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SÉRIE ‘TIME DOS SONHOS’: ‘UMA VEZ FLAMENGO, FLAMENGO ATÉ MORRER…’

17 / maio / 2017

por André Felipe de Lima


Escalar o time dos sonhos do clube do coração é algo mais comum do que imaginamos. Quem gosta de futebol e de um bom papo, sobretudo regado a uma cervejinha em um bar entupido de boleiros afoitos por recordar os craques de outrora, sabe do que falamos aqui. Para incrementar a onda saudosista, o projeto “Ídolos-Dicionário dos craques do Futebol brasileiro” inicia a série “Time dos sonhos”, com escalações preliminares desenvolvidas pelo autor da obra, com base nas investigações jornalísticas que empreendeu ao longo dos últimos quinze anos para escrever os 18 volumes da enciclopédia dos maiores craques da nossa história, dos quais, alguns, tornaram-se míticos de norte a sul do país.


García

O primeiro time do nosso saudável debate é o Flamengo. No gol, escalamos o paraguaio Garcia, que brilhou no “tri” estadual do Flamengo, de 1953 a 55. Foi, segundo muitos relatos, arrojado e extremamente técnico embaixo das traves. Chegou ao Flamengo após um desempenho espetacular no Maracanã defendendo a seleção do Paraguai. Poderíamos escalar outras feras como o amazonense Amado, que tinha como fã número um o cronista Mario Filho. Foi ídolo rubro-negro na década de 1920. Até o começo dos anos de 1970, muitos o achavam o maior arqueiro do Flamengo em todos os tempos. Mas há também Raul, o guardião da meta do timaço campeão de tudo e de todos no começo da década de 1981, ou mesmo o Júlio César, que tão bem se manteve na Gávea na virada do milênio.

Vamos para a lateral-direita. Nela o rei é Leandro, um dos maiores craques já produzidos pelas divisões de base do Flamengo. Integrou o time do Flamengo campeão do mundo em 1981. Até o seu surgimento, o maior era Biguá, o primeiro “Deus da raça” da história do clube, que fez da lateral posto intocável entre o começo dos anos de 1940 e meados da década seguinte. Outro bom lateral-direito do Flamengo foi Toninho, que deixaria o posto para o próprio Leandro, em 1981.

Na zaga central não houve beque mais extraordinário que Domingos da Guia. Para muitos o maior zagueiro da história do futebol brasileiro. Um jogador que conseguiu um feito memorável nos anos de 1930 ao ser campeão de três campeonatos, em sequência, e em três países diferentes, defendendo o Nacional de Montevidéu, o Boca Juniors e o Vasco. Ícone do seu tempo, Domingos destacou-se na Copa do Mundo de 1938, na França. Outros excelentes centrais na história do Flamengo foram Pavão, do “tri” de 1953 a 55, e Marinho, do esquadrão de 1981.


Para compor a zaga do Mengão dos sonhos escalamos Mozer, companheiro de Marinho em 1981. Clássico, Mozer foi, após Domingos, o zagueiro mais sensacional que brotou na Gávea. Mas lá também fizeram história Hélcio, na década de 1920, Tomires, que jogou ao lado de Pavão, o paraguaio Reyes, no começo dos anos de 1970, e o segundo “Deus da raça” do clube, o aguerrido Rondinelli, autor do gol do título estadual de 1978, uma espécie de “pedra fundamental” do time que conquistaria todos os troféus que veria pela frente até meados da década de 1980.

Na lateral-esquerda é Júnior e ponto final. O “Capacete”, como o chamavam na concentração, era tão sensacional que, para muitos, inclusive torcedores de outros times, foi um lateral-esquerdo superior ao Nilton Santos, o maior da posição em todos os tempos. Heresia ou não, o torcedor do Flamengo não está nem aí. Para ele, Júnior é o melhor lateral canhoto que já viram jogar. Mas o Flamengo teve outros craques na posição. Jayme de Almeida (década de 1940), Jordan (anos de 1950) e Paulo Henrique (anos de 1960) também brilharam.

Vamos para a meia cancha, recorrendo ao velho estilo 4-3-3. Como centromédio ou volante, como queiram, Dequinha senão o melhor foi inegavelmente o maior da posição. Dequinha disputou todos (disse ‘todos’!) os jogos das campanhas de 1953, 54 e 55 que garantiram o segundo “tri” estadual ao Flamengo. Baixinho, era magistral no desarme e, fundamentalmente, nos lançamentos, onde, invariavelmente, encontrava o pessoal da frente pronto para marcar mais um tento para o Flamengo. Além dele, Carpegiani e Andrade foram os outros grandes volantes que envergaram o manto rubro-negro. Os dois jogaram entre os anos de 1970 e 80, sempre disputando a posição ferrenhamente. Quando Carpegiani pendurou as chuteiras em 1981 para assumir o comando técnico do time, Andrade tomou conta da posição.


                            Zizinho

Entre os meias-armadores nenhum outro superou Zizinho. Ídolo do Pelé, “Mestre” Ziza foi um dos melhores jogadores que o futebol mundial já teve. Cerebral, com dribles magistrais, ágil e goleador, Zizinho marcou época na década de 1940, mas deixou o clube de forma turbulenta pouco antes da Copa do Mundo de 1950 para defender o Bangu, onde também é ídolo intocável. Na posição, também cultuado foi o grande Adílio, escudeiro de Zico na meia cancha do campeoníssimo Flamengo dos anos de 1980.


