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UMA HORA OS MÚSCULOS ARREBENTAM

por Zé Roberto Padilha

Arrascaeta tem sido uma das maiores vitimas das trocas da Comissão Técnica no Flamengo. Mal chegamos ao mês nove e já foram três. Não pelos seus treinadores. Jogando em que lado do campo seja escalado, por portugueses Pereiras ou Souzas, argentinos Sampaolis, tem talento de sobra para resistir à mediocridade.

O problema são dos que cuidam da sua parte fisica. Quando o ano terminou, o camisa 14 levou para as férias um cronograma de repouso e atividades físicas leves para não voltar totalmente fora de forma.

Quando retornou não encontrou mais a planilha dos preparadores físicos do Dorival Jr., encontrou outra, do Vitor Pereira. E vocês sabem, não há no futebol um governo de transição, como na política, que membros de uma gestão fornecem dados àquelas que o sucedem.

Como caem da noite para o dia, Arrascaeta foi submetido aos novos comandantes físicos sem uma planilha com os rumos de sua preparação. Se era para aumentar a carga, diminuir, força ou aprimorar a velocidade. Ou seria a hora da manutenção?

Para piorar, são substituídos. E no meio da temporada seus músculos, púbis e articulações são entregues aos comandados por Sampaoli, que querem mostrar serviços em meio a Libertadores, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro.

Está na hora de respeitar a estrutura física dos nossos jogadores. Suas limitações. Não são máquinas, são seres humanos que precisam que tais limites sejam respeitados. Mesmo quando se trocam os treinadores, é preciso que os músculos cuidados pelos ministros de Bolsonaro sentem para conversar com os ministros de Lula.

Antes da posse. Antes das finais da Copa do Brasil. E se a política nossa, de um escândalo por dia, foi capaz de dar um bom exemplo, por que nosso futebol não conseguiria?

A VERGONHA DO CARIOCA DE 90

por Luis Filipe Chateaubriand

Em 1990, Botafogo x Vasco da Gama era o jogo decisivo do Campeonato Carioca, mas, também, o jogo da polêmica.

Na interpretação do Botafogo, quem vencesse o jogo seria o campeão do certame; havendo empate, prorrogação e, caso necessário, pênaltis.

O lógico.

Mas, na interpretação do Vasco da Gama – leia-se, na interpretação do seu delirante vice-presidente de futebol Eurico Miranda –, o Vasco da Gama garantia o título vencendo ou empatando e, se o Botafogo vencesse, ainda haveria prorrogação e, caso esta terminasse empatada, pênaltis.

O quiproquó estava formado!

Veio o jogo.

O Botafogo venceu por 1 x 0, com gol de Carlos Alberto Dias, já no final da partida.

Como o Botafogo interpretava que a vitória lhe daria o título, os jogadores botafoguenses comemoraram à beira do campo, com direito à taça e tudo!

Como o Vasco da Gama interpretava que a vitória do Botafogo ensejava uma prorrogação, os jogadores vascaínos ficaram dentro do campo, esperando que a prorrogação fosse jogada.

Como o regulamento previa que, passados 30 minutos sem que um dos clubes comparecesse para jogo, o adversário era proclamado vencedor por W.O., decorridos os 30 minutos após o fim do jogo, os vascaínos se proclamaram campeões e, para comemorar o título, pegaram com a torcida, na geral, uma caravela em miniatura, com a qual desfilaram tal fosse uma taça.

Ridículo!

Patético!

Surreal!

O imbróglio todo só foi resolvido nos tribunais e, ali, o razoável prevaleceu.

O Botafogo foi decretado campeão!

Aos vascaínos, como este escriba, só restou o sentimento de imensa vergonha que o vice-presidente de futebol do clube nos fez passar. 

“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 24

por Eduardo Lamas Ne

Em meio à festa após a execução do trecho inicial da ópera “Carmen” por causa do olé de Garrincha no argentino Vairo, adivinha quem aparece? Ele mesmo, Mané Garrincha.

