto esteve vivo, nunca admitiu casar novamente, optou por criar sozinho Assis e os cinco irmãos do futuro craque. Viviam em um apertado apartamento na Vila Prudente, com apenas um quarto e sala.

Oswaldo vivia para os filhos. Era um grande companheiro de Assis, o caçula dos cinco. Passava horas com ele tocando um pandeiro ou ouvindo Ray Coniff, na velha vitrola. Mas ambos também não dispensavam um bom papo, de pai para filho. Troca de experiências que seria indispensável para moldar o caráter de Assis.
Do pai, ouviu, quando tinha apenas sete anos, uma profecia: “Ela [a mãe de Assis] foi para o céu, meu filho. Mas eu juro que fico ao seu lado e você vai ser um grande jogador de futebol”.

Oswaldo sabia o que dizia. Afinal, também jogara futebol no varzeano Estrela Vermelha, do bairro do Bixiga. Deu tempo para o pai ver o filho a ensaiar os primeiros passos com uma bola de futebol nos também times de várzea Itamarati e Vip’s, da Vila Prudente, e o Parque da Mooca, onde era tratado como ídolo e “Rei da várzea”. Um dia Assis marcou um gol de bicicleta para o orgulho pai vislumbrá-lo da arquibancada. Recebeu efusivos aplausos, mas o pai alertou-o: “Meu filho, isso não dá profissionalismo. Você precisa ser profissional”.
A figura de Assis pode ser espelho da generosidade do exemplar pai que teve. Em 1984, o campeoníssimo Fluminense excursionou em Angola. Na capital Luanda, Assis foi surpreendido por um menino de 12 anos chamado José Maria, órfão de pai e mãe, igualmente a Assis. O garoto apegou-se tanto ao craque brasileiro, que passou a segui-lo por onde estivesse a delegação tricolor em Luanda. Fosse no hotel, lá estava o menino a espera de Assis para dizer-lhe que havia descoberto um novo pai. “Aquilo me tocou tanto que tomei uma decisão: um dia, vou adotar um garoto”.

E o “Pernalonga”, como o apelidou o jornalista Milton Neves — o também “Maneca”, do Washington, e “Carrasco do Flamengo” —, tornou-se muito mais que apenas profissional. Tornou-se ídolo de um memorável grupo formado também por Aldo, Duílio, Romerito, Washington, Ricardo Gomes, Branco, Tato, o goleiro Paulo Victor, Leomir, Vica, Paulinho e Delei, que ajudaria ao Flu na vitoriosa campanha do “Brasileirão” de 1984. Além deste título nacional, Assis conquistou pelo Flu os torneios de Seul [1984] e de Paris [1987] e a Copa Kirin [1987]. Vestiu a camisa do tricolor em 177 jogos e marcou 54 gols. Na época em que esteve nas Laranjeiras, Assis participou de três convocações para a seleção brasileira em 1984. As únicas em toda a carreira.

Após a grande conquista do campeonato brasileiro de 1984, Assis, no auge, mas já com 31 anos, idade considerada, na época, a ideal para o fim de carreira dos jogadores, Assis mostrava-se maduro para pendurar as chuteiras, embora não o faria naquele momento: “Eu sei que o fim é mais real do que este começo de glória”, dizia.
E o fim nas Laranjeiras começou a se configurar em 1987. O clube já o achava “velho” demais para continuar a carreira. Apesar da opinião torta dos cartolas, o clube renovou, em maio, o contrato de Assis por oito meses. A proposta inicial indignou o craque. Queriam pagar-lhe 60 mil cruzados de luvas e 40 mil mensais. “Se fosse para ganhar isso, preferiria jogar de graça, só por amor ao Fluminense”. Mas o inusitado aconteceu. Um fanático e milionário torcedor do Fluminense — cujo nome nunca foi revelado — comprometeu-se a completar o ordenado de Assis, que recebeu 800 mil cruzados de luvas e um salário mensal de 80 mil. Vaia tudo para manter o ídolo no dia a dia do Fluminense.

Assis, o “encanto do Fluminense”, como bem o definiu Delei, deixou o Fluminense no dia 27 de setembro de 1987.

