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PRÍNCIPE DA BOLA, GUERREIRO NA VIDA

6 / abril / 2018

por Rubens Lemos 


Geovani é o meu maior ídolo no Vasco. Representa para mim o que foi o uruguaio Danilo Menezes jogando bola com a camisa 10 preta e branca do ABC no estádio Machadão, posto abaixo em Natal. Danilo também foi do Vasco, na década de 1960. Sou do tempo de um Vasco freguês caloteiro do Flamengo, início da década de 1980, Zico liderando a tropa que ganhava campeonatos com a naturalidade de um casal de adolescentes tomando sorvete ao primeiro dos namoros. O Vasco tinha Roberto Dinamite de Dom Quixote. E um monte de esforçados e brutamontes. 

Até 1982 chegar e aparecer um baixinho de qualidade absoluta, ritmo acadêmico de veterano, visão periférica de uma partida, imperador do meio-campo em dribles de minifúndio e lançamentos longos como se houvesse um novo Gerson, ambidestro. Geovani foi o melhor meia-armador de minha geração de torcedores. Ele e Adílio, do Flamengo, travaram grandes duelos de inteligência. Geovani, mais refinado, Adílio, sambista de chuteiras. Geovani tinha mais classe, mais elegância, aquele porte diferenciado e consagrado por Didi, na Copa do Mundo 1958, ereto, marcial, monarca. Didi que escalou Geovani no time do seu tempo. E Geovani tomou de Roberto Dinamite, no meu peito vascaíno, o topo das admirações.

Geovani arquitetava, organizava e compunha. Roberto Dinamite e Romário concluíam a obra de engenharia, executavam o projeto e verbalizavam a cantoria de gols. Geovani nasceu em 1964. Nasceu tarde demais. Para os retranqueiros que passaram a tomar as rédeas do futebol, à base de carrinhos, chutões e pontapés, bola sem receber carícia, sem ser tratada como uma mulher dominada e cega de volúpia. Foi chamado de lento e ultrapassado. Sem ele na seleção brasileira, perderam-se duas Copa do Mundo sintomáticas pela falta de um cérebro na criação da meia-cancha: em 1986, viajaram Elzo e Alemão. 


Em 1990, Dunga e o tal Alemão, bom maratonista, obscuro criativo. Sebastião Lazaroni, especialmente, o técnico medíocre do Mundial da Itália, será praguejado pela memória nacional por não ter convocado Geovani e levado seu compadre Tita. Ou cinco zagueiros. 

A história, exemplar em seus castigos, mostra em seus replays que faltou Geovani para o Brasil estilizar beleza e improvisação. Geovani é o jogador (ele e Dinamite) com mais títulos cariocas conquistados pelo Vasco. Foram cinco, três deles sobre o Flamengo de Zico. 

A Geovani, Romário deve muitos dos seus gols, recebendo livre na área lançamentos de 40 metros, fita métrica na chuteira do Pequeno Príncipe, assim batizado o regente cruzmaltino. Tenho que dizer aos meninos de hoje: se vocês tivessem visto Geovani, glorificar Renato Augusto, Kaká e Lucas Lima seria castigo implacável da proibição do videogame ou da exaltação do aplicativo novíssimo do Iphone. 

Aos 54 anos, completados neste 6 de abril, Geovani, guerreiro suave, vai conquistando o maior campeonato da vida: superou um câncer. Com a força extraordinária da fé e a luz radiosa dos homens escolhidos  para gerar felicidade em milhões. Pelo tempo que foi e nunca passará.

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