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FERNANDO DINIZ É UMA MIRAGEM

30 / julho / 2020

por Wilker Bento


Em 2016, quem mais chamou atenção no Campeonato Paulista foi o Audax, com sua campanha surpreendente. Um time marcante, que foi vice-campeão e projetou nomes como o goleiro Sidão e o meia Tchê Tchê. Mas o maior destaque daquela equipe foi o técnico Fernando Diniz. Com passagens por grandes clubes como jogador nos anos 1990 e 2000, Diniz apareceu no cenário nacional como treinador após a façanha no clube de Osasco. Na época, o futebol brasileiro ainda lambia as feridas do 7×1, com técnicos experientes sendo severamente questionados. Foi naquele mesmo ano que Vanderlei Luxemburgo, em entrevista ao programa “Bem, Amigos!”, se defendeu das críticas ao responsabilizar Felipão, e não os técnicos brasileiros em geral, pelo vexame na Copa de 2014.

Depois de uma passagem pelo Oeste e retorno ao Audax, finalmente Diniz ganhou uma oportunidade em um clube de Série A, ao ser contratado pelo Athletico Paranaense, em 2018. No Furacão, clube que cultivou imagem de modernidade e ambição nos últimos anos, tudo dava a entender que o treinador teria sucesso. Não foi o que acabou acontecendo. O time não correspondeu e Diniz foi demitido em menos de seis meses, com irrisório 34% de aproveitamento, deixando o clube na vice-lanterna do Brasileirão. O discurso dos defensores do técnico era pronto: o Athletico não tinha um time com bom material humano e condições para que o comandante botasse suas ideias em prática; faltou tempo e paciência. Porém, Tiago Nunes assumiu e levou o rubro-negro à conquista inédita da Copa Sul-Americana.

No ano seguinte, Diniz chegou ao Fluminense, mantendo a mesma filosofia de jogo, com posse de bola e busca por um futebol vistoso. O resultado, porém, foi péssimo: deixou o Fluminense na 18ª colocação do Campeonato Brasileiro. Novamente, a falta de paciência e boas condições de trabalho foi utilizada como justificativa – que, nesse caso é mais aceitável, já que o tricolor carioca vive uma crise há alguns anos. Mesmo assim, o treinador ganhou uma chance no São Paulo, que também passa por um momento difícil, mas não tanto quanto o Flu. E o mais recente capítulo dessa trajetória foi a derrota de 3×2 para o Mirassol, com o Soberano sendo eliminado nas quartas de final do Campeonato Paulista. Detalhe: o Leão perdeu 18 jogadores por causa da pandemia, e teve que completar o elenco com juniores e atletas contratados especialmente para a partida – como Zé Roberto, autor de dois gols. Sim, o São Paulo foi eliminado por um “catadão”.

Fernando Diniz é uma miragem, fruto da carência tática que o futebol brasileiro vive, um treinador que só cai para cima, blindado por suas supostas boas ideias, por parecer emular uma versão brasileira do tiki-taka. Seu modelo de futebol não tem efetividade: muita teoria e pouca prática, muita posse de bola e pouca bola na rede. Uma filosofia onde se confunde futebol arte com derrotismo, pois não consegue ser bonito como propõe e muito menos vencedor.

Gênios precisam comer muito arroz com feijão antes de serem alçados a tal posto. Como ocorreu com muitos técnicos que, de forma semelhante, começaram chamando atenção em equipes menores e depois adquiriram boa reputação no mercado. É preciso saber semear no pouco antes de chegar ao muito. Senão, qual será a desculpa da vez? Que o time do São Paulo também não tem nível para a implementação de suas ótimas ideias? Talvez um projeto de longo prazo no Liverpool?

Para evoluir e exercer todo seu potencial, Fernando Diniz precisa rever alguns de seus conceitos, corrigindo a defesa e abandonando o robotismo, para melhorar e se tornar, finalmente, um grande técnico. Todo defeito tem o seu oposto igualmente ruim, e hoje ele é a distorção oposta do futebol de resultados e do imediatismo, porque não se pode dar prazos e inúmeras oportunidades ao que é claramente ruim. Só o equilíbrio poderá levar o treinador – e o futebol brasileiro – a momentos mais felizes.

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