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ARTISTA DA BOLA

30 / maio / 2016

texto: André Mendonça | vídeo: Scarlett Palhano

Futebolista, artista da bola na tela, com imenso repertório de cores, dribles de texturas e lançamentos em profundidades, como ele mesmo se define, Al McAllister deu uma imensa contribuição para o Museu da Pelada!! Um gol de placa!!

Autor de pinturas magníficas de Pelé, Ronaldinho Gaúcho, Falcão entre outros fenômenos da bola, o craque do pincel, apaixonado por desenhos desde criança, revelou ter uma proposta de exposição de 12 pinturas de grande porte, celebrando o clássico Grenal, com retratos de grandes jogadores da dupla. O Grêmio, aliás, tem sido motivo de alegria para Al, pois assumiu a liderança isolada do Campeonato Brasileiro após vencer o Coritiba por 2 a 0.


O artista posa com as pinturas de Pelé e Maradona

Com experiência internacional e muita história bacana para contar, o artista foi vizinho dos craques Beckenbauer e Carlos Alberto Torres, em Nova York, fez trabalhos para o Pelé quando o rei atuava pelo Cosmos e teve a oportunidade de comprar um dos seus primeiros pares de chuteira com ninguém menos que Nilton Santos, na loja que o monstro da lateral-esquerda administrava na Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo. Confira a resenha imperdível desse grande artista com a equipe do Museu da Pelada!

Como surgiu sua paixão pela arte?

Desenho de tudo desde criança e tenho ótimas lembranças dessa fase da vida, em Porto Alegre. Meu melhor amigo era meu vizinho e tinha um irmão mais velho que desenhava e pintava com muita facilidade. De certa forma, foi meu primeiro mentor pelo exemplo e talento. Nunca me vi fazendo outra coisa a não ser desenhar e pintar.

Qual é sua relação com futebol? Jogou muita pelada na infância?

Jogava bola na infância, mas não era prioridade. Meu interesse por jogar futebol mesmo despertou aos 16 anos, em 1970, com a vitória do Brasil na Copa do Mexico. Já estava morando nos EUA, mas quando vim ao Brasil com minha mãe e irmãos para rever a nossa família, mergulhei fundo durante três meses de férias aqui.

Lembro de ter comprado um chuteira na loja de material esportivo que o Nílton Santos tinha na Voluntários da Pátria em Botafogo, com o próprio Nílton Santos!


Atualmente na China, Renato Augusto é um dos seus trabalhos mais recentes

Como é sua relação com o Grêmio? Costumava frequentar os jogos?

Meu tio avô era sócio no Grêmio e foi responsável por doutrinar meu pai, americano residindo já alguns anos no Sul do Brasil, a ser gremista. Eu me tornei gremista de carteirinha por tabela na sequência de anos lá, indo ao estádio e conhecendo jogadores da época.

Meu pai tinha carteira de jornalista fotógrafo semiprofissional e sempre frequentava os jogos do Grêmio fotografando os lances agachado na linha de fundo junto com outros fotógrafos. Um domingo, chegou em casa carregado por amigos, pois tinha levado uma bolada na coxa e não conseguia andar sem ser amparado. Foi “carimbado”, dava para ver claramente uma mancha roxa provocada pela bola e a logomarca “Drible” invertida.

A família toda é composta de gremistas e colorados, e sempre havia a rivalidade entre meus tios e primos, mas era muito divertido torcer nos jogos. No final das contas o chimarrão e o churrasco sempre apaziguavam os ânimos.


O craque Edmundo posa ao lado da arte feita por Al McAllister

Você perdeu um pouco do seu encanto por futebol? Houve algum motivo específico para isso acontecer?

Não perdi o encanto, longe disso. Sempre fui de dar apoio ao time do Grêmio, até hoje torço. Mas fanático mesmo eu era pelo futebol quando fazia faculdade em Nova York. Jogava no time da escola contra outras universidades em torneios pelo estado de Nova York e New Jersey. Mas lembro que os jogos eram bastante violentos. Eu, pelo menos, apanhava muito na ponta, cheguei a jogar um ano raspando as pernas para usar bota de esparadrapo para proteger e firmar os tornozelos. Havia torneios internos de futebol de salão no inverno, o que era muito legal. A faculdade tinha estudantes de todos os países, então convivia com gente da Jamaica, Trinidad-Tobago, Itália, Colombia, Grécia e, claro, americanos. Todos amantes do futebol, aprendi muito com eles, a linguagem solidária do futebol.

Não perdi o encanto pelo futebol. Como fiz trabalhos para o João Henrique Areias em marketing de imagem e projetos do jogador Sávio – na época jogando na Europa, me aprofundei mais ainda no interesse pelo assunto. O João depois me assessorou, junto com a esposa como minha marchand, em fazer exposições de pinturas no Rio de Janeiro, inclusive no Maracanã. Através do João, conheci outro grande profissional de marketing e administração no futebol, o Luiz Léo, desenvolvendo mais projetos com o amigo designer George Milek.

Mesmo nos Estados Unidos você tinha o costume de acompanhar o noticiário de esportes do Brasil?


O desenho de Ronaldo quando atuava no futebol italiano

Todo sábado eu pegava o metrô, saindo de Brooklyn até Manhattan para comprar a revista Placar no restaurante “Cabana Carioca”. Era quando chegavam as revistas e jornais do Brasil no voo da manhã. A maior tristeza era quando o avião atrasava, ou não tinha a remessa, e eu fazia a viagem de volta para o Brooklyn de mãos vazias.

Mas quando tinha a revista eu a devorava, lia tudo, copiava as fotos. Tenho algumas páginas nos meus cadernos de desenho daquela época com essas imagens de jogadores. Era meu treinamento para melhorar o traço e conhecimento do corpo humano em movimento. O Jairzinho, Furacão da Copa, era o exemplo perfeito de proporção e musculatura. A revista sempre tinha uma página inteira com foto de algum time. Eu destacava essa foto e colava na parede da sala do apartamento… acabei cobrindo a parede com essas fotos.

Qual é sua opinião em relação à situação atual do futebol brasileiro?

Está explícito que o Brasil ainda caminha para trás em termos de gestão e organização de clubes, campeonatos, eventos esportivos em geral. Falta vontade. Está claro que pessoas com competência e currículo no esporte não têm acesso a cargos e posições de comando, onde uma real mudança pode ser iniciada. Ex-jogadores como Leonardo, com experiência e cursos em gestão na Europa, foram boicotados pelas “panelas” de entidades que comandam o futebol no Brasil. O saudoso Sócrates sintetizou bem o problema: o Brasil em vez de exportar sua arte, exporta seus artistas. E isso vale para outros ramos de talentos brasileiros. 

Desde que conheci o site Museu da Pelada me encantou a proposta de vocês. Nosso país não valoriza sua história no futebol, não honra seus craques de bola, quem fez do futebol brasileiro tão apreciado mundo afora. Nos anos 90, na minha pesquisa por imagens como referência para compor minhas pinturas de futebolistas antigos, me deparei com registros históricos precários, mal catalogados.

Para uma pintura retratando o Garrincha, eu cheguei a ir ao acervo de um antigo jornal carioca e comprei a foto que precisava para uma pintura que tinha em mente. Naquela época eu também utilizava fotogramas tirados de vídeos sobre futebol. A primeira vez que vi imagens da seleção brasileira da Copa de 1958, com qualidade decente, foi em um documentáro inglês.

Assim vejo a iniciativa do Museu da Pelada como muito positiva, humana e de respeito. Dá gosto acessar o site e ler os artigos, ver as imagens e assistir os vídeos com as entrevistas de gente ligada ao futebol. Gente do bem.


O desenho magnífico do maior jogador da história

Você chegou a fazer alguns trabalhos para o Pelé quando ele atuava pelo Cosmos! Qual era a sua relação com ele?

O Pelé tinha escritório no prédio da Warner, onde eu tinha clientes que usavam meus trabalhos, no final dos anos 70, e a equipe dele me procurou para fazer uma ilustração como logomarca. O curioso é que, alguns anos antes, ele havia passado em Cleveland, no estado de Ohio, onde mora minha mãe, para um evento promocional. Vários brasileiros foram vê-lo, era aquela novidade do Cosmos de Nova York, e minha mãe me pediu um desenho para dar de presente a ele. Fiz dois, o segundo para ele autografar para mim. Quando cheguei à recepção do escritório dele, vi o desenho emoldurado e pendurado atrás da recepcionista. Foi muito legal!

O Pelé foi muito simpático, conversamos bastante, e fiz uma pequena pintura em acrílica sobre tela seguindo o que ele me pediu.

Em 1983, eu deixei Nova York e vim morar no Rio de Janeiro, mais uma vez cruzei caminho com o Pelé através de um amigo que fabricava os cosméticos da Xuxa. O Pelé e ela estavam juntos na época. Eu e George Milek éramos os responsáveis pelo design das embalagens de toda linha da Xuxa, do shampoo, sabonetes, etc., e fomos convocados para várias reuniões de pesquisa com o Pelé e seus assessores, para ver da possibilidade de lançar uma linha de produtos com a marca dele. 


A pintura de Ronaldinho Gaúcho estará na exposição de Al celebrando o Grenal

Como foi essa experiência de ter sido vizinho do craque Beckenbauer?

Fui vizinho do Beckenbauer por acaso. Eu residia na rua 55, entre a Broadway e Sexta Avenida, e ele foi colocado pelo Cosmos para morar em um prédio centenário enorme que tinha acabado de ser reformado, na esquina da Sexta Avenida. Então, seguidamente passávamos um pelo outro na rua, sempre o cumprimentava. O Carlos Alberto Torres também frequentava aquela região.

Em vários jogos do Cosmos sentei nas arquibancadas atrás do gol e era impressionante a visão de jogo do Kaiser, a facilidade de distribuir bolas longas, todas de trivela. Parecia não fazer esforço. Foi um privilégio ver Pelé, Beckenbauer e Carlos Alberto jogando juntos. Hoje tenho a mesma sensação ao ver o Messi, Neymar e Suarez. É a mais pura arte do futebol.

Você tem um ateliê em Niterói? Quais trabalhos têm feito atualmente? Algum relacionado a futebol?

Moro em Niterói já há alguns anos, tenho meu ateliê em casa mesmo. Tenho um novo projeto em andamento voltado para o futebol, mas como está na incubadora não tenho como revelar o que é.

Tenho uma proposta de uma exposição de 12 pinturas de grande porte celebrando o Grenal, com retratos de grandes jogadores dos times. Mas ainda sem data e local definidos, tenho minhas marchands buscando patrocínio para viabilizar.

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