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E SE…

6 / julho / 2020

por Paulo Roberto Melo


Por esses dias, ao ver as novidades em uma rede social, apareceu uma página vascaína com a foto do jogador Diego Souza. A legenda da foto era curiosa: “Este cara nos deve uma Libertadores!” Claro, de imediato entendi que a cobrança se devia ao gol que o Diego deixou de fazer no Corínthians, em 2012, no Pacaembu, no jogo que definiria qual time brasileiro seguiria na competição. Apesar do capricho de Diego Souza em deslocar o Cássio, quando estavam frente a frente, o goleiro se esticou todo e conseguiu com as pontas dos dedos desviar a bola para escanteio.

Quando vi essa postagem, pensei: “E se o Diego Souza tivesse tocado por cima do Cássio, à la Romário e feito o gol? O Vasco teria vencido e se classificado? Ganharia a Libertadores daquele ano?”. Esses pensamentos só são possíveis porque o futebol, assim como a vida, convive com o imprevisível. Convive com o “E se…”

Lembro de escutar o meu pai falar que em 1950 o capitão da seleção uruguaia, Obdulio Varela, em um lance da terrível final no Maracanã, cuspiu na cara do lateral esquerdo brasileiro Bigode (fato que mais tarde o próprio Bigode desmentiu em uma entrevista, embora muitos digam que realmente aconteceu.). Pois bem, meu pai dizia que se o Bigode, depois da cusparada, tivesse metido a mão na cara do Obdulio, os dois seriam expulsos e o capitão uruguaio não teria sido tão determinante para a virada do Uruguai.

Vamos aventar que esse fato tenha sido verdadeiro. E se o Bigode tivesse dado uma bolacha no Obdulio Varela? Os dois seriam expulsos? O Brasil teria sido campeão do mundo? Hoje seríamos hexa e não penta?


Brasil e França, quartas de final da Copa de 1986, no México. Segundo tempo, jogo duro, empatado em 1×1. Telê Santana coloca o Zico em campo. O craque rubro negro, depois de uma cirurgia delicada no joelho direito, por conta de uma entrada criminosa em um Flamengo e Bangu, no ano anterior, não tinha condicões de jogar um jogo inteiro. Mesmo lesionado, foi levado para a Copa e entrava no segundo tempo.

Assim que entrou contra a França, a primeira bola que o Zico pegou, deu um passe magistral para o lateral Branco, que na cara do gol foi derrubado pelo goleiro francês. Pênalti! O Sócrates poderia ter batido, afinal já havia marcado um gol de pênalti naquela Copa. O Careca poderia ter batido. O artilheiro vinha fazendo uma Copa sensacional até aquele momento e havia feito o primeiro gol do Brasil. Muitos poderiam ter batido, mas coube ao Zico, frio ainda e lesionado, a responsabilidade. Como sabemos, o Galinho bateu, o goleiro francês defendeu, o jogo foi para a disputa de pênaltis e o Brasil foi eliminado.

E se outro jogador tivesse batido o pênalti? Teria convertido? E se tivesse convertido, o Brasil teria vencido o jogo? Teria sido campeão? Hoje seríamos hepta e não penta?


Em 1977, o Corínthians amargava um jejum de 23 anos sem títulos de campeão paulista. Disputando a final com a Ponte Preta, o Timão não teve vida fácil. Ganhou o primeiro jogo por 1×0, mas perdeu o segundo por 2×1, forçando a realização de um terceiro jogo. A Macaca tinha um timaço naquele ano! Carlos, Oscar, Polozzi, Dicá e Rui Rei. Logo no começo do terceiro jogo, aos 16 minutos, o Rui Rei discute com o árbitro Dulcídio Wanderley Boschilia e acaba expulso. Ficou difícil para o time de Campinas segurar o Corínthians, que também tinha um bom time, com Ruço, Palhinha, Vaguinho e Basílio. No segundo tempo, coube a Basílio dar a vitória ao time do Parque São Jorge e por fim ao longo jejum.

E se Rui Rei não tivesse sido expulso? O jogo terminaria empatado sem gols, forçando uma prorrogação? Ao fim dessa prorrogação, o Corínthians seria, afinal, campeão? Ou a Ponte Preta enfim conquistaria seu primeiro título?

Creio que o jogo Brasil e Itália na Copa da Espanha, em 1982, tenha sido o campeão do “E se…”. E se o Batista não tivesse sido machucado pelo Maradona, no jogo anterior contra a Argentina, o Telê o teria colocado em campo para segurar o empate? E se o Cerezo não tivesse dado a bola nos pés do Paolo Rossi no segundo gol da Itália? E se o Júnior não estivesse parado junto à trave no lance do terceiro gol italiano, dando condições ao terrível Paolo Rossi? E se o Serginho não tivesse atrapalhado o Zico em uma jogada em que o Galo estava na cara do gol?

Como conviver com o “E se…”? Como debater sobre coisas que, por um motivo ou por outro, não aconteceram? Igual a todo mundo, eu tenho os meus “E se…” –  como torcedor ( E se o Felipe tivesse chutado um pouquinho mais pra esquerda aquela bola que passou rente a trave, na final do Mundial de 98, contra o Real Madrid?) e também como pessoa. Você certamente tem os seus.

Não nos foi dado o poder de voltar no tempo. Temos sim o poder de aproveitar o momento e fazer da nossa vida o melhor que pudermos. E valer-se dos não acontecimentos do futebol, para que as resenhas sejam sempre animadas. Afinal, pense bem: e se… não houvesse futebol?

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