O último capítulo da longa paixão do ídolo vestindo a camisa tricolor, em campo, aconteceu na vitória de 2 a 0 [gols de Romerito] sobre o Vasco, em jogo que valeu pela Copa União. Foi também a última vez que o “Casal 20” entrava no gramado. “Estou perdendo metade de mim. Assis era um companheiro para todas as horas”, confessou Washington, que permanecera no clube enquanto Assis, com passe livre concedido pelo Flu, partia para aventurar-se no futebol americano, onde defendeu o Miami Sharks, cujo treinador era Carlos Alberto Torres.

Assis, porém, não se aclimatou ao futebol dos Estados Unidos e teve dificuldades para obter o registro de permanência no país. Diante disso, regressou ao Brasil, em abril de 1988, para jogar novamente pelo Atlético Paranaense. Recebeu 700 mil cruzados de luvas, um apartamento mobiliado e um carro por um contrato, inicialmente, de apenas quatro meses. Como no Fluminense, a torcida atleticana também o reverenciava.
Mesmo sem a condição de titular absoluto do time, ajudou-o a ser campeão paranaense em 88. A segunda passagem pelo Furacão não foi tão amena. Assis deixou o clube magoado com os cartolas e se dizendo arrependido de ter deixado o Fluminense, em 1987. Queria que o Atlético renovasse seu contrato, mas os dirigentes negaram-lhe outra chance. Enquanto não surgia nova oportunidade, Assis passava o dia exercitando-se. Corria, diariamente, 10 quilômetros, no Parque Barigui, em Curitiba, e fazia musculação na clínica do amigo fisioterapeuta Benny Camlot.

Assis só encontraria um clube que o quisesse em 1989. O Paysandu ofereceu-lhe uma chance para o craque veterano. No ano seguinte, fez as pases com o Atlético. Apesar da reserva na maioria dos jogos, viu o time levantar a taça do estadual em 1990. No mesmo ano concluiu que deveria parar.

Assis tenta afirmar-se como técnico de futebol, carreira que começou no Iraty, do Paraná, em 1995. Já comandou o Rio Branco, de Cariacica, e o Vitória, ambos do Espírito Santo. O ídolo Tricolor e Rubro-negro é casado desde 1985 com Anne Valéria, com quem tem um casal de filhos, e mantém residência entre Curitiba e Rio.

“Viver no Rio naquela época [de 1983 a 1987] era muito legal. Lembro que ia brincar com a minha filha na Lagoa e deixava o carro aberto. O Leomir, que era metido a pescar nas pedras, ficou amigo de um espanhol, garçom do Parque Recreio. O Seu Paulo pegava os peixes à noite e levava fresquinho para gente no dia seguinte. Frito, moqueca, do jeito que a gente quisesse. Toda terça-feira, iam os dezoito jogadores ia lá tomar um chopinho. Também éramos amigos do pessoal do Flamengo. A gente ia ao Hippopotamus, onde o Leandro era sócio. Na primeira vez, eu e o Romerito estávamos lá fora, no Pizza Palace, tomando um chope, o Leandro passou e nos levou para a boate. Depois, como o gerente era tricolor, quando eu chegava já tocava o hino do Fluminense”.

Em 2009, optou mais pelo Rio para trabalhar no centro técnico do Fluminense, em Xerém, ensinando aos futuros craques tricolores que façam no futuro o mesmo que Assis fez para a glória do clube das Laranjeiras. Teve, porém, uma única frustração: “Acho que faltou isso: poder ver um texto do Nelson Rodrigues sobre os meus gols. Gostaria muito que ele estivesse vivo para ver. Seria uma honra para mim”. Com certeza o “Profeta tricolor”, de onde estiver, também sentira a mesma frustração do herói Assis, que hoje, indiscutivelmente, está ao lado dos tricolores mais ilustres no olimpo do futebol.

O incomparável Assis deixou-nos prematuramente na madrugada do dia 6 de julho de 2014, duas semanas após a morte do grande companheiro Washington. Assis travava uma árdua batalha contra uma doença renal crônica, cujo tratamento acabou lhe causando uma infecção. Permaneceu internado com peritonite durante 15 dias e não resistiu, morrendo devido à múltipla falência dos órgãos às 5h30.