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BASTIDORES DA BOLA

5 / junho / 2023

por Elso Venâncio, o repórter Elso

Eurico Miranda dizia que ‘jogo à vera’ tinha Léo Feldman no apito. Por não fazer média com os dirigentes, ele nunca se tornou árbitro FIFA.

Para ser sincero, a imprensa não divulga nem dez por cento do que acontece nos bastidores. No vestiário, por exemplo, principalmente durante o intervalo e após os jogos, surgem duras discussões e até brigas ou agressões entre jogadores, técnicos, dirigentes.

Romário, quando era o número 1 do mundo, esculhambava os companheiros:

“Eu encho o Maracanã. Vocês não jogam porra nenhuma.”

Ao ouvir isso, o zagueiro Jorge Luiz explodiu. Partiu com tudo para cima do atacante. Joel Santana não conseguia calar o artilheiro. O técnico Evaristo de Macedo assumiu o comando do time rubro-negro e enquadrou o ‘Baixinho’:

“Aqui, só eu falo. E joguei muito mais do que você.”

As reuniões que definem a arbitragem para jogos decisivos são quentes. Ao longo de décadas, Eurico Miranda foi o mandachuva, fora de campo. As decisões do futebol carioca e brasileiro passavam por seu gabinete, em São Januário, aquele com vista para o gramado. Na parede, uma foto do dirigente o apresentava recebendo um troféu do ‘Velho Guerreiro’, o vascaíno Chacrinha, com direito à sua famosa buzina na mão.

O cartola cruz-maltino fazia as tabelas e o regulamento das competições, sem que ninguém o contestasse. Com seu inseparável charuto, Eurico possuía vários aliados e era temido não apenas pelos adversários como até pelos presidentes da CBF. Para se ter ideia, o Vasco recebia o mesmo valor que o Flamengo, nas cotas de TV.

Imagine o cartola hoje, nos encontros com a Libra e com o Futebol Forte…. Com o aval do Governo e da Justiça, Flamengo e Fluminense há quatro anos gerem o Maracanã. Você acha que Eurico Miranda aceitaria essa situação?

Durante um arbitral na FFERJ – a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro –, como a porta estava entreaberta ouvi os gritos de Eurico na semana de um Flamengo x Vasco. Por sinal, jogo em que o sérvio Petkovic faria o gol do tricampeonato estadual, em 2001, cobrando aquela falta histórica no gol à esquerda da Tribuna de Honra, ao lado da massa rubro-negra. O presidente Edmundo Santos Silva era o representante do Flamengo. E teve que ouvir Eurico decretar:

“Jogo à vera é com o Léo.”

Não satisfeito, o homem forte do Vasco repetiu:

“Jogo à vera é com Léo.”

O árbitro sempre foi, é e seguirá sendo o personagem mais marcado nos estádios. Todos são atacados o tempo todo, desde a entrada até saírem de campo:

“Ei, juiz, vai tomar no c…”

O Léo a que Eurico se referia era justamente Léo Feldman, que faleceu na última quinta-feira, dia 1º de junho, aos 67 anos, em decorrência de um persistente tumor na garganta. Professor de Educação Física no CEFET, a escola técnica federal que fica próxima ao Maracanã, Feldman era bastante respeitado. Até por sempre manter distanciamento dos dirigentes.

O grande Armando Marques, destaque da arbitragem brasileira, trabalhou em duas Copas do Mundo: as de 1966, na Inglaterra, e a de 1974, na Alemanha. Também conduziu diversas decisões estaduais e nacionais. Cometeu erros, como qualquer ser humano comete, como o inacreditável gol do tricolor Wilton, que usou a mão para marcar no Fla-Flu de 1968, válido pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Meia década depois, equivocou-se na contagem dos pênaltis da decisão do Paulistão de 1973, fazendo com que Santos e Portuguesa dividissem o título. Léo Feldman, que apitou a decisão do gol de barriga de Renato Gaúcho, em 1995, podia errar. Nesse lance, cravou na súmula que o gol foi marcado por Ailton.

A verdade é que quando o aspirante à FIFA Léo Feldman estava em campo, não tinha conversa fiada com ele, não. O jogo sempre era à vera!

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1 Comentário

  1. Luiz Seman

    Armando Marques: validou gol de mão do Wilton em 1968; anulou gol de cabeça do Leivinha em 1971; errou nos pênaltis em 1973; anulou gol do Zé Carlos do Cruzeiro em 1974. Todos em decisões. Foi um árbitro famoso, mas não um grande árbitro. Ruindade ou maldade?

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