Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 31

12 / outubro / 2023

por Eduardo Lamas Neiva

A música de Taiguara é aplaudidíssima e ele sai ovacionado do palco.

Taiguara: – Muito obrigado!

Depois de agradecer ao público e aos músicos, ele dá um abraço em Zé Ary, João Sem Medo, Idiota da Objetividade e, quando chega a vez de Sobrenatural de Almeida, há um rápido papo.

Sobrenatural de Almeida: – Taí um dos maiores compositores da nossa música! Dá um abraço aqui. Você é Botafogo, né? (solta uma gargalhada)

Taiguara (rindo): – É lógico que não. Você sabe que minha torcida é aquela coisa linda, aquela torcida que mesmo nas fases terríveis que o Flamengo já passou, quando a torcida não tinha mais por que acreditar, compareceu até num festival da canção, em 1968, só pra torcer por um cantor, como foi meu caso, só porque ele falava no Flamengo. Uma coisa extraordinária!

Sobrenatural de Almeida (rindo): – Você sabe que eu gosto de provocar.

Taiguara dá mais um abraço em Almeida, sai dando risadas e vai à sua mesa.

Garçom: – Nós que agradecemos a você, Taiguara. Bom, nós falávamos daquele Campeonato Brasileiro de 79…

Idiota da Objetividade: – O Inter foi campeão invicto, o único até hoje.

João Sem Medo: – Numa final em dois jogos com o Vasco. O Internacional venceu as duas partidas e se fartou de merecer o título. No último jogo, talvez 3 a 0 fosse mais justo do que os 2 a 1.

Ceguinho Torcedor: – Aquele time do Inter era espetacular!

Idiota da Objetividade: – Benítez, João Carlos, Mauro Pastor, Mauro Galvão e Claudio Mineiro; Batista, Jair e Falcão; Valdomiro ou Chico Spina, que fez os dois gols da vitória no primeiro jogo, no Maracanã, Bira e Mário Sérgio. O técnico era Ênio Andrade.

João Sem Medo: – Um time harmonioso, bem estruturado e com um extraordinário meio-campo. O Batista mais plantado, o excepcional Jair não somente lançando, mas aparecendo para finalizar, e o Falcão jogando como sabia, isto é, uma espécie de guerrilheiro se metendo por onde lhe parecia melhor, como um homem livre, fazendo seu melhor jogo. Além desses três, Mario Sérgio e Bira foram os bonzões.

Garçom: – Como estamos falando daquele Inter de 79 e Falcão já tinha brilhado nos dois títulos anteriores, de 75 e 76, vou pôr na caixa de som uma dupla de craques gaúchos pra cantarem aquela música que tem saudade do Falcão e da galera no Beira-Rio.

A turma se alegra com a música, alguns cantam junto e dá uma descontraída, dando uma voltinha pra esticar as pernas. Porém, logo ao fim de “Deu pra ti”, de Kleiton e Kledir, a mesa principal está refeita  e disposta a levar a resenha adiante. Afinal, o papo é o melhor do futebol, como João Sem Medo já havia falado lá no início desta conversa.

Idiota da Objetividade: – Um ano antes, na temporada anterior a este título do Inter, dois times paulistas haviam disputado a final, com o surpreendente Guarani, de Zenon e o jovem Careca, de apenas 18 anos, sendo campeão em cima do Palmeiras.

Sobrenatural de Almeida: – Outra zebra formidável que eu aprontei! (solta sua risada medonha)

João Sem Medo: – O caráter daquela conquista do Guarani deveria marcar o futebol brasileiro por muito tempo. Um time do interior do Estado de São Paulo, apenas o Santos tinha conquistado títulos nacionais. Mas o Santos constituiu uma exceção nacional e internacional. O êxito do Guarani foi diferente. Santos era ainda o grande porto, o maior porto do Brasil. Campinas fica lá dentro, naquela época ainda mais no interior mesmo, e seus clubes levavam todas as desvantagens que os das chamadas segundas cidades dos Estados sempre levaram.

Ceguinho Torcedor: – Amigos, como a finalíssima entre Palmeiras e Guarani esteve acima dos jogos da Copa da Argentina, naquele mesmo ano. Houve a maior rapidez, sem prejuízo da beleza, do virtuosismo. Eu afirmava naquela época que os cretinos fundamentais diziam de olho rútilo: “O Brasil não tem mais craques!”. Pois tinha – e ainda tem – muito mais do que se pensa. O Guarani levava a falsa vantagem do empate, mas venceu a partir do momento em que só se interessou pela vitória. Perseguiu o gol. E quando este aconteceu, eis o Guarani perseguindo outro gol. Pra todos nós o Guarani foi uma surpresa. Ouvi e vi o jogo com colegas e a toda hora alguém dizia: “Que cracaço de bola”.

João Sem Medo: – E olha que o Zenon não jogou o último jogo.

Idiota da Objetividade: – Foi substituído por Manguinha. Zenon estava suspenso por ter recebido o terceiro cartão amarelo no primeiro jogo, que ele mesmo decidiu, no Morumbi, em cobrança de pênalti.

Sobrenatural de Almeida: – O goleiro na hora do pênalti foi o centroavante Escurinho. Ele foi pro gol depois da expulsão do Leão. Sinistro!

Idiota da Objetividade: – O Palmeiras já tinha feito as duas substituições, como mandava a regra na época.  

Ceguinho Torcedor: – Na verdade, a nossa surpresa não tinha nenhuma razão. Se o Brasil quisesse, faria cinco escretes de igual valor. Por exemplo: um homem como Zenon. Em São Paulo, meus amigos só falavam de Zenon com elogios frenéticos. Zenon era realmente craque, comprovou isso no Corinthians e vestindo a camisa da seleção posteriormente. Mas o Guarani não era de um craque só, era um formidável time, no mundo não tinha outro maior.

João Sem Medo: – Eu vi o Zenon jogando a primeira vez em 72 ou 73 lá na terra dele, em Itajaí…

Idiota da Objetividade: – Ele na verdade nasceu em Tubarão, João. Terra do Renato Sá também.

João Sem Medo: – Ah sim, isso mesmo, obrigado. Então foi em Tubarão… Ou em Itajaí mesmo, o jogo. Roubaram um time argentino, o Argentinos Juniors. Roubaram os gringos de uma maneira! O Zenon jogou esse jogo, era um monstro.

Idiota da Objetividade: – Ele depois jogou de 1972 a 75 no Avaí, onde foi campeão catarinense em 73 e 75, antes de se transferir pro Guarani.

João Sem Medo: – Eu nunca vi esse cara errar passe. Uma vez estava falando isso na televisão e ele errou um pênalti, já na época em que estava no Atlético Mineiro. Paciência. Mas era um monstro.

Garçom: – Então, em homenagem àquele grande time do Guarani, vou pôr aqui no telão uma versão instrumental linda do hino do Bugre, tocado na viola caipira pelo cantor, compositor e multi-instrumentista Victor Hugo.

Todos aplaudem e elogiam muito. 

Fim do capítulo 31

Quer acompanhar a série “Uma coisa jogada com música” desde o início? O link de cada episódio já publicado você encontra aqui (é só clicar).

Saiba mais sobre o projeto Jogada de Música clicando aqui.

TAGS:

2 Comentários

  1. Fátima

    Muito legal essa “jogada”!

    Responder
    • Eduardo Lamas Neiva

      Agradeço muito, Fátima. Volte sempre, todas as sextas tem capítulo novo.

      Responder

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *