por Zé Roberto Padilha
Meu neto, Gabriel, faz aniversário. Completa 7 anos. Fui lhe visitar e perguntei se estava jogando bola. “Estou estudando, vovô!”
Por mais orgulhoso que ficasse pelo futuro brilhante que lhe aguarda, fiquei um pouco triste, confesso, por ver ali encerrado o ciclo de jogadores de futebol da família. Eduardo e Felipe, meus outros netos, tambem estudam mais do que jogam futebol.
Meu pai era de origem muito simples e jogava muito, segundo Osvaldo Canelas, a enciclopédia do nosso futebol. Ele escreveu, em suas memórias, que ele e o Fabinho, de Paraíba do Sul, foram os dois maiores craques de toda a nossa história.
Certa feita, meu pai fez aniversário e meu avô mandou escolher o presente. Diogenes Padilha era radiolegrafista e vivia modestamente. Meu pai disse que precisava de uma chuteira e de um sapato. Já namorava a minha mãe. A resposta foi: “Ou um ou outro!”
Tinha a missa no domingo de manhã e América X Entrerriense à tarde.E ele, por opção, foi com minha mãe na Igreja calçando chuteiras.
Toc, toc, toc…toda vez que ele contava essa história ficava pensando no vexame que provocava ao entrar na igreja. E o orgulho que dava a todos pisando mais tarde no gramado.
Meu primeiro bolo foi em formato de uma bola de futebol. O primeiro presente, uma bola de futebol. Não tinha televisão, Internet ou Playstation. Era pelada o dia inteiro e ia ao Colégio Entre-Rios cumprir tabela. Não poderia ter seguido outro caminho.
O que recebia de bolas, minha filha o abastece com livros.
Estou indo comprar o presente do Gabriel. Pela história, deveria ir ao Planeta Gol dar sequencia à saga dos Padilhas. Mas vou na Mr Cat. buscar seu sapato.
Não vai ter mais toc.toc.toc… a marcar os novos passos da família. Sao a bola, entram os livros. Que a sabedoria o leve a ser tão feliz na universidade quanto eu fui no Maracanã.
Caro Padilha ótimo texto, mas talvez algum bisneto seu, poderá um dia jogar na seleção brasileira.