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SÓ AS MÃES DOS ÁRBITROS SÃO FELIZES

2 / maio / 2020

por Paulo Roberto Melo


Eu devia ter uns dez anos, mas lembro como se fosse hoje. Cheguei em casa do colégio e não conseguia disfarçar a tristeza. Minha mãe, sempre atenta, quis saber o motivo e eu despejei em cima dela a causa do meu sofrimento:

– Hoje, o Ricardo me chamou de FDP! E eu sei que esse xingamento não é só pra mim… (Pausa dramática para as lágrimas) Ele na verdade xingou você!

Minha mãe sorriu aliviada, pois talvez esperasse algo pior e me consolou:

– Meu filho, não tem problema! Vamos combinar assim: Você tem duas mães. Uma que sou eu e outra para esses meninos sem educação xingarem, está certo?

Concordei, embora confesse que sempre tive uma enorme dificuldade de separar as mães. Afinal, como saber se estavam xingando a que era para ser xingada ou a que era para ficar guardada?

Cresci e hoje, começando o mês de maio, dedicado às mães, penso que sem futebol, causado pela pandemia, só as mães dos árbitros são felizes! Penso que elas devem estar acompanhando as notícias sobre a possível volta do futebol, de uma forma diferente de todos nós que não carregamos este terrível fardo.

Afinal, imagine como elas devem se sentir, escutando aquele coro vindo das arquibancadas, captado pelos potentes microfones das transmissões? Será que algum deles telefona para a mãe, manifestando a mesma tristeza daquele garoto de dez anos?

Realmente não sei… O que sei é que essa ausência do futebol, combinada com uma quarentena cruel, está me fazendo ter saudade até dos árbitros!


Como não se lembrar do Daronco, que parece que a qualquer momento vai ensopapar quem discordar dealguma marcação? E o Ricardo Marques Ribeiro, que faz resenha com a própria sombra? Quem se esquece do Clauss e sua pose de galã de novela mexicana? E claro, lembramos todos do Heber Roberto Lopes, que parece ser um vilão saído de histórias em quadrinhos.

Quem foi um garoto de dez anos já há algum tempo como eu, há de se recordar de Armando Marques e sua elegância; do baixinho Agomar Martins, considerado o Rei dos Gre-Nais; de Sidrack Marinho e suas corridas para trás; de Arnaldo Cezar Coelho, tranquilo como comentarista e tranquilo com a bola nas mãos encerrando a Copa do Mundo de 1982; e Margarida, Luiz Carlos Félix, Cabelada, Wright, Romualdo e tantos outros.

Não há como negar, o nosso futebol é marcado pelos incontáveis craques e os times maravilhosos que desfilaram e desfilam pelos gramados deste país. Mas também é marcado pelos árbitros e suas folclóricas e polêmicas arbitragens. 

Neste mês de maio, sinto saudade da minha mãe que já partiu e abraço todas as mães que um dia consolaram seus filhos, sejam eles árbitros ou não

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