por Rubens Lemos
Misturar racionalidade com ufanismo em futebol seria mais ou menos juntar russos e ucranianos, judeus e terroristas árabes em imenso parque de diversão, sentadinhos, ouvindo a história do Lobo Mau. Impossível. Pelo critério do bom senso, o melhor para a seleção brasileira será ficar fora da Copa do Mundo de 2026.
O time é lastimável e, até se ficar em sétimo lugar na repescagem, não irá favorito à disputa na degola. A seleção brasileira morreu. Pavorosos equilibrando as canelas sobre chuteiras fazem pior que o amadorismo. Nos tempos em que se jogava por malandragem e amor, havia quem soubesse tratar a bola. Hoje, ela pode dar queixa por feminicídio.
Fora de uma Copa do Mundo pela primeira vez terá para o Brasil o efeito de uma bomba atômica sobre o cipoal de corrupção em loterias clandestinas, eliminará o jogo copiado da Europa em costumeira adulação nacional. Desde que Pelé começou, o Brasil mandou. Desde que o Rei parou, todo mundo ficou nivelado.
O Brasil de hoje é o sexto melhor time da América do Sul e, a perder de goleada na primeira fase do mundial, venha Ancelotti, Guardiola ou fique o bovino Fernando Diniz, é melhor nem participar da festa e reconstruir a filosofia da arte como ponto inquestionável.
Nossas pernas de pau serão desvalorizadas, aposentadas e algumas, do naipe do abominável Emerson Royal, quem sabe, deportadas para a Faixa de Gaza.
O Brasil desmoronou. Diga, você que discorda, quem é nosso craque. Quem é? Neymar é ex-jogador, preocupado com os petrodólares das Arábias. Vini Júnior pensa que joga mais do que efetivamente joga. Rodrygo com a 10 é a mesma consequência de me vestirem com a nobre camisa.
Já que por analfabetismo solene não aceitam naturalizar para jogar pela CBF – já pensou Arrascaeta na meia? que se proíba a convocação de jogadores atuando no exterior. Nos três primeiros títulos mundiais do Brasil, quem atuava fora, fora permaneceu.
Agora feche os olhos, abra e vá lendo os titulares de 1958: Gilmar; Djalma Santos (só jogou a final e foi o melhor em campo); Bellini, Orlando e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo. Perderíamos, se Bellini, Didi e Zito não impusessem Pelé e Garrincha – sobrenaturais – entre os titulares.
Em 1962, machucado Pelé no segundo jogo, na decisão contra os checos jogaram Gilmar; Djalma Santos, Mauro, Zózimo (Orlando perdeu a vaga ao sair para o Boca Juniors) e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Amarildo e Zagallo.
Em 1970, ninguém no estrangeiro: Félix; Carlos Alberto Torres, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo e Gerson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivelino.
No fracasso de 1974, Zagallo simplesmente desconhecia a fabulosa Holanda que eliminou o Brasil(2×0), depois de equilibrado primeiro tempo. Começava a contaminação. Após a Copa da Alemanha, o zagueiro Luís Pereira e o meia-atacante Leivinha, do Palmeiras, foram vendidos ao Atlético de Madrid. Paulo César Caju sairia para a França, mesmo destino de Jairzinho.
O cara cheio da grana, de mulher a escolher com a colher, tem lá patriotismo, que, aliás, é dicionário de guerra? De jeito nenhum. Veio 1978, terceiro lugar invicto e os jogadores, sem exceção, atuavam no Brasil.
Em 1982, o timaço de Telê treinou dois anos com Cerezo, Zico, Sócrates com Paulo Isidoro pela direita para mudar na Copa. Claro, Falcão, Rei de Roma, teria de jogar. Saiu o menos famoso, Paulo Isidoro, quando a lógica impunha Cerezo para Isidoro ajudar Leandro a conter ofensivas adversárias.
Avacalhou. Venderam Zico, Sócrates, Cerezo, Júnior, e em 1986, apenas Júnior e Sócrates, dos titulares de 1982, atuaram no México. Em 1990 foi a palhaçada de Lazaroni. Romário deslumbrou o mundo em 1994. Ronaldo em 2002. A última seleção de foras de série atuou em 2006 apesar de tomar vareio na França.
Leia na coluna ou nos almanaques de todos os mundiais. Verás maravilhas. Olhe agora para a lateral-direita e tente não chutar o sofá com Emerson Royal de titular do Brasil. Saíram os baixinhos, habilidosos. Saiu o esporte fenomenal. Entrou Royal. Copa não, recomeço, sim.
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