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UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 47

1 / fevereiro / 2024

por Eduardo Lamas Neiva

A festa revivida pelo título mundial de 1958 parecia que não acabaria nunca. Pelé, Didi, Garrincha, Nilton Santos e outros integrantes daquele time fantástico foram muito aplaudidos e reverenciados. João Sem Medo, Ceguinho Torcedor, Sobrenatural de Almeida e Idiota da Objetividade, então, os convidaram a ir à mesa para falarem um pouco com o público sobre a primeira Copa do Mundo conquistada pela seleção brasileira. Didi começou lançando, mas Pelé e Garrincha acabaram tomando conta da peleja.

Didi: – Eu fazia um lançamento e tinha vontade de rir. O Mané ia passando e deixando os homens de bunda no chão.

Garrincha: – Em 1958 era muito jovem e tinha uma velocidade bárbara. As pernas corriam mais do que eu queria e as jogadas saíam-me quase sempre bem.

Pelé – Cada vez mais sinto saudades de você em campo, daqueles dribles, do povo nos estádios que vibrava com tuas entortadas nos “Joões”. Cada vez vejo menos habilidade no jogador brasileiro.

Garrincha – A pelada está perdendo espaço, só tem garotos jogando em campos cercados.

João em Medo: – E agora com grama sintética até nos campos oficiais, Mané.

Garrincha: – Verdade, seu João. Cadê o moleque de pé no chão batendo bola em terra dura? O pior é que todo mundo põe a culpa na retranca, mas continua bolando esquemas cada vez mais fechados. Parece saudosismo, mas na Copa de 1958 também éramos muito marcados.

Pelé – Pois é, eu era um garoto de 17 anos, mas tinha gente boa fazendo a minha cabeça. Aliás, você lembra por que o Paulo Amaral (preparador físico) acabou com as corridas depois dos treinos?

Garrincha – Claro, o pessoal corria até o lago não para melhorar o preparo físico, mas para ver as garotas tomando banho nuas. Daí o Paulo Amaral proibiu a corrida e o remédio foi aturar você tocando violão.

Todos riem muito.

Pelé – Tocar não é bem a palavra: eu batucava no violão.

Garrincha – E já aprendeu?

Pelé – Tocar eu ainda não toco, mas componho mais ou menos.

Garrincha – Já ouvi o Jair Rodrigues cantando uma música tua. Pega o violão e mostra aí.

Garçom: – Vamos aproveitar, então, e chamar mais uma vez Jair Rodrigues ao palco pra cantar com Pelé.

Todos aplaudem e vibram.

Pelé: – Dá um abraço aqui Jair. Que felicidade estar com você novamente.

Jair Rodrigues: – A felicidade é toda minha poder abraçar você, Mané e toda essa turma boa de 58 e 62.

Pelé: – Vamos cantar “Cidade grande”?

Jair Rodrigues: – Vamos lá, meu Rei?

Pelé: – Vamos sim. O Mané pediu, então…

Jair Rodrigues: – É uma ordem! (dá aquela risada gostosa que todo o Brasil se acostumou a ver e ouvir)

A dupla é aplaudidíssima e os dois se abraçam. Enquanto Jair Rodrigues volta à sua mesa, Pelé retorna pra continuar a resenha com Garrincha.  

Pelé – Bons tempos…

Garrincha – Bons mesmo. Na Copa de 1962 foi uma pena você ter se machucado. Eu dei sorte, fiz gols… Mas jamais vou esquecer da partida contra os russos em 1958.

Pelé – Foi a primeira partida que disputamos juntos. Era a estreia de nós dois na Copa e vencemos por 2 a 0, dois gols do Vavá (aponta pro amigo que é muito aplaudido). Você enlouqueceu os russos, Mané! Logo na primeira bola, entortou três. Dali em diante, só deu você. Nosso futebol está precisando de um novo Garrincha, de outro “Alegria do Povo”.

Didi: – Convencemos o técnico Vicente Feola a colocar Pelé no lugar do Dida, que sentia uma contusão. Feola temia lançar Pelé, que tinha apenas 17 anos, mas concordou. Também pedimos que ele escalasse Garrincha no lugar de Joel. Feola nos atendeu, o time embalou e fomos campeões.

Vicente Feola, também presente, preferiu não interromper, nem concordar com o que Didi revelava.

Pelé: – Eu não imaginava que seria convocado.

Ceguinho Torcedor: – Mas você tinha feito uma promessa ao seu pai de que ganharia uma Copa pra ele…

Pelé: – É, seu Ceguinho… Eu engraxava as chuteiras e os sapatos dos jogadores do BAC na época da Copa de 50.

Idiota da Objetividade: – Peço desculpas por interrompê-lo rapidamente, Pelé, mas só pro público saber: BAC é o Bauru Atlético Clube. Prossiga, por favor.

Pelé: – Sem problemas. Bom, nós ouvimos a final de 50 no rádio e vi depois do jogo o meu pai e aqueles jogadores que eram companheiros dele chorando e todo mundo triste porque estava preparada uma festa lá em casa em Bauru. Aí eu falei pro meu pai brincando: “não liga, não, que eu vou ganhar uma Copa pra você”. E oito anos depois meu pai estava chorando, ouvindo o mesmo rádio, mas a gente ganhando a Copa do Mundo na Suécia.

Sobrenatural de Almeida: – Assombroso! Assombroso! (dá sua risada tenebrosa)

Risada geral.

Idiota da Objetividade: – Mas qual foi o jogo mais difícil na Copa, Pelé?

Pelé: – Olha, nós não tínhamos o teipe naquela época, né? Nós tínhamos os olheiros que viam os jogos e todos diziam que a gente ia ter mais dificuldade contra a França, porque era a melhor equipe. Mas pra mim foi o País de Gales. Era um time que jogava na retranca, foi difícil, ganhamos de 1 a 0, com um gol que eu fiz, né. Depois que nós ganhamos da França, com a Suécia eu tinha certeza absoluta, nós tínhamos uma confiança que nós não perderíamos pra Suécia, porque o nosso time era melhor.

Todos aplaudem e os companheiros de 58 se confraternizam e abraçam também João Sem Medo, Ceguinho Torcedor, Iditoa da Objetividade e Sobrenatural de Almeida. Zé Ary percebe a dispersão e não perde tempo.

Garçom: – Meus amigos, que grande felicidade, né? Pois então, uma festa tão bonita como essa merece mais futebol e música, então, enquanto imagens daquela seleção fantástica vão sendo mostradas no telão, ao som novamente de “A taça é nossa” e depois nas nossas caixas de som vocês vão ouvir o “Hino aos campeões do mundo”, de David Nasser e Vicente Paiva, cantado pelo Coro de Severino Filho. Divirtam-se!

https://discografiabrasileira.com.br/fonograma/133660/hino-aos-campeoes-do-mundo

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Um gol desse não se perde!

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3 Comentários

  1. Fátima

    Que viagem você nos permite, Eduardo! A gente “abre a porteira”… e “a taça do mundo é nossa!” Suas postagens se completam nos nossos olhos e coração. 👏👏👏👏👏👏👏

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    • Eduardo Lamas Neiva

      Agradeço muito, Fátima, por todo o seu apoio a este trabalho. Volte sempre, querida.

      Responder
      • Fátima

        Nada a agradecer. O que é bom deve ser compartilhado. Assim penso. Bravo! Abraço

        Responder

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