Garrincha: – Ô, seu João, que lembrança boa. Muito obrigado.

João Sem Medo vai abraçar o Mané, levando Ceguinho Torcedor consigo. Sobrenatural de Almeida e Idiota da Objetividade também cumprimentam o grande ídolo. Zé Ary faz reverências ao Anjo Torto e todos o seguem na homenagem.

Garrincha (emocionado): – Obrigado, gente.

Garçom: – Vamos ouvir a continuação da história, que é maravilhosa.

João Sem Medo: – O Estádio Universitário quase veio abaixo com aquele espetáculo tão integrado entre o futebol e a música. O Vairo não foi até o fim do jogo, claro. O técnico do River, meu amigo Minella, o substituiu. O Vairo saiu de campo bem perto do nosso banco e estava sorrindo: “No hay nada que hacer. Imposible”. E ainda gozou com o reserva que ia entrar: “Buena suerte, muchacho. Pero antes, te aconsejo que escribas algo a tu mamá”.

Músico: – Hoje, ele falaria pro substituto mandar um zap pra mãe!

Todos riem muito. 

Garçom: – Bom, minha gente. Depois do gênio das Pernas Tortas, vamos trazer aqui no palco do Além da Imaginação um mestre do choro: Jacob do Bandolim!

Jacob do Bandolim vai com seu instrumento ao palco, cumprimenta antes os 4 amigos, Zé Ary, os músicos, a plateia, que o aplaude efusivamente, e acena pra Mané Garrincha.

Jacob do Bandolim: – Agradeço muito. Bom, não posso tocar outra música agora que não seja “A ginga do Mané”.

Garrincha: – Assim vocês vão me arrebentar de emoção.

Aplausos gerais para Jacob e Mané.

Ao fim da execução com maestria, novamente todos aplaudem muito, tanto Jacob, quanto Garrincha, que foi ao palco. Os dois se abraçam, e a ovação é total da plateia.

Ceguinho Torcedor: – Olé! A música e essa história são excelentes, João. Excelentes!

Garçom: – O México então criou o olé dentro de campo e a “ola”, fora, seu João?

João Sem Medo: – É verdade.

Idiota da Objetividade: – A “ola” surgiu para o mundo na Copa do Mundo de 1986 e é feita por torcedores de muitos países até hoje nos estádios em competições dos mais variados esportes. “Ola”, em espanhol, significa onda.

Ceguinho Torcedor: – É mesmo uma verdadeira onda que gira em torno do estádio… Eu não vejo, mas sinto toda a vibração.

Com a sugestão no ar, um grupo perto do palco começou a “ola”, que ficou rodando pelo Bar Além da Imaginação, com a participação de todos, até do Ceguinho Torcedor, por um bom tempo. 

Garçom: – Gente, vamos aproveitar a presença de Garrincha aqui pra mais uma homenagem musical. Ele merece muito, não é?

Todos concordam e aplaudem.

Garçom: – Então vamos chamar ao palco o grande José Messias pra cantar “Garrincha cha”, de Rutinaldo Silva.

Todos aplaudem José Messias

José Messias: – Muito obrigado. É um grande prazer estar aqui em meio a tantas feras do futebol pra cantar essa homenagem ao grande Mané Garrincha. Vamos lá!

Todos dançam e aplaudem, inclusive Garrincha.

SAUDADES DE UM FANÁTICO TORCEDOR

por Zé Roberto Padilha

Se por um lado o futebol me proporcionou uma desafiadora e encantadora profissão, por outro, ao viver a realidade de ser dirigido por cartolas, despreparados e amadores, oriundos do quadro social, não da Fundação Getúlio Vargas, vi escorregar aos poucos, pelos dedos que conduziam minha bandeira, a emoção passional, única e irrefletida de ser um fanático torcedor.

Ao deixar as arquibancadas e ocupar os vestiários, são as gestões que o dirigem, não mais os jogadores, que irão conduzir os rumos de sua idolatria.

