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UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 44

11 / janeiro / 2024

por Eduardo Lamas Neiva

Após todo mundo, especialmente Didi e dona Guiomar, se divertirem com “O nosso dia chegou”, João Sem Medo retoma a pelota.

João Sem Medo: – É bom que o brasileiro saiba que a Europa se atrasou perante nós por causa de uma guerra que dizimou quase toda a juventude entre 15 e 45 anos. Isso não se refaz com decreto-lei nem com planos quinquenais. É preciso esperar que nasçam outros, formem-se e reaprendam. A Europa teve grandes prejuízos com a Guerra, o que nos permitiu um avanço enorme. Quando pegamos a Europa em 58 e 62, ela estava, exatamente, num período de decadência esportiva, porque lhe faltou a juventude que tinha morrido na guerra. E foi uma vantagem que nós tivemos. Nosso futebol, no entanto, é do melhor nível. Nós estamos na primeira turma do futebol mundial e nos mantivemos nela ao longo do tempo, ainda que a duras penas nos últimos anos.

Ceguinho Torcedor: – Desde 50 que o nosso futebol tinha o pudor de acreditar em si mesmo. A derrota frente aos uruguaios foi uma humilhação nacional, que, imaginávamos, jamais seria superada. Porém, até o mais vertiginoso e convicto pessimista não conseguiria prever algo como o que ocorreu na última Copa, com aquele estrondoso, retumbante, escandaloso, histérico 7 a 1 para os alemães. Mas em 58, negávamos o escrete porque a frustração de 50 ainda funcionava. Havia um pânico de uma nova e irremediável desilusão.

João Sem Medo: – Era o complexo de vira-latas, né, Ceguinho?

Ceguinho Torcedor: – Sim, João. A inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, face ao resto do mundo em todos os setores, sobretudo, no futebol. O problema do escrete não era de futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente. Era um problema de fé em si mesmo.

Garçom: – Hoje em dia acho que muitos jogadores da seleção se acham importantes e bons demais pro que realmente são.

Ceguinho Torcedor: – Eles têm um complexo de vira-latas às avessas.

João Sem Medo: – Complexo de lulu de madame.

Todos riem.

Idiota da Objetividade: – Em 58 a seleção brasileira foi para a Suécia desacreditada.

Ceguinho Torcedor: – Aqui o escrete já se sentia no estrangeiro; lá, é como se estivesse em casa. Esse foi o drama da seleção: encontrar lá fora o tratamento humano que lhe negamos aqui.

Idiota da Objetividade: – O Brasil estreou na Copa com uma vitória de 3 a 0 sobre a Áustria, com dois gols de Mazzola e um de Nilton Santos.

Ceguinho Torcedor: – Mazzola arrombou duas vezes a rede adversária e Nilton Santos fez um gol fulgurantíssimo.

Todos os outros: – Fulgurantíssimo, Ceguinho?

Ceguinho Torcedor: – Muito mais que espetacular. Ele se desgarrou da defesa, foi dizimando até meter o gol. Mas Gilmar defendeu tudo, até pensamento.

Idiota da Objetividade: – Na segunda partida, a seleção brasileira empatou sem gols com a Inglaterra.

João Sem Medo: – Gilmar fez outra grande partida, salvando inclusive um gol contra de Orlando no fim do jogo. O goleiro inglês McDonald também teve grande atuação. O Brasil foi melhor no primeiro tempo, os ingleses, na etapa final.

Ceguinho Torcedor: – Feola, que já havia trocado Dida por Vavá para enfrentar os ingleses, mudou mais três jogadores para a partida contra a Rússia e tivemos os três minutos mais sensacionais da história do futebol. Nos primeiros três minutos da batalha, já o Garrincha tinha derrotado a colossal Rússia, com a Sibéria e tudo o mais. E bastava o empate.

Idiota da Objetividade: – O técnico Vicente Feola tirou o volante Dino Sani e os atacantes Joel e Mazzola para as entradas de Zito, Garrincha e Pelé.

Ceguinho Torcedor: – Garrincha não acreditava em empate e foi driblando um, driblando outro e consta, inclusive, que, na sua penetração, fantástica, driblou até as barbas de Rasputin.

O público se diverte, principalmente Garrincha, que dá uma sonora gargalhada.

Garçom: – Vamos aproveitar pra ver no telão lances maravilhosos desses 3 minutos estupendos e outros da vitória sobre a União Soviética, em 1958, com narração em francês.

