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E AGORA, QUEM NOS SALVA?

6 / novembro / 2020

por Wendell Pivetta


A Inglaterra, mãe do futebol brasileiro, que mandou por um navio Tomas Miller, com uma bola em sua bagagem, desembarcar em São Paulo, vive dias de caos fora dos gramados. Inquieta é a situação, acredito estar assim pelo impacto da morte de um jovem de 17 anos, devendo causar uma consciência maior nos segmentos esportivos da terra da rainha e pelo mundo todo.

A Premier League, uma das ligas exemplares no combate ao racismo, se posicionou de forma veemente em apoio à campanha Black Lives Matter há alguns meses atrás, contando com a frente de Richard Matters, CEO da Premier League, comentando sobre o ato de atletas em campo estarem unidos contra o racismo no mundo: “Eu acredito que é bom que os jogadores usem suas vozes para fazer o que eu acho que são julgamentos éticos de valor, e não declarações políticas. São mensagens unificadoras, e nós (a Premier League) os apoiamos e os clubes também”.

A liga inglesa na luta contra o racismo vem desde 1990 nesta batalha, temporada após temporada, tentando coibir ações dentro da sua competição rica de culturas através de seus jogadores, de diversos cantos do mundo. Porém, como apontado pela Kick In Out, em levantamento realizado em julho do ano passado, houve aumento de 43% nos casos de racismo, em comparação com a temporada 2017/2018. Esse contexto, portanto, reitera a necessidade de seguir na busca por conscientizar e punir corretamente quem realiza esse tipo de crime.

Nesse sentido, mais recentemente, alguns casos tornaram-se emblemáticos, como por exemplo, envolvendo Raheem Sterling, estrela da seleção inglesa e do Manchester City. Em partida contra o Bournemouth, o inglês foi alvo de insultos racistas por parte do torcedor Ian Baldry. Após julgamento, ele foi condenado a cinco anos sem poder frequentar estádios no país, além de receber um banimento vitalício por parte do Manchester City.

Se tratando de Manchester City, o assunto do momento pode ser ainda mais preocupante. O zagueiro Jeremy Wisten, de 17 anos, se suicidou em um fim de semana após entrar em depressão pela demissão do clube. Esta situação agravou a uma pesquisa mostrando que menos de 1% das crianças que ingressam nos clubes ingleses, aos 9 anos, chegam aos times principais. Mais de 3/4 são descartadas entre as idades de 13 e 16 anos. Quase 98% dos meninos que recebem seu 1º contrato aos 16 anos não permanecem em nenhuma das 5 primeiras divisões.

Oito em cada 400 jogadores de futebol, que assinam um contrato profissional com uma equipe da Premier League aos 18 anos, permanecem quando completam 22 anos. No total, apenas 180 crianças dos mais de 1 milhão e meio que jogam futebol federado na Inglaterra chegam à Premier League: a taxa de sucesso é de 0,012% ( Fonte iG)

A Premier League é um dos poucos campeonatos que têm uma liga especial para os jogadores mais jovens. Assim como é na profissional, a Liga Juvenil é extremamente organizada e conta com duas divisões com o mesmo sistema das competições oficiais da FA. Mesmo assim, não consegue concretizar um futuro maior para seus jovens atletas, cada vez mais iludidos com seu sonho.

Além do fato deste mercado inteiramente escasso para quem busca oportunidades no profissionalismo, temos o agravante da COVID-19. A pandemia é causadora de depressão entre homens e mulheres que vivem de jogar futebol, e os motivos apontados pela Federação Internacional de Jogadores Profissionais (FIFPro) são o isolamento social. A entidade publicou em seu site oficial o resultado de uma pesquisa, realizada entre 22 de março a 14 de abril, com 1602 atletas em confinamento na Inglaterra, França, Austrália e Estados Unidos.

Dentro do universo pesquisado, foram ouvidas 468 jogadoras de futebol, das quais 22% responderam que apresentam sintomas de depressão. Entre os homens, 13% admitiram manifestações da doença. O transtorno de ansiedade generalizada foi apontado por 18% dos jogadores e 16% das jogadoras. Mesmo sem dados levantados, no Brasil tivemos casos de depressão não elencados, e estamos sofrendo ainda, devido a fraca valorização do futebol do interior. Por mais profissional que seja, os clubes contam com pouco investimento, e perderam inúmeros patrocinadores, deixando de participar de competições como, por exemplo, da Copinha, competição que dá o sonho do clube campeão ter acesso a série D do Brasileirão ou a Copa do Brasil, restando a outra vaga para o vice-campeão. Neste ano, no Rio Grande do Sul, a Copinha terá apenas 8 equipes participantes, competição que ano após ano sempre contava com 20 equipes participantes de todo o estado.

Um dos agravantes de depressão nacional esportiva é o número de desemprego dos atletas. No Rio de Janeiro tem em um levantamento feito pelos 12 clubes de menor expressão que disputam a Série A do Campeonato Carioca, apresentado à Federação de Futebol do Rio, que 250 jogadores estão desempregados desde o mês de abril, quando a maioria dos contratos se encerrou. O cálculo é que mil pessoas das respectivas famílias destes atletas estejam sofrendo com a paralisação dos jogos e a consequente ausência de receitas oriundas das partidas. A previsão é que ao longo do ano, o número chegue a 350 jogadores sem emprego e 1.400 parentes impactados.

Além dos direitos de televisão, os clubes também não receberam boa parte de seus patrocínios. Estes números podem ser equiparados ao país inteiro, beirando cada vez mais perto de um precipício mortal. Tendo em vista a falta de apoio a cultura e desporto neste momento tão difícil, tem se tornado natural a morte de clubes, encerrando ali, o sonho de milhares de jovens chegarem um dia, a trilhar sua jornada no futebol mundial.

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