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DINAMITE SEMPRE GOL

13 / abril / 2018

por Rubens Lemos


Saía no tapa algumas vezes quando o flamenguista xingava Roberto Dinamite na escola. Brigas bestas, de menino em intervalo discutindo a rodada de domingo na chatice de uma segunda-feira. Flamenguista não fica satisfeito apenas em torcer pelo seu time. Gosta de tripudiar, humilhar, debochar do derrotado e nos anos 1980 o Vasco apanhava muito mais do que batia.

O Vasco era Roberto Dinamite, meu ídolo, o cara que ilustrava meu caderno socando o ar em vitórias sofridas. Quando o conheci, no antigo Hotel Ducal, onde ficou hospedada a seleção brasileira na primeira vez em que jogou em Natal, 26 de janeiro de 1982 (3×1 na Alemanha Oriental), tremi da cabeça ao dedão do pé ao receber seu autógrafo e um sorriso comovente pelo cinzento de um olhar simplório e cativante.

Fiquei abalado quando o técnico Telê Santana excluiu Roberto Dinamite da lista dos 22 convocados para a Copa do Mundo de 1982. Uma tremenda perseguição. Roberto Dinamite – que salvara o escrete quatro anos antes marcando o gol da classificação contra a Áustria, fez gol e jogou muito bem, afinado com Zico ao ser convocado pela primeira vez por Telê para um amistoso contra os búlgaros em Porto Alegre: 3×0. Zico e Roberto Dinamite, juntos, nunca perderam uma partida pela seleção.

Na partida de Natal, isolado, o artilheiro do Vasco pouco rendeu. Ninguém jogou absolutamente nada, mesmo com a vitória. Sócrates fez falta, Falcão também não veio e não fosse pela ruindade dos alemães do caduco lado comunista, o Brasil, no máximo teria empatado. Como empatou contra a Tchecoslováquia em 1×1 no Morumbi.


Vaias no Morumbi provocaram ranhuras em gloriosas reputações. Roberto Dinamite não teve paz , como não tiveram, várias vezes, Paulo César Caju, Zico, Bebeto. Tocava na bola e era xingado pela multidão pedindo Serginho Chulapa.

Barrado pelo pavoroso grandalhão Chulapa, à época no São Paulo, perdeu a vaga de reserva para o jovem Careca, do Guarani, habilidoso, ágil e adequado ao estilo de toque de bola da constelação que brincava com a bola.

Careca se machucou já nos primeiros treinos em Cascais, Portugal, onde o Brasil se preparava, e Telê foi obrigado a convocar Roberto Dinamite sem sequer colocá-lo no banco de reservas em nenhuma das cinco partidas.

Enquanto Zico, Sócrates, Falcão, Leandro e Júnior encantavam o planeta bailando em variação de ritmos, do samba ao jazz, Chulapa, destoando da sinfônica, ganhava uma reputação infame: o melhor zagueiro-central da Copa perdida para a Itália. Telê Santana conseguia ser maravilhoso e teimoso.

Roberto Dinamite segurou o Vasco sozinho no tempo de cartolas avarentos. De timecos. Aos 20 anos, comandou o improvável título brasileiro de 1974 superando o Santos de Pelé, o Cruzeiro de Dirceu Lopes e o Internacional de Figueroa e Falcão.

Em 1976, o gol mais bonito do ex-Maracanã, o lençol em Osmar Guarnelli e a patada de voleio vencendo Wendell na virada de 2×1 sobre o Botafogo, no limite do tempo das almas aflitas.


Em 1977, massacrou Flamengo, Botafogo e Fluminense na épica jornada do primeiro título que assisti pela TV. O Carioca de um timaço  com
Mazarópi; Orlando, Abel, Geraldo e Marco Antônio; Zé Mário, Zanata e Dirceu; Wilsinho, Roberto Dinamite e Ramon. Ele batendo o pênalti
final jogando o goleiro Cantarelli para um lado e a bola entrando rasteira no canto direito.

Bem mais do que admiração, Roberto Dinamite transpirava ternura, uma singeleza quixotesca. Formou duplas sensacionais com Ramon, Jorge Mendonça, César, Cláudio Adão, Elói, Arthurzinho e Romário, seu sucessor e melhor atacante de todos os tempos.

Na transição do adolescente para adulto, quando se assume o mundo sem que se combine com quem quer que seja, passei a ver o Vasco na classe superior do maestro Geovani, companheiro de Roberto Dinamite nos títulos de 1982, 1987, 1988 e 1992.

É a grande área o seu memorial. É a zona do agrião, seu pedaço a merecer gratidão. Foi um mal cartola? E daí? . Roberto Dinamite faz 64 anos e no sentimento vascaíno de granadeiro bigodudo, ele será sempre o artilheiro, o herói solitário a nos salvar no minuto final, na esperança renascida em gol de desabafo explosivo.

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