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DEUSES DE CARNE E OSSO

9 / abril / 2021

por Leymir Moraes

Deus deu a alguns um talento divino, e a outros uma devoção sobrenatural. A união das duas medidas transfigura a imortalidade desportiva aonde tais como Garrincha, Ademir Menezes, Rivelino e Zico habitam.

Ocorre que o Criador em sua grande generosidade não limitou o céu aos gênios e deixou a porta aberta para que humanos o alcançassem se assim merecessem. Viajaremos nesse primeiro momento pela epopeia de quatro lendas dos gigantes do Rio, e sua seguinte beatificação.

As histórias serão contadas por ordem cronológica e relacionadas aos surgimentos das Instituições:

 

1.            Botafogo 1894

2.            Flamengo 1895

3.            Vasco 1898

4.            Fluminense 1902

 

A escolha da personagem foi sugerida por Ruy Moura, editor do mundobotafogo.blogspot.com um estimado amigo e brilhante professor a quem sempre serei grato pelo tempo e ensinamentos a mim destinados.

 

Dinorah de Assis – O Alvi e o Negro do Botafogo.

 


Se existe um clube aonde glória e tragédia se orlam, esse clube é o Botafogo, e se engana quem supõe ser esta a exposição de uma fraqueza. A dualidade entre os dribles mais alegres da história do futebol, e dores dilacerantes, como a perda de seu lar, desenham a complexa alma do torcedor alvinegro. 

O âmago de um clube não é a quantidade de títulos que carrega, é sim a relação de sua gente com o emblema que ostenta.  O Botafogo da apolínea Diva navega em águas tranquilas, o Botafogo do dionisíaco Heleno de Freitas conduz ao caos, ambos produzem paixão e encanto em medidas semelhantes e é nesse paradigma que se constituem as massas alvinegras.

Sem dúvida é divino o Botafogo, e sua divindade está atrelada ao fato de ser demasiadamente humano. 

Dinorah de Assis defendeu outros emblemas como o Internacional de SP e o América do RJ, um antes sem depois do Clube da Estrela Solitária. Após vestir a camisa do Botafogo, nenhuma camisa mais lhe coube, pois é daqueles casos raríssimos que tem com o clube relação simbiótica.

De 1909 a 1911, foi campeão, zagueiro, atacante, goleiro e juiz. Atrevo-me a dizer que ao lado de Luiz Caldas, 17 anos antes, e Heleno de Freitas, 30 anos depois, é definidor de um dos traços marcantes da alma do clube, a abnegação alvinegra. 

Essa é uma história de amor, não o sentimento doentio que levou Euclides da Cunha ao Bairro da Piedade para em seus próprios termos “matar e morrer” em nome de uma suposta defesa da honra.


Essa é uma história de amor, e não a história de Euclides, Anna ou Dilermando, essa é uma história Botafoguense, é a história do nosso herói Dinorah que teve atravessado as costas um balaço a se alojar em sua espinha, numa tarde vadia de agosto de 1909. O que seria para qualquer um apenas um terrível ocaso, é para Dinorah um misto de desgraça e eternidade. Uma eternidade cara, oriunda de paixão e pólvora, sim, só poderia ser no Botafogo.

Glória ao Botafogo gentil, pura glória ao gentil Dinorah, vítima inocente de Euclides da Cunha e herói inconteste do Panteão da Estela Solitária. O homem que entrou em campo para disputar um clássico contra o Fluminense 4 dias após ser baleado. O homem que jogou o campeonato de 1910 com uma bala alojada a sua espinha que de forma sorrateira roubaria seus movimentos. Dos 10 jogos do cantado a verso e prosa “campeão desde 1910”, Dinorah de Assis foi e é o herói de cada jogo.

A fantástica campanha de 1910 entrega ao clube a justa alcunha de Glorioso, em seu elenco jogaram juntos entre outros, Dinorah de Assis e Mimi Sodré, duas facetas opostas e complementares do que é ser Botafogo.

Se Mimi Sodré junto a Carvalho Leite compreendem o cavalheirismo e a fidelidade Alvinegra, Dinorah de Assis expõe a dualidade que Heleno de Freitas e Garrincha viriam sintetizar décadas depois.

Me furtarei a comentar o final de sua vida, mas todo torcedor alvinegro de fé deve ao menos uma prece a Dinorah de Assis, eu não sou e pago a minha. Todo torcedor alvinegro ateu, necessita entender agora que é Dinorah um Deus pareado a Didi e Nilton Santos que teve a honra de herdar e imortalizar a sua camisa.

Dinorah o jogador mais shakespeariano de todos, do clube mais shakespeariano entre todos. Ganha a eternidade sendo demasiadamente Botafogo!

 

Leia mais em:

http://mundobotafogo.blogspot.com/2008/01/dinorah-de-assis-entre-o-drama-e-glria.html?q=trag%C3%A9dia+da+piedade

http://globoesporte.globo.com/bau-do-esporte/noticia/2012/11/historias-incriveis-tiro-de-euclides-da-cunha-desgracou-jogador-do-bota.html

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