Para cada Escurinho, Gilson Nunes, Lula que me encantavam em campo, surgiram nos gabinetes presidentes Arnaldos Santiagos que me desencantaram. Francisco Hortas que me trocaram quando mais reunia méritos e alcançava a titularidade para defendê-lo.

Acreditem, nada é mais sem graça depois de discutir, em bares e botequins, que se tornar um torcedor racional. Deixar de ficar nervoso com um corner contra sua meta e não saber de cabeça um só grito uníssono de guerra.

Deixar de pedir pênalti com a bola que você mesmo viu que bateu no peito do zagueiro adversário. E contestar depois as próprias imagens do VAR.

Pedir a saída do treinador, que perdeu o cargo porque seu atacante perdeu o gol. Pior, ir ao aeroporto receber nos braços o mesmo Cuca que na competição passada deixou o clube debaixo de seus protestos e vaias.

Nada é mais cruel que assistir o jogo ao lado de quem preservou valores que você deixou escapar. E preservou sua paixão. Mesmo sendo sua paixão. “Foi na bola. O Felipe Melo entrou na bola!”, ela protestou. E mesmo com o adversário saindo de maca, você precisa concordar.

Caso não queira dormir na sala. Ou na maca.

CINQUENTA ANOS ESTA NOITE

por Paulo-Roberto Andel

Parece outro dia, faz muito tempo e celebra uma data histórica: em 22 de agosto de 1973, há exatos 50 anos, Fluminense e Flamengo decidiam o Campeonato Carioca daquele ano.

Deu Fluminense com folga: debaixo de uma tempestade, mas jogando pelo empate, o Tricolor abriu 2 a 0, mas o Flamengo conseguiu empatar, para então o Flu liquidar a fatura com mais dois gols.

Há quem diga que boa parte da chuvarada que alagou o Maracanã se deveu a Manfrini, que literalmente fez chover: acabou com o jogo no talento e na raça. E como todo campeão começa com um grande goleiro, Félix defendeu tudo e mostrou mais uma vez porque foi campeão do mundo.

No primeiro tempo só deu Fluminense, mas a vantagem terminou em apenas dois gols. Num Fla x Flu, é pouco para garantir qualquer coisa. No segundo tempo, mexendo no time, o Fla conseguiu reagir e igualar o marcador, mas não havia a força para a virada e aí o Tricolor prevaleceu.

Alguns jogadores daquela noite acabaram vestindo a camisa adversária a seguir. No Flamengo, Renato, Rodrigues Neto e Paulo Cezar Lima viriam a integrar a Máquina Tricolor. No Fluminense, o lateral Toninho Baiano, autor do segundo gol tricolor, faria história na Gávea. E o artilheiro Dionísio, que fechou a goleada, tinha uma longa trajetória no time rubro-negro.

Fora do segundo turno e da decisão por contusão, Gerson finalmente conseguiu ser campeão pelo seu clube de coração. À beira do campo, pela primeira vez Zagallo perdia uma decisão.

Vindo de uma época espetacular no fim dos anos 1960, o Fluminense manteve a trajetória iniciada em 1969, também num título carioca sobre o grande rival da Gávea. Campeão brasileiro em 1970 e Carioca em 1971 – desta vez sobre o Botafogo -, o Flu 1973 é motivo de orgulho para todos os tricolores. Os garotos daquele tempo hoje são cinquentões e sessentões que carregam consigo as memórias de um Maracanã popular, divino e inesquecível. Não há entre eles quem deixe de falar “Naquela noite o Manfrini arrebentou, rapaz”. E para quem achava que a sequência tricolor esmoreceria, depois de um tímido 1974 viria simplesmente a equipe mais emblemática da história do clube, sob a batuta do Maestro Francisco Horta.

A chuva não importa: cinquenta anos depois, o Fla x Flu da final de 1973 ainda pega fogo. É uma brasa, mora?