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Eurico Miranda

17 / março / 2019

A ÚLTIMA BAFORADA

entrevista: Sergio Pugliese | texto: Rubens Lemos | fotos e vídeo: Daniel Planel 

Aos 10 anos incompletos, sofri bullying dos amigos flamenguistas. Era 1980, o Flamengo anunciava a contratação de Roberto Dinamite, meu ídolo no Vasco, para formar dupla com Zico.

Chorei lágrimas de desespero, imaginando os dois invadindo a área e partindo céleres ao gol. Um tal cartola Eurico Miranda soube da negociação, meteu a sua vascainagem na trama e Roberto voltou ao Vasco (estava no Barcelona da Espanha).


Vibrei por Roberto, passei a cultuar Eurico como símbolo de um clube que se libertava. Roberto fez os cinco gols na rentrée contra o Corinthians (5×2).

No final da década de 1970, início dos anos seguintes, o Flamengo ostentava o melhor time do Brasil e uma simpatia exagerada da arbitragem. Sempre surgia um pênalti aqui, uma anulação de outro do adversário, a expulsão de meio time rival (Atlético Mineiro foi vítima em 1980 no Brasileiro e 1981 na Libertadores) para incrementar as vitórias rubro-negras incontestáveis pelo toque de bola hipnótico de suas estrelas.

Eurico, inimigo do Presidente Antônio Soares Calçada, queria seu lugar, perdeu eleições e os dois uniram-se, com Eurico assumindo o futebol. O Vasco a contar com um guarda-costas sem pinta de Kevin Costner e os jogos passando a ser decididos apenas na bola. Eurico rugia, se transfigurava, partia com seu figurino de Capo sobre quem ousasse trapacear o Vasco.

Eurico gostava de comprar, Calçada, de vender. Eurico trouxe do Espírito Santo (ES), Geovani, ainda juvenil, para despontar como o grande meia da Colina em todos os tempos. Repatriou Geovani da Itália, tirou Bebeto e Romário do Flamengo.


Bancou Edmundo, mandou buscar Juninho Paulista, Ramonzinho, Denner, Luizão, Donizete, Evair, Mauro Galvão, Ricardo Rocha, Jorge Mendonça, Arthurzinho, Mário Português, Mauricinho, Cláudio Adão, Luis Carlos Winck, Paulo Roberto, Elói, Tita, Marcelinho Carioca, Pet, feras que nos garantiram a virtude do toque de bola e do amor-próprio.

Até 2000, o Vasco deve o incalculável a Eurico. Campeonatos Cariocas: 1982/87/88/92/93/94/98/03/15/16 (os dois últimos sem brilho nem craques), três Brasileiros: 1989/97/00, a Libertadores de 1998, o Rio-São Paulo de 1999, para deixar na conta os indiscutíveis.

Eurico Miranda, de guardião, transmutou-se com seu assombroso charuto em sinônimo de antipatia ao Vasco. De truculência, de desaforo substituindo argumento, de Valdiram, Valdir Papel, Jonilson, Gomes, Fábio Braz, Tadic, Ciro, Allan Delon e outra frota de caminhões de perebas laboratoriais. Vexatórias campanhas, eliminações ridículas, status de Olaria com Cruz de Malta na camisa.

Estava Eurico dedicado à politicagem mais tacanha, vencendo eleições sob suspeita de fraude, impondo nepotismo, tratando mal quem encontrava pela frente e reduzindo o Vasco à Série B. Desmanchou glórias em pó de fracasso.

A morte nem santifica nem crucifica o morto. A Eurico, o que é de Eurico. Vida que segue.
 

 

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