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A BOLA TROCADA PELA BÍBLIA

22 / março / 2019

por Marcos Vinicius Cabral


O automóvel é, sem sombra de dúvidas, uma das maiores invenções do século XIX.

Isso se dá em 1769, com a criação do motor a vapor em que automóveis são capazes de transportar humanos.

Mas depois de 117 anos, especificamente em 1886, é considerado o ano de nascimento do automóvel moderno – com o Benz Patent-Motorwagen, inventado pelo alemão Karl Benz.

Mas o que seria dos automóveis sem um motor?

E o que seria de cada equipe de futebol, seja ela amadora ou profissional, sem um “motorzinho”?

Aquele jogador que acelera na hora de atacar ou pisa no freio para se defender.

Eis que surge em 26 de setembro de 1988, na Casa de Saúde Vila Paraíso, em São Gonçalo, Thiago Leite Silva, esse jogador.

Filho caçula de seu Luís Carlos Vitalino Silva – um clássico camisa 8 que dava gosto ver jogar – e de dona Rosemeri Leite, o garoto desde cedo conviveu com o futebol.

– Minha paixão pelo futebol se dá por causa do meu pai que me levava para assistí-lo no Águia Negra, no Campeonato Comunitário do Gradim – recorda.


Apesar dos seis anos de idade, Leitinho – assim os mais chegados o chamavam – mostrava desenvoltura com a bola e uma habilidade muito parecida com a de seu Luís em seus tempos áureos nos campos gonçalenses.

Em seu DNA (composto orgânico cujas moléculas contêm as genéticas que coordenam o desenvolvimento e funcionamento de todos os seres vivos), continha vitalidade, habilidade e um desejo de ser alguém no futebol, distribuídos em 1,68m de altura.

Em 1999, aos onze anos de idade, levado por seu pai, ingressou no pré-mirim do CFZ (Centro de Futebol Zico) e conviveu com Adílio, Jayme, Andrade e Zico, extraindo o melhor de cada um nessa experiência enriquecedora.

– Foi uma pena não poder continuar por causa da situação financeira do meu pai – diz dos dois anos em que foi treinado pelos professores Gaúcho e Lima.

Se dentro de campo era um jogador encapetado, fora dele era um garoto que costumava ir à igreja com dona Isidora, sua avó paterna.

Nessa mesma época, dava seus primeiros passos na fé e aceitava Jesus como seu Único e Verdadeiro Salvador.

– Eu buscava ajuda no Senhor para restaurar o casamento dos meus pais e mesmo com 13 anos subia aos montes para orar pela vida conjugal deles – revela sem nenhum arrependimento.

Um ano depois, em 2002, chegava ao Combinado Cinco de Julho, no Barreto em Niterói, para treinar na escolinha comandada por Jeremias (ex-atacante do América/RJ, Fluminense, Vitória de Guimarães/POR e Espanyol/POR), que se encantou com o moleque.

– Apesar de baixinho era muito bom jogador. Muito pegador no meio, marcava e criava com a mesma eficiência – diz o eterno ídolo do Mecão, aos 70 anos.

Jogador de extrema polivalência, era utilizado sempre na categoria infantil – de 14 a 15 anos – por causa da idade e às vezes na infanto-juvenil – de 15 a 16 anos – por causa da bola que jogava.


Certa vez, enfrentou o América/RJ, no Clube de Campo do Luso-Brasileiro em Campo Grande e só faltou fazer chover.

– Estava voando. O professor Jeremias me colocou nos dois jogos e arrebentei nesse dia. Perdemos por 2 a 1 no infanto e metemos 3 a 1 no infanto-juvenil – relembra.

Convidado para treinar no tradicional clube de Campos Sales, ficou quase um ano.

A distância e a falta de recursos, acabariam desligando o “motorzinho” da camisa 8 de seu sonho.

Em 1994, tentava a sorte no Club de Regatas Vasco da Gama e no campo anexo de terra batida que fica atrás das arquibancadas, treinou tão bem que seria inimaginável não se tornar atleta do clube cruzmaltino.

– Vendo os treinos, os outros pais me diziam que era certo o baixinho ficar – diz seu Luís sobre o filho.

Passar na exigente peneira não seria problema para o jogador que era, porém, nos quatro meses que treinou em São Januário, ele e seu Luís conviveriam com o submundo dos empresários (o famoso apadrinhamento), fora das quatro linhas.

– Foi decepcionante para mim saber disso. Não ser aproveitado por não ter um empresário – lamenta.

Acabaria dispensado.


No entanto, aos dezesseis anos, e mesmo machucado por dentro, ia se acostumando com as feridas causadas pela bola.

E a história se repetiria bem longe de São Gonçalo, desta vez em Xerém, quando treinou no Fluminense Football Club.

Com uma carta de apresentação nas mãos calejadas de seu pai, se apresentou no tricolor.

A carta em si não que garantira aprovação mas estendeu dos três treinos habituais para oito.

Mais uma vez treinaria bem mas faltou o famoso (padrinho) empresário.

Numa última tentativa, com dezessete anos, disputou a Copa Light pelo União Central Futebol Clube, da terceira divisão do Rio de Janeiro.

Depois de muito esforço, conseguiu a federação pelo modesto clube da Penha, Zona Norte da cidade, mas resolveu deixar o sonho de lado em nome da fé.

– Achei melhor ir jogar no Ases de Ouro do Gradim, trabalhar como mecânico e me dedicar à obra de Deus – confidencia.


Atualmente é casado com Vanessa desde 2013, pai da pequena Débora e trabalha com seu Luís na oficina Pai e Filho, no Porto Velho em São Gonçalo.

– Thiago é muito especial na minha vida. Quando mais precisei ele me ajudou com uma palavra edificante – revela o amigo Davison Marques de 21 anos.

E completa:

– Além do coração enorme que tem é um cara que não gosta de perder, seja nos jogos de futebol ou nas adversidades da vida cristã.

Hoje, prestes a completar 31 anos, jogar aos domingos no Grêmio Recreativo e Esportivo Barabá no Porto Velho e ir aos cultos da Igreja Evangélica Semeando no Gradim, são os curativos para sua alma.

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