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O SHOW NÃO PODE ACABAR

por Zé Roberto Padilha

Todos nós, apaixonados pelo futebol, sabemos de onde bebemos o gole inicial dessa deliciosa paixão. Diferente dos suíços, que cultuam seus chocolates, dos ingleses que chegam no horário porque o Big Ben é um símbolo nacional, adotamos o futebol porque as maiores craques nasceram por aqui.

E nos encantaram. E nos tornaram órfãos e seguidores de suas genialidades.

Quantos se tornaram santistas por causa de Pelé? Quantos se tornaram Botafogo por causa de Mané Garrincha?

E de uma outra safra pós-Zico, Rivellino, PC e Sócrates, vieram os Ronaldos, Rivaldo e Romário. Até o surgimento de Neymar, o último a honrar o berço do futebol-arte.

De uns tempos pra cá, cheios de estrangeiros a vestir sua camisa 10 em detrimento dos nossos que são vendidos cedo, recorremos a colombianos e uruguaios para dar um brilho nas jogadas. Exportamos promessas e importamos suas sobras.

O resultado? Espetáculos mais pobres e nossos filhos e netos chegando em casa com a camisa do Real Madrid. E quando um time de futebol leva a campo uma nova roupagem, uma inovação tática arriscada e admirada, logo se livram dela. Por causa de resultados.

Hoje, o Fluminense volta a campo. E com ele o 4-5-1. Trivial e retranqueiro, o novo diretor do espetáculo vai subir ao palco fechadinho em busca de resultados para não cair.

Juntos, cairá a audiência, o nível do espetáculo, e cada vez mais Manos Menezes vão puxar o freio de mão de um paixão genuinamente nacional que se esvai.

TÁ RUIM? ENTÃO TROCA

por Idel Halfen

Não gostei da demissão do técnico Fernando Diniz!

Expurgar o aspecto “gratidão”, por mais esforço e frio que eu queira ser, não seria possível, embora isso aqui pouco importa, já que o artigo terá um foco voltado essencialmente à gestão.

Os resultados estavam ruins. Ok, mas qual o intervalo de tempo que estamos nos referindo? Ou melhor, qual deve ser o intervalo padrão para avaliação? Difícil responder!

No final de temporada, quando é possível iniciar um novo ciclo? No meio dela, quando não há tempo hábil para se instaurar e treinar uma filosofia de jogo diferente, a qual, não necessariamente será melhor?

O momento da competição e as pretensões também não podem ser desprezados, o que aumenta a quantidade de variáveis e a complexidade da decisão.

Podemos incluir nessa equação, as opções de reposição, considerando aqui as perspectivas no que tange o relacionamento com os jogadores, se o estilo de jogo é compatível com as características do elenco, se tem a “cara” do clube e qual a capacidade financeira para se trazer um profissional adequado às necessidades.

Deixo propositalmente de fora um ponto que admito ter forte influência, mas que não deveria existir: a pressão imposta pelos torcedores, cada vez mais inflados pelas redes sociais. Pior, uma pressão advinda da emoção, a qual deve ficar de fora tanto no que diz respeito à gratidão, como na insatisfação proporcionada pela sequência de resultados ruins.

Por mais que a emoção esteja presente no esporte, ela não combina com gestão, onde a frieza – não confundir com ausência de empatia – é fundamental para o atingimento dos objetivos.

Qual organização nunca passou por uma crise, substantivo utilizado para identificar uma situação na qual a realidade está divergente da expectativa, sendo que, muitas das vezes, essa última é otimista demais. Não digo que seja o caso do Fluminense, mas, não custa incluir essa variável na reflexão.

Seria apropriado demitir um CEO que deu uma lucratividade recorde no exercício anterior por não ter performado bem nos dois trimestres posteriores? 

Acrescentamos nesse exercício de imaginação o fato de que o tal CEO é extremamente querido por sua equipe, a qual confia plenamente nele. 

Claro que de fora é fácil criticar, dentro de um clube, sei bem como é, a pressão é enorme. Mas em empresas, por mais que não tenham torcedores ou mesmo que não exista a imprensa e blogueiros alimentando o assunto, a pressão também é enorme, pois mexe com dinheiro de acionistas e emprego de colaboradores, tanto os próprios como os dos fornecedores.

A opção de trocar o gestor sempre irá existir, o que pode acontecer inclusive por vontade dele, todavia, essas mudanças não podem vir sem o devido estudo, sem se ter havido, mesmo que hipoteticamente, um plano de sucessão. 

Fazer concessão à pressão denota falta de convicção no planejamento elaborado, se é que ele existe.

QUANDO O CANO ENTOPE, TIGRE VIRA UM GATINHO

por Zé Roberto Padilha

Ele nunca realizou grandes jogadas. Não é um exímio driblador, muito menos um excelente pivô. Assistências? Raríssimas. German Cano sempre superou toda essa carência de fundamentos colocando, em sua maneira instantânea e competente de decidir, a bola no fundo das redes adversárias.

Calava, com os gols, os comentários que se avolumam perante sua costumeira falta de participação coletiva.

Porém, quando a bola não chega porque o Arias está na Copa América e o Ganso não tem mais pernas para alcançar a grande área, Cano é menos um. Fica parecendo que o Fluminense teve um jogador expulso.

Com sua garra e determinação, volta para ajudar a defesa sem saber defender. Recua para armar o jogo sem saber armar as jogadas. Nesse momento difícil, que todos os jogadores passam, o de viver uma fase ruim, melhor deixá-lo no banco de reservas.

