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UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 5

14 / abril / 2023

por Eduardo Lamas Neiva

Ceguinho Torcedor, Sobrenatural de Almeida e Idiota da Objetividade agradecem e, juntamente com João Sem Medo, aplaudem a homenagem a Mario Filho. Há uma breve dispersada, com papos paralelos com integrantes de outras mesas, até que os quatro amigos voltam a se reunir e o papo retorna à Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Sobrenatural de Almeida: – Em Bangu a torcida era enfurecida. Foi lá que nasceu a expressão “ganha, mas não leva”, depois que criaram o troféu João Ferrer.

Idiota da Objetividade: – João Ferrer era um espanhol, dono da fábrica Bangu. 

Sobrenatural de Almeida: – Pois é. Se o Bangu perdia, o time adversário era corrido até o trem e os jogadores tinham de ir deitados pra não levar as pedradas que estilhaçavam os vidros do trem. Ou seja, eles podiam ganhar, mas não levavam a taça. (solta sua risada medonha) hahahaha

João Sem Medo percebe a entrada no palco de um velho conhecido seu, dá um sorriso maroto, mas fica prestando atenção na conversa.

Ceguinho Torcedor: – É, mas o meu Fluminense, como sempre muito fidalgo, levava para os banguenses uma corbeille, como se falava naquele Rio afrancesado da época, e saía de lá com a taça sem problemas.

João Sem Medo (com um olho no palco e outro nos amigos à mesa): – O Botafogo não levava a corbelha de flores e tinha sérios problemas pra sair do antigo campo do Bangu, na Rua Ferrer, que ficava bem perto do atual, em Moça Bonita.

Idiota da Objetividade: – Oficialmente, a Taça João Ferrer foi disputada apenas em 1907 e 1911, ambos os torneios vencidos pelo Bangu.

João Sem Medo: – Mas estes torneios foram disputados apenas com clubes do subúrbio. Daqueles times, só o Bangu ainda disputa campeonatos profissionais.

Idiota da Objetividade: – Em 1907, jogaram também Esperança, Brasil e Cascadura. Em 11, o Cascadura não disputou, só os outros. Mesmo assim, o Esperança não compareceu aos dois últimos jogos e perdeu por WO.

João Sem Medo: – O Botafogo certa vez levou prum jogo em Bangu um segurança chamado Manuel Motorneiro. Mario Filho conta essa também no livro “O negro no futebol brasileiro”. De revólver em punho, Manuel ficou à frente do barracão, como eram os vestiários daquela época, onde estavam os jogadores do Botafogo, depois de uma vitória sobre o Bangu.

Sobrenatural de Almeida: – Que sururu em Bangu! Hahaha

João Sem Medo: – Ninguém saía de dentro, enquanto a polícia não chegava. A multidão enfurecida aguardava, sem avançar, por causa do revólver do Manuel, branco pobre que não podia jogar no time, mas podia salvá-lo dessas situações. A polícia veio, os jogadores alvinegros, alguns brancos de medo, saíram protegidos pelos policiais e Manuel Motorneiro. Porém, quando chegaram ao trem tiveram de se abaixar, porque ao primeiro sinal de partida, as pedras voaram na direção deles, mesmo com a presença da polícia e do revólver de Manuel Motorneiro.

Garçom: – Senhores…

João Sem Medo: – Meus amigos, o Zé Ary está aqui porque tem uma grande atração no palco.

Garçom: – É verdade, seu João. Sem querer interromper a conversa, que está muito interessante. (a todos) Senhoras e senhores, com muito prazer, gostaria de anunciar a presença de Gonzaguinha no palco do Além da Imaginação!

Gonzaguinha (agradece os aplausos): – Muito obrigado. Muito obrigado. Vou cantar uma música que vai fazer uma boa tabelinha com o papo  dessa ilustre mesa onde está o João Sem Medo e o Ceguinho Torcedor. É um grande prazer, aliás. Os outros dois senhores, me desculpem, não os conheço, mas agradeço pelos aplausos.

