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G DE GENUÍNO, DE GÊNIO, DE GEOVANI

4 / março / 2025

por Marcos Vinicius Cabral

Quando Gérson, o Canhotinha de Ouro, tricampeão mundial em 1970 pela seleção brasileira declarou certa vez que “A medalhinha que o negão (Pelé) carregava no pescoço nos gramados mexicanos, ficava marcada em seu peito. E o responsável por aquela marca fui eu”, ninguém contestou.

Até que em 1980, um jogador pequeno em estatura, exímio cobrador de faltas e pênaltis, habilidoso e dono de uma visão privilegiada dentro das quatro linhas, surgiu.

Não no Rio de Janeiro, de Zico e Roberto de Dinamite. Não em São Paulo, de Pelé e Rivellino. Nem no Rio Grande do Sul, de Falcão e Renato Gaúcho e nas Minas Gerais, de Toninho Cerezo e Éder Aleixo. Muito menos em Niterói, onde Gérson deu os primeiros chutes em uma bola de futebol no valente Canto do Rio.

Mas foi em outro canto, mais precisamente no Espírito Santo, que Geovani Faria da Silva, aos 16 anos, tornaria-se ídolo do Tiva.

Troncudinho, o cabelo grande, as espinhas no rosto e o corpo preparado denunciavam que era ainda pequeno. Muito pequeno. Mas já ali, nos treinamentos, percebia-se um futebol grande. Ou melhor, GIGANTE!

Destaque da Desportiva Ferroviária, o talentoso meia conquistou os estaduais das categorias juvenil, júnior e profissional capixaba. As atuações, umas melhores do que as outras, enchiam os olhos dos torcedores e dirigentes do clube.

Surgia ali, ao alcance de todos, um lançador tão bom quanto Gérson, um exímio cobrador de falta e pênalti como Zico e Roberto e, genioso, como dois gênios não menos famosos e baixinhos como ele: Maradona e Romário.

A essa altura, com todo respeito a Desportiva Ferroviária, o modesto clube já era pequeno demais para o talento do menino. As chuteiras, surradas e desgastadas, transbordavam qualidades pelos campos ruins do Espírito Santo e ultrapassaram as arquibancadas do Estádio Engenheiro Alencar Araripe.

Geovani queria brincar, brincar de jogar bola como fazia Eli, que atuou e fez história no Rio Branco-AC e era o ídolo dele. Tanto que Beto Pret, treinador da Desportiva Ferroviária, dizia para ele na preleção antes das partidas: “Menino, não leve o futebol a sério. Divirta-se!”.

E foi o que ele fez de 1980 a 1982, quando a diversão começou a ganhar contornos de seriedade. Foi nessa época que o Vasco apostou no jovem de 18 anos e o trouxe para o Rio de Janeiro. A relação com o clube de coração começava a ficar intensa, tão intensa, mas tão intensa que o coração quase ‘saiu pela boca’ quando adentrou pelos portões imponentes e histórico de São Januário pela primeira vez.

E foi esse mesmo Vasco, repleto de grandes jogadores, que exigiu determinação e foco do jovem capixaba. A rivalidade com o Flamengo, que contava com jogadores excepcionais como Leandro, Junior e Zico, começava a aflorar a ponto de ter feito excelentes jogos com a Cruz de Malta no peito.

Que o digam o bicampeonato Carioca em cima do Flamengo e o vice-campeonato nas Olimpíadas de 88, em que mesmo perdendo a final para a URSS foi um dos destaques da seleção brasileira. Ou você que é fã de futebol vai esquecer aquele golaço contra a Argentina, que mostrou a visão de jogo e a genialidade do camisa 8.

Mas Geovani não viveu apenas o paraíso na carreira. A passagem pelo Bologna, da Itália, a não convocação para disputar uma Copa do Mundo – principalmente a de 90 – e times de menor expressão que jogou, mesmo assim, não ofuscaram o brilho de um craque que fez história.

Geovani bailava em campo, enquanto os demais jogadores corriam. Era bom ver aquele baixinho ocupando o círculo central com tamanha desenvoltura.

“Meu cansaço era mais psicológico do que físico”, confidenciou Zico certa vez.

Geovani era o jogador que costumava ficar com enxaqueca infernais após os jogos. Pensava o jogo. Era pensador. Era diferente.

O Sul-Americano pela seleção brasileira em 1983, em que foi eleito o melhor jogador da competição, era apenas o começo de uma carreira que tinha tudo para ir mais longe.

Recentemente Geovani enfrentou problemas de saúde. Um dos remédios foi a ovação que recebeu por meio da homenagem que recebeu no começo de fevereiro no Estádio Kleber Andrade em Cariacica.

“Ele é um patrimônio para todos nós. O famoso ‘Pequeno Príncipe’ que na minha infância tive oportunidade de chegar dos treinos e ver o profissional treinando ali, com Geovani no campo. E quando eu subo para o profissional ainda pego um pouquinho dele comigo lá. É um ídolo pra gente. Tá na história do Vasco, um dos maiores camisas 8 que nós tivemos”, comentou Pedrinho.

Sem dúvida, Pedrinho. O futebol agradece por tudo o que Geovani fez como jogador profissional.

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