O público aplaude e reverencia mais uma vez Garrincha e Didi, que agradecem sorrindo.

Ceguinho Torcedor: – Amigos, a desintegração da defesa russa começou exatamente na primeira vez que Garrincha tocou na bola. O jogo Brasil e Rússia acabou nos três minutos iniciais. Só um Garrincha poderia fazer isso contra o time poderosíssimo da Rússia. Porque Garrincha não acreditava em ninguém, só em si mesmo.

Sobrenatural de Almeida: – Naquele dia, acho que nem eu conseguiria parar o Garrincha.

Mané Garrincha se levanta e responde.

Garrincha: – Não, Almeida. Naquele dia, nem você!

Todos riem.

Garçom: – Vou aproveitar a deixa pra que a gente possa fazer outra homenagem ao grande Mané Garrincha, que nos dá a gigantesca honra de estar aqui presente. Venha ao palco, por favor, Angelita Martinez!

Todos aplaudem a ex-vedete.

Angelita Martinez: – Muito obrigada, Zé Ary, muito obrigada a todos. Bom, não sei se vocês sabem, mas meu pai foi jogador de futebol, zagueiro. Ele está ali, viemos juntos. Levante-se, por favor, Barthô Gugani!

Gugani se levanta e agradece os aplausos do público.

Idiota da Objetividade: – Gugani foi zagueiro do São Bento, do Paulistano e do São Paulo, pelo qual foi campeão paulista em 1931. E atuou pela seleção brasileira, fazendo parte do time que conquistou a Copa Rocca, em 1922.

Gugani é muito aplaudido. Ele agradece.

Barthô Gugani: – Muito obrigado! É uma honra muito grande estar aqui ao lado da minha filha Angelita e toda minha família. Vim pro Mundo Espiritual com 36 anos de idade, em 1935, e estou muito feliz de estar aqui hoje revivendo grandes momentos do nosso futebol com todas essas feras.

Todos aplaudem mais uma vez.

Angelita Martinez: – Te amo, pai! Bom, é com muita honra que gravei esta música, em 1958, e venho aqui a este palco para prestar uma homenagem ao nosso grande craque Mané Garrincha. A composição é de Jorge de Castro, Wilson Batista e Nóbrega de Macedo e se chama “Mané Garrincha”.

Angelita é muito aplaudida e deixa o palco. O jogo Brasil x URSS volta à mesa de nossos amigos.

Ceguinho Torcedor: – Calculo que lá pelas tantas os russos, na sua raiva obtusa e inofensiva, devem ter imaginado que o único meio de destruir Garrincha fosse caçá-lo a pauladas. Talvez nem assim. No segundo tempo, Garrincha resolveu caprichar no baile, foi um carnaval sublime. As cinzas do czar devem ter ficado humilhadíssimas. O marcador do “seu” Manoel já não era um: eram três. E então começou a se ouvir aqui no Brasil, na Praça da Bandeira, a gargalhada cósmica, tremenda, do público sueco.

Todos riem e aplaudem. Garrincha se levanta novamente e agradece.

Garrincha: – Seu Ceguinho, o senhor é craque! Muito obrigado.

Ceguinho Torcedor: – Não chego a seus abençoados pés, Mané!

Garçom: – Aquela foi mesmo uma atuação histórica! De recuperar o orgulho brasileiro, não é “Seu” Ceguinho?

Ceguinho Torcedor: – Aqui, em toda extensão do território nacional, começávamos a desconfiar que era bom, que era gostoso ser brasileiro.

Idiota da Objetividade: – E foi a primeira vez que Garrincha e Pelé jogaram juntos numa Copa do Mundo.

Garçom: – Então, como Garrincha já foi homenageado, agora será a vez de Pelé. Aliás, já soube que ele virá aqui mais tarde.

O público vibra.

Vou pôr aqui no som uma música gravada pelo Clube do Guri, com Denise e coro nos vocais. Tenho certeza de que todos vão gostar. O nome da música é “Homenagem a Pelé”. Ouçam e divirtam-se.

Fim do capítulo 44

Quer acompanhar a série “Uma coisa jogada com música” desde o início? O link de cada episódio já publicado você encontra aqui (é só clicar).

Saiba mais sobre o projeto Jogada de Música clicando aqui.

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2 Comentários

  1. Ecio Pedro

    Parabéns, Edu!
    Como sempre, belas efemérides recheadas de “fantasia”!

    Responder

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