E quem vestiria a camisa 10 neste time dos sonhos? Ora, alguma dúvida? O nome só pode ser um: Zico. Embora o Flamengo ostente em sua história grandes jogadores como pontas-de-lança, jamais haverá um como o Galinho de Quintino, o maior artilheiro da história do clube, com mais de 500 gols, e um ícone do futebol mundial na década de 1980. Mas o torcedor do Flamengo pode se gabar de ter vislumbrado grandes craques na posição. Pirillo, até hoje o maior artilheiro de uma edição do Campeonato Carioca, destacou-se no time entre 1941 e 47 e marcou cerca de 200 gols pelo time. Na década seguinte, havia Rubens, ou “Dr.Rúbis”, como o radialista Ary Barroso gostava de chamá-lo. Nos anos de 1960, pintou ao lado de Almir Pernambuquinho o corpulento Silva “Batuta” com “dez” nas costas. Após a Era Zico, surgiu o magrelo, porém genial Bebeto, craque na conquista da Copa União, de 1987, título nacional que a Justiça, digamos, sequestrou da história do clube. Outro camisa 10 icônico despontaria somente na virada do milênio. Um gringo sérvio capaz de colocar a bola em qualquer parte do gramado. Como se esquecer daquela cobrança de falta do Petkovic na final do Campeonato Carioca de 2001?


Moderato

Nesta nossa escalação, que segue o modelo 4-3-3, há espaço para ponteiros. Na direita, ousamos escalar um ponta-esquerda de raiz. Para isso, fomos buscar na década de 1920 o grande ídolo Moderato, craque canhoto dos times do Flamengo nas conquistas do Campeonato Carioca de 1925 e de 27, neste último, Moderato — que formou um ataque poderoso com o ponta-direita de origem Vadinho, os meias Candiota e Junqueira e o centroavante Nonô — fez o gol do título (2 a 1) sobre o América. Um gol épico, talvez mais memorável que o do Rondinelli, em 1978, ou o do Petkovic, em 2001, pelo simples fato de Moderato ter jogado a partida com uma cinta protetora. Sim, uma cinta que impediria o rompimento dos pontos de uma recente cirurgia de apêndice a qual foi submetido. Na ponta-direita também brilharam Joel, na década de 1950, também campeão do mundo na Copa de 1958, e Tita, que às vezes, ocupava a “10” do Zico, quando este se contundia.


Leônidas

Centroavante o Flamengo teve aos montes, mas nenhum igual ao Leônidas da Silva, o “Diamante Negro”. A famosa marca de chocolate foi criada em homenagem ao craque do Flamengo, o artilheiro da Copa do Mundo de 1938. Antes de Leônidas, quem fez muito gol pelo Mengão foi o “vara-pau” Nonô, um camarada alto pra burro, que se notabilizou por muitos gols de cabeça e o indefectível gorrinho que vestia. Outra fera, que jogava no comando do ataque ou na ponta-de-lança, foi Evaristo de Macedo. Após deixar o Flamengo, em 1957, tornou-se um dos maiores ídolos em todos os tempos dos rivais Barcelona e Real Madrid. Façanha rara de se ver. Lá, na Espanha, Evaristo é reverenciado até hoje. Mas no Mengão, é também inesquecível. Nos anos de 1960 vieram o briguento Almir Pernambuquinho, que quebrou o pau na final do Campeonato Carioca de 1966, contra o Bangu, o argentino Doval, que vestiu Flamengo entre 1969 e 75, o clássico e estiloso Cláudio Adão, Nunes, o artilheiro das decisões dos “Brasileiros” de 1980 e 1982 e do Mundial de Clubes de 1981, e, por fim, o baixinho Romário, que ficou por pouco tempo, porém o suficiente para marcar o seu nome no Olimpo de craques da Gávea.


Dida

Na ponta-esquerda abrimos uma exceção escalamos um jogador que, talvez, jamais atuasse naquela faixa do campo. Escalamos Dida, o ídolo dos sonhos do menino Arthurzico, que mais tarde entraria para a história como apenas Zico. Dida foi o primeiro craque do futebol brasileiro a tornar a camisa 10 singular e popular, antes mesmo do aparecimento de Pelé, no Santos. Dida foi o nome principal do Flamengo na década de 1950, um genuíno herdeiro de Zizinho, que passou o a coroa de maior artilheiro da história do Flamengo para o seu fã eterno, o menino Zico. Mas o Flamengo teve grandes pontas canhotos de ofício. Vevé (anos de 1940) foi o primeiro deles. Também aprontaram ali Esquerdinha (anos de 1950), Zagallo (idem, em 50), o entortador de laterais Júlio César “Uri Geller” (anos de 1970) e, por fim, o eficiente Lico, que foi muito importante taticamente para o Flamengo campeão mundial de 1981.

Pois é, amigos. Está aí o Flamengo dos sonhos, que a televisão jamais poderá mostrar, mas que a literatura e, sobretudo, os memoráveis cronistas do passado, incumbiram-se de trazer para nós. Somente as narrativas de outrora permitem um vigoroso resgate de memória cultural. Somente a literatura nos oferece a oportunidade de — sem determinismos, claro — sonharmos com o time que desejaríamos ver no quadro do nosso quarto, devidamente desenhado e escalado. Pensando nisso, o cartunista Anli, que, por coincidência, é também o autor da enciclopédia “Ídolos-Dicionário dos craques”, colocou no pincel o maior Flamengo de todos os tempos, como poderão conferir na charge abaixo.


Agora, a bola está com você, torcedor do Flamengo ou com quem, acima de tudo, curte de montão a história do futebol brasileiro. Querem arriscar uma escalação do escrete do Mengão dos sonhos?

Nas próximas semanas teremos o Corinthians de todos os tempos. Mas aguardem torcidas dos outros clubes cariocas. Seus times dos sonhos também estarão por aqui, bem como os de outros grandes clubes paulistas, gaúchos, mineiros, baianos, paranaenses e pernambucanos. Até lá.

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