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“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 64

29 / maio / 2024

por Eduardo Lamas Neiva

Após a brilhante apresentação de Naná Vasconcelos, o percussionista é muito aplaudido. Zé Ary aproveita e chama outro craque ao palco.

Garçom: – Depois deste craque da percussão, vamos chamar um craque do violão: Paulinho Nogueira, por favor, venha ao palco.

Paulinho Nogueira se encaminha com seu violão ao palco, aplaudido pelo público.

Paulinho Nogueira: – Obrigado, gente. Bom, em 1970 gravei uma música que compus chamada “O jogo é hoje” e ela fala que “vai nascer um novo campeão”. E foi o que ocorreu em 70, no México, né? Já éramos bicampeões, mas perdemos em 66. Então… “O jogo é hoje”!

Aplausos para Paulinho Nogueira, que retorna à sua mesa. Enquanto o violonista e cantor ainda estava indo em direção à sua mesa, Idiota da Objetividade foi direto ao ponto nevrálgico da demissão de João Saldanha do comando da seleção brasileira.

Idiota da Objetividade: – Com toda pressão que começou a aumentar após a derrota pro Atlético Mineiro e os resultados ruins em outros amistosos, após o empate em 1 a 1 com o Bangu, em outro jogo-treino, João Saldanha foi demitido em 17 março de 1970, menos de dois meses e meio pro início da Copa.

Sobrenatural de Almeida: – E 14 dias após o João dar a entrevista em que disse que ele escalava o seu time e o presidente, o Ministério dele.

João Sem Medo: – O Havelange me chamou pra uma reunião na sede da CBD e disse que a comissão técnica estava dissolvida. Respondi a ele que não era sorvete para ser dissolvido. Aí ele respondeu que eu estava demitido, então eu disse: “Vou pra casa dormir”.

Garçom: – Fiquei muito triste na época. Sua saída não foi justa.

Ceguinho Torcedor: – Foi um trabalho extraordinário, que resgatou a credibilidade do futebol brasileiro. Perdi a conta do tempo em que João foi malhado como um Judas de Sábado de Aleluia.

João Sem Medo: – Amigos, porque eu saí é muito fácil entender. O que tenho dificuldade de explicar é porque eu entrei.

Ceguinho Torcedor: – Havia um terror de que ele voltasse do México com o caneco de ouro, pra sempre. Houve quem dissesse que João estava poderoso demais, mais que a CBD, as federações, do que as forças ostensivas ou obscuras que manipulavam o nosso futebol. E seria ainda maior, muito mais forte, se voltasse com o caneco de ouro. Teria então meios de transformar a nossa realidade esportiva.

João Sem Medo: – Antes da Copa entreguei ao ministro Jarbas Passarinho um dossiê com todos os problemas que tínhamos e sugestões para corrigi-los. O que foi feito?

Ceguinho Torcedor: – Nunca houve um massacre pessoal tão desumano. E o espantoso é que exigíamos do João Sem Medo um comportamento de estátua de Abraham Lincoln. Se o grande técnico dava uma bronca, nosso grã-finismo estrebuchava: “Não tem serenidade! Não tem equilíbrio!”. Claro que podíamos dizer isso, porque cada um de nós estava fora da guerra, abanando-se com a Revista do Rádio. (o povo ri) É fácil ter boas maneiras, é fácil ter equilíbrio, é fácil ter serenidade quando ninguém nos xinga, quando ninguém nos insulta, quando ninguém nos massacra.

Garçom: – Ninguém é sangue de barata, muito menos o “seu” João.

Ceguinho Torcedor: – João Havelange garantiu que João Sem Medo ficaria até o fim. Chegou a dizer que impediria fisicamente o técnico de sair, se ele pedisse demissão. O primeiro dever dele era a classificação. E ele o cumpriu. O segundo dever era a conquista do título. Parentes, figuras da imprensa, do rádio e da televisão se uniram pra frustrá-lo no seu maravilhoso esforço final. Rolou a cabeça de João Sem Medo e passamos a querer mais do que nunca o caneco. Ah, foi uma guerra suja de tantos contra um só. Guerra digna de nosso vômito.

João Sem Medo: – Obrigado pelo apoio, Ceguinho.

Idiota da Objetividade: – Os jogadores, liderados por Brito, quiseram fazer um movimento de solidariedade ao João, com exceção de Pelé.

Todos olham pra Pelé, que disfarça cochichando algo no ouvido de Coutinho, ao seu lado à mesa.

João Sem Medo: – A decisão já estava tomada, não havia o que eles pudessem fazer. Iam acabar sendo prejudicados. Precisavam ir ao México pra ganhar a Copa. Vida que segue.

Sobrenatural de Almeida: – E a seleção foi para a Copa com Zagallo no comando e a sua inseparável camisa 13.

Zagallo: – “É o tri no México” tem 13 letras.

Neste momento, todos se voltam à entrada do bar Além da Imaginação. É Mario Jorge Lobo Zagallo chegando e logo sendo recebido com aplausos de pé por todo o público. O Velho Lobo logo se emociona. É abraçado por muitos, inclusive pelos componentes da mesa principal.

Garçom: – Bom, minha gente, enquanto Zagallo vai chegando e se acomodando, o que é um enorme prazer pra todos nós. Vamos chamar ao palco a grande dupla Tonico e Tinoco pra saudar Zagallo e todos os que conquistaram o tri no México.

Os irmãos Tonico e Tinoco vão ao palco também muito aplaudidos.

Tonico: – Que festa bonita! Saudamos todos esses grandes campeões que estão aqui. É um enorme prazer cantar pra vocês.

Tinoco: – Em homenagem a todos vocês.

Tonico: – Isso mesmo, Tinoco. Vamos cantar, então, a “Marcha do tri”, composição nossa com o Pedro Capeche.

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