Sobrenatural de Almeida: – Você já me viu em ação em alguns jogos do teu Vasco, mas não pôde me reconhecer, me ver em pessoa.hahaha Sobrenatural de Almeida, às suas ordens.

Idiota da Objetividade: – Não tem importância, nós conhecemos muito você e gostamos muito das suas músicas.

Gonzaguinha: – Muito obrigado, mais uma vez. Prazer. Vamos, então, de “Geraldinos e arquibaldos”.

 

Todos aplaudem muito. Gonzaguinha agradece e continua no palco. Conversa descontraidamente com os músicos que o acompanharam.

João Sem Medo: Muito bom!

Ceguinho Torcedor: – Verdade, João, muito bom mesmo. Olha, voltando ao assunto, nas Laranjeiras recebíamos clubes de fora, como o Palmeiras da Floresta, que deu origem ao São Paulo Futebol Clube, e havia baile de gala na sede das Laranjeiras. Inesquecíveis bailes. Para vencedores e vencidos.

Sobrenatural de Almeida: – Pixinguinha tocou muito nesses bailes no salão nobre das Laranjeiras. (grita com sua voz roufenha em direção a Pixinguinha) Não é Pixinguinha?

Pixinguinha (de sua mesa ao fundo do restaurante, com os outros Batutas): – Verdade. Eu e essa turma aqui também (fala se referindo aos outros Batutas que estavam à mesa com ele).

Sobrenatural de Almeida faz um sinal de positivo para Pixinguinha, que retribui.

Sobrenatural de Almeida: – Em campo, a elegância do goleiro Marcos Carneiro de Mendonça é que chamava a atenção de todos.

Ceguinho Torcedor: – Havia uma canção que a garotada tricolor daquele tempo sabia de cor e salteado: “O “refe” apita. A linha avança. O Fluminense não dá confiança”.

João Sem Medo: – “Refe” é como os brasileiros passaram a chamar o juiz, referee, em inglês.

Sobrenatural de Almeida: – Com o tempo, as rivalidades foram se acirrando, as gozações dos torcedores aumentando, e o baile ou festa passou a ficar restrito apenas aos vencedores. Os vencidos iam pra casa com a cabeça inchada.hahaha

Ceguinho Torcedor: – Presenteei muito flamenguista e botafoguense com um chapéu com número maior pra caber na cabeça inchada deles. Hahaha

João Sem Medo: – Tinha um botafoguense, chamado Paulo Lira… essa quem me contou também foi o Mario Filho… que, quando o Botafogo vencia, botava encaixado no chapéu de palha um papelão com o placar do jogo bem grande e ia assim na segunda-feira pras estações de bondes esperar escondido atrás de uma coluna um amigo do Fluminense ou do Flamengo. Quando algum deles aparecia, Paulo Lira saltava em cima do amigo sem o largar.

Sobrenatural de Almeida: – Assombroso, o Paulo Lira, assombroso. hahaha

Ceguinho Torcedor: – É, mas quando o Botafogo perdia, ele sumia. E nós íamos atrás dele.

Todos caem na gargalhada. Inclusive Gonzaguinha, que passou a prestar atenção na conversa.

Gonzaguinha: – Olha, essa história me lembrou uma composição minha que eu não cheguei a gravar e fez sucesso com o MPB4. Então, vou chamar dois grandes amigos, Ruy e Magro, pra cantarem comigo “Se o meu time não fosse o campeão”. Sejam bem-vindos, Magro e Ruy.

Os dois cantores que fizeram parte da primeira formação do MPB4 vão ao palco, abraçam Gonzaguinha, cumprimentam os músicos e agradecem aos muitos aplausos da plateia.

Gonzaguinha, Ruy e Magro são ovacionados, agradecem e deixam o palco conversando animadamente.

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