por Eduardo Lamas Neiva
Todos se divertem com a música de Gilberto Gil, tocada e cantada pelos Novos Baianos.
Músico: – Embora seja o autor desta música em homenagem ao Bahia, Gilberto Gil diz que é torcedor de outro Tricolor, o do Rio de Janeiro.
Garçom: – Ah, mas ele fez uma grande homenagem ao Flamengo. “Alô torcida do Flamengo, aquele abraço…”
Músico: – Na verdade, Zé Ary, Gil alega que aquele verso é uma ironia com a torcida rubro-negra. Diz ele que era um adeus aos flamenguistas que deixavam o Maracanã após os 3 a 2 pros tricolores na final do Carioca de 69.
Garçom: – Eu não acredito nisso. Será?
Músico: – Mas foi o que o compositor falou…
Ceguinho Torcedor: – Gilberto Gil é um autêntico e ilustríssimo torcedor do Fluminense. Meus caros, o Fluminense nasceu com a vocação para a eternidade. Tudo pode passar, só o Tricolor não passará jamais. O Fluminense é o único time tricolor do mundo! O resto são só times de três cores.
No público, ouvem-se risadas, aplausos e alguns poucos protestos bem-humorados.
Sobrenatural de Almeida: – Que Fla-Flu, que sururu!
Todos agora riem.
João Sem Medo: – Esta discussão fora de campo já rendeu música.
Músico: – Verdade, seu João. O próprio Cyro Monteiro pode nos contar a história.
Cyro se levanta e é aplaudidíssimo.
Cyro Monteiro: – Muito obrigado, minha gente. Bom, a história foi a seguinte, em 1969, quando meu amigo Chico Buarque foi pai pela primeira vez, em Roma, pois estava exilado, mandei de presente pra Silvia, filha recém-nascida dele e da Marieta Severo, uma camisa do meu Flamengo. Eu fazia isso com todos os meus amigos, fossem ou não torcedores rubro-negros. Chico agradeceu, mas respondeu com a letra de um samba que me devia: “Ilustríssimo Senhor Cyro Monteiro ou Receita para virar casaca de neném”.
Garçom: – Vamos ouvir, então? Depois o senhor prossegue contando esta história que é muito boa. Pode ser?
Cyro Monteiro: – Claro.
O povo no bar se diverte com o samba e a letra. Os tricolores aproveitam, então, para tirar um sarro com os flamenguistas. Mas Cyro retoma a pelota.
Cyro Monteiro: – Bom, ele gravou esta música que vocês acabaram de ouvir, em 1970. Mas não me fiz de rogado e a gravei dois anos depois. Querem ouvir?
Todos respondem em uníssono “sim”.
Cyro Monteiro: – Então, vamos lá.
E lá foi Cyro ao palco, com uma caixinha de fósforo na mão e uma bandeira do Flamengo enrolada no corpo, sendo muito aplaudido e apupado mais na troça do que qualquer outra coisa, pelos torcedores rivais, claro.
Quando ao final Cyro diz: “Ô Chico, a Silvinha vai crescer e entender, tá?” e dá sua risada, todo povo entra em alvoroço, num verdadeiro Fla-Flu.
Cyro Monteiro (ainda rindo muito): – Eu avisei. Qual é o time da Silvia? Flamengo, claro.
E veio mais um sururu no bar, com muita alegria e respeito.
Ceguinho Torcedor: – O Fla-Flu começou 40 minutos antes do nada!
Sobrenatural de Almeida: – E continua sendo disputado no Além da Imaginação! Assombroso! hahaha
Gargalhada geral, muita falação e barulheira, com gritos de “Mengo” e “Nense” e resposta dos torcedores dos outros clubes. Quando o povo se acalma um pouco, após pedidos insistentes de Zé Ary, João Sem Medo bota a bola no chão.
João Sem Medo: – Vejam só, meus amigos, a conversa era sobre o Bahia e foi parar num Fla-Flu.
Garçom: – Sim, falávamos sobre o Tricolor baiano, campeão brasileiro em 1959 e 1988.
Sobrenatural de Almeida: – Ué, mas os campeonatos só terminaram em 1960 e 89. Coincidência? Isso é assombroso!
João Sem Medo: – Na verdade, é a eterna desorganização dos nossos dirigentes. O Campeonato Brasileiro já começou num ano e terminou no seguinte algumas vezes, sem ser por causa de pandemia, como ocorreu em 2020, ou qualquer problema sério acima do futebol. Fora as muitas confusões, mudanças de regulamento no meio da competição…
Idiota da Objetividade: – O campeonato de 1977, por exemplo, só terminou em 78. O São Paulo foi o campeão, vencendo nos pênaltis o Atlético Mineiro, no Mineirão.
João Sem Medo: – Reinaldo e Serginho, que eram os artilheiros do Atlético e do São Paulo não jogaram. Lembro do Neca dando uma entrada criminosa no Ângelo, do Atlético, e o Chicão pisando no meia atleticano depois. Pior, ninguém foi expulso!
Idiota da Objetividade: – O árbitro era Arnaldo Cezar Coelho.
Todos em uníssono: – Pode isso, Arnaldo?
Idiota da Objetividade: – Pra defender o Arnaldo, na hora que Chicão pisou o calcanhar do Ângelo, ele estava de costas dando cartão amarelo pro Neca.
João Sem Medo: – Tinha de expulsar os dois!
Todos em uníssono: – Pode isso, Arnaldo?
Fim do capítulo 36
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