Tanto quanto um treinador, o Fluminense precisa urgente de um centroavante.

Principalmente quando esse sinal, sua marca registrada com os dois dedos, deixa de se tornar uma homenagem para parecer indicar o número da divisão que caminhamos para disputar.

O FEITICEIRO

por Elso Venâncio

O treinador paraguaio que lançou futuros ídolos, como Dida, Evaristo, Zagallo e Zico

O paraguaio Fleitas Solich foi um dos maiores técnicos da história do futebol. O ‘Feiticeiro’, como era chamado, surgiu jogando com estilo elegante no meio de campo do Nacional, de Assunção. Por esse clube, se destacou a ponto de ser convocado para a seleção do seu país aos 18 anos de idade. Líder nato, três anos depois, tornou-se capitão e treinador da seleção paraguaia. Ídolo no Boca Juniors, uma contusão o afastou dos gramados. Assim, abraçou de forma precoce a nova carreira, dirigindo o mais popular clube argentino antes de comandar o Paraguai na Copa de 1950. Depois, levou o Paraguai ao título da Copa América de 1953, vencendo a seleção brasileira, na final, por 3 a 2.

O Flamengo sofria com um jejum de oito anos sem título. Não era campeão desde o primeiro tricampeonato estadual (1943/1944/1945), conquistado sob o comando de Flávio Costa. O presidente Gilberto Cardoso contratou Fleitas Solich, que de imediato lançou três jovens: os alagoanos Dida, ídolo de Zico, e Zagallo, que veio do América, além de Evaristo de Macedo, comprado junto ao Madureira. Vale dizer que Dida é o segundo maior artilheiro do clube, com 253 gols marcados. Apenas Zico o supera, com 523.

O Flamengo embalou com Solich, conquistando mais um tricampeonato (1953-1954-1955). O inventor do esquema 4-2-4 chegou a ser cotado para comandar o Brasil na Copa de 1958, na Suécia, porém o escolhido pela CBD, a antiga CBF, foi o paulista Vicente Feola. Solich dirigiu, então, o poderoso Real Madri de Puskas, Di Stéfano e Cia., em 1959, conquistando a Liga dos Campeões. Depois, passou pela Seleção do Peru, pelo River Plate e, ao voltar ao futebol brasileiro, dirigiu Corinthians, Palmeiras, Atlético Mineiro, Bahia e Fluminense.

Na decisão do Campeonato Carioca de 1963, novamente a agonia de um Flamengo sem títulos havia oito anos. No Fla-Flu, dois personagens, rivais declarados, frente a frente. Flávio Costa, de volta, e Fleitas Solich, agora no tricolor. No empate em zero a zero, o Flamengo ficou com o título, por ter melhor campanha. O clássico registra até hoje o maior público da história, entre clubes de futebol. No total, 194.603 presentes, com 177.656 pagantes.

Em seu último trabalho na Gávea, Solich, no ano de 1971, lançou o magricela Zico, aos 18 anos de idade, como titular, na vitória de 2 a 1 sobre o Vasco. Com 504 jogos, o paraguaio é o segundo técnico que mais dirigiu o Flamengo. Só perde para Flávio Costa, com 765 partidas.

A Federação Paraguaia entrega aos melhores do ano a medalha ‘Mérito Esportivo Manuel Fleitas Solich’. O ‘Feiticeiro’ faleceu em 1984, aos 83 anos de idade, sendo sepultado no Cemitério São João Batista, no bairro de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro.

DIÁLOGOS BOTAFOGUENSES

por Wesley Machado

Vejo uma ligação perdida da minha mãe Ezilane, ligo de volta, meu pai Fernando atende.

– Temos de ganhar – ele sempre diz em dia de jogo do nosso Botafogo.

O hino que Seedorf quis mudar afirma:

– Não podes perder, perder para ninguém.

O botafoguense é um calejado e por vezes se contentou com um empate.

– Não podes perder.

Então empatar pode?

Para o realista que é meu pai, não.

– Em casa temos de ganhar.

Esta é uma lição que aprendi com ele.

Em 2023 a confiança era tanta que meu pai sonhou que seríamos campeões.

Meu amigo de mais de 15 anos, jornalista Hugo Soares, gravou uma matéria com minha família botafoguense.

No final do ano o título não veio.

Mas em tempos de curtidas, curtimos o momento.

Nas lideranças em algumas rodadas em 2024, evitei o:

– Segue o líder.

Conforme pregava Tiquinho em 2023 e Júnior Santos assimilou em 2024:

– Pezinho no chão.

Por falar no nosso artilheiro Júnior Santos, desfalque no jogo desta quarta-feira contra o Bragantino, este foi mais um dos assuntos da minha conversa com meu pai.

– Sem Júnior Santos…

Conversa que reproduzi com Hugo, que vestia a linda camisa do título da Série B de 2021, o recomeço do Botafogo na era SAF.

Hugo responde:

– Não podemos depender só de um jogador.

E continua:

– Eduardo precisa aparecer mais.

E não é que Eduardo apareceu?

Foi o autor dos dois gols da virada contra o time da Red Bull.

Em uma semana que começou com uma hora na cadeira do dentista para fazer um canal, os sofrimentos e as dores de ser Botafogo foram amenizados com uma alegria proporcionada por uma vitória como esta.

Agora é dormir satisfeito e sonhar:

– E se o Botafogo for campeão…