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O PRECONCEITO É QUE ESTÁ NOS ENFORCANDO

16 / janeiro / 2020

por Zé Roberto Padilha


Quando um médico, aos 36 anos, entra na sala de cirurgia para operar um parente nosso, rola um certo desconforto: “Mas não é muito novo?”. Um prefeito que nesta idade é eleito, o que vai ter é gente falando que ainda está verde para dirigir a sua cidade. Mas quando Fred, aos 36 anos, é cogitado a voltar a defender o Fluminense, tem torcedor que anda resmungando: “Mas não está velho?”

Fred está é no auge da sabedoria. Da colocação entre os zagueiros, da precisão de um arremate à gol, de um cabecear preciso e calculado. O que fizeram com ele no Cruzeiro foi covardia: os alas que deveriam abastecê-lo pelo alto estavam esgotados, caso de Egídio e Edílson. Pelo lado, a preguiça tomou conta de Thiago Neves e o Henrique e o Robinho nunca mais foram para dentro da grande área buscar uma segunda bola. Nem Aguero, Firmino e Cristiano Ronaldo seriam decisivos sem especialistas exercendo ao lado o quesito assistência. E se a bola não chega, como empurrá-la para o fundo das redes?

Fred tem um fundamento raro, e decisivo, para os que vestem a camisa nove: o tempo da bola pelo alto. Este é o cálculo mais complicado para os que, só de escanteios contra e a favor, precisam alcançá-la à exaustão antes dos adversário. Ele deve ter trocado, na infância e adolescência, o balancinho e o escorregador pela forca.


Forca é um objeto (foto) em extinção nas divisões de base. Se trata de um poste de madeira com uma bola de futebol fixada no topo com uma corda. A altura é calculada pelo tamanho do jogador, mas o sarrafo vai subindo nas mãos do preparador físico à medida que o tempo é encontrado. Todo clube que revelou um grande cabeceador tinha um: Fluminense tinha o Flávio, o Flamengo o Dionísio, o Botafogo o Fischer e o Vasco Roberto Dinamite. E o maior de todos, que parava no ponto mais alto sobre a área, como um beija-flor, era Dadá Maravilha, do Atlético Mineiro.

Depois que a tecnologia de ponta, o Padrão Fifa, aposentou a forca nas divisões de base, nem o artilheiro maior do país, por dois anos consecutivos, o Gabigol, aprendeu a cabecear. Imaginem o resto.

Sendo assim, seja bem-vindo, Fred. E traga uma mostra da forca do América-MG, onde foi revelado, e leve-a até Xerém. Quem sabe aqueles meninos que detestam desmanchar seus penteados percam um tempinho aprendendo o sublime prazer de encontrá-la acima da zaga adversária e postá-la dentro do gol para que todo tricolor seja feliz outra vez?

Moral da história: não é o Fred que está velho. O preconceito com a expectativa de vida, cada vez mais alta dos nossos raros e últimos ídolos, é que está nos enforcando.

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