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PÔ, GUIMARÃES!

11 / outubro / 2023

por Mauro Ferreira

Azedou. Sim, azedou a comida, a conversa, a relação com os sobrinhos, azedou a casa, a rua, o Facebook… azedou a vida. Dessa vez, o arroz queimou e ninguém riu; a linguiça ficou esturricada, a gororoba foi rejeitada pelos cachorros e todo mundo queria que o grande Chef continuasse com sua culinária do “pétit pois” (jamais chamado de ervilha) e das fotos roubadas dos restaurantes, pizzarias e bistrôs de Visconde de Mauá.

A montanha encantada, cravada no cocuruto de Resende, tomou um susto quando o gnomo apareceu por lá atazanando a vida de todos. Pedinte contumaz, pouca grana nas pochetes e a biografia do Armando Nogueira pra escrever, acabou ele encantando a montanha. Pior: encantou com o figurino circense. A meia da plantinha alucinógena furada no dedão, a camiseta da Ursal, a calça rosa, a bicicleta tomada de assalto do Gilberto Lopes e devolvida a muito custo toda esculhambada depois de um tombo.

Todos aturavam e riam do Maluco Beleza, fã de Rubem Braga e Fernando Pessoa. Renata Cholbi cansou de expulsá-lo às gargalhadas de seu bistrô, até sucumbir e emprestar um avental de pizzaiolo. Foi a farra da internet. Guimarães mirava o ridículo para colorir o preto e branco das redes sociais. Rivalizava com Ronaldo Kotscho na produção (?) culinária; cobrava de Murilo Rocha um nhoque misterioso jamais esclarecido; travava disputas com Alceste Pinheiro pelos “sobrinhos”. Ganhava do botafoguense Eduardo Galvão pratos e mais pratos de comida que dizia ter feito. E sempre sacaneava a linguiça do Marquinhos. Sem falar na implicância gratuita com o Antero Luiz e a eterna sacanagem com o Cid Benjamin.

Guerra, guerra mesmo, só travou com os estridentes motoqueiros, insistentes perturbadores da paz e da musicalidade da cidade. Enquanto resmungava, pegava caixotes de frutas, galhos secos, pedaços de madeira jogados pelas ruas para diluir o ódio aos barulhentos. Criou sua Arterapia e de tanto fazer propaganda de sua “arte”, acabou expondo seus “trabalhos” no Centro Cultural de Mauá, a Vila dos Imigrantes, paraíso da boa música, da boa comida sempre filada por ele de algum incauto, e da ótima resenha.

Só não conseguia diluir duas coisas: a saudade da Bebeth e da Joana, e a agonia de não conseguir terminar a biografia do Armando. Até que conseguiu estabelecer o fio condutor do livro. Secou parágrafos e depoimentos, e estava arrumando os capítulos quando o relógio parou. Assim, sem aviso, sem nada. Parou.

Parou assim como este texto. Assim.

Ponto.

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