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Mendonça

MENDONÇA, A ESTRELA SOLITÁRIA

por Luis Filipe Chateaubriand 


No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, o meia atacante Mendonça, que morreu ontem, era o único jogador de qualidade técnica elevada do Botafogo carioca e, por isso mesmo, o único ídolo da torcida alvinegra. 

Uma das características de seu excelente futebol era o chute preciso. Finalizava com as duas pernas com precisão, a curta ou a longa distância. 

Outra característica de seu excelente futebol eram os passes e lançamentos, precisos tanto a perto como a longe. 

Mais uma característica do craque eram os dribles, audazes, maliciosos, insinuantes!

A fera também correspondia nos cabeceios, precisos, angulares, certeiros. 

E o monstro ainda tinha visão de jogo privilegiada, enxergando à frente de seus pares. 

Como uma andorinha só não faz verão, Mendonça não conseguiu dar um título ao Botafogo. Assim, seguiu seu rumo para terras paulistas – Portuguesa, Palmeiras, Santos. Sempre encantando as torcidas com seu futebol de rara beleza.

Sua carreira ficou eternizada por um golaço que fez, jogando pelo Botafogo, contra o Flamengo, em jogo pelo Campeonato Brasileiro de 1981. Terceiro gol de uma vitória de 3 x 1, no final do jogo, eliminou o rival e colocou o alvinegro nas semifinais. Um drible humilhante em Junior, que está procurando a bola até hoje, concluindo para o gol.

Na época, passava a novela “Baila Comigo”, em que Tony Ramos interpretava magistralmente dois irmãos gêmeos. Como, no golaço, Mendonça botou Junior para dançar, e o rival rubro-negro dançou, este ficou conhecido como “O Gol Baila Comigo”. Genial!

Mendonça morreu. Mendonça é eterno!

Luis Filipe Chateaubriand acompanha o futebol há 40 anos e é autor da obra “O Calendário dos 256 Principais Clubes do Futebol Brasileiro”. Email: luisfilipechateaubriand@gmail.com.

DUELO HISTÓRICO

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Há tempos não me emociono tanto com um jogo! Estava cansado, mas quando ameaçava dormir acontecia mais uma bonita tabela, um drible, um gol. Achei que estivesse sonhando e me belisquei. Um jogo sem violência, sem chutões, sem retranca. Uma partida para os amantes do futebol de verdade reverem mil vezes. E para os comentaristas reverem e se envergonharem, mas se envergonharem muito!!!

O que ouvi de atrocidades quando estava 3×0 é melhor esquecer e focar apenas no jogo, espetacular e acima de tudo emocionante, de arrancar gritos e lágrimas. Estava na sala, sozinho, mas em determinado momento fiquei de pé. Quem me acompanha sabe o quanto torço para que Fernando Diniz consiga levar adiante sua filosofia, que nada mais é do que uma tentativa de resgate do nosso futebol. Ele e Sampaoli precisam de novos seguidores.

Com a volta de Pedro a missão fica facilitada. Ainda estou muito feliz! Esse jogo entra para a lista dos históricos, como Vasco x Palmeiras, na Mercosul, e aquele Flamengo x Santos, com atuação de gala do Ronaldinho Gaúcho. No dia anterior, Felipão e Odair Hellmann nos brindaram com mais um festival de horrores e, se não assistiram, precisam ver o VT de Grêmio x Fluminense.

O Palmeiras fez mais um gol de bola parada, mas se venceu é o que importa. E é justamente esse pensamento pequeno que está contaminando a cabeça da torcida. O próprio Cássio, goleiro do Corinthians, sugeriu perguntarmos aos torcedores se eles não preferem jogar feio e ganhar. Está errado! O torcedor do Grêmio tem que ter saído feliz do estádio porque o time nos presenteou com futebol.

Como joga esse Jean Pyerre! E que tabelinha linda em seu gol! Não é possível que os professores não entendam que o caminho é esse!!! Impossível não voltar a 82. Aquela derrota fez nascer o futebol de resultado, da eficiência. Ganhamos duas Copas, e daí? Em troca, enterraram um estilo.


O Barcelona perdeu uma final para o Internacional, com gol de Gabiru. O Barcelona seguiu em frente, não mudou o estilo e continua reinando no futebol atual. O Inter parou no tempo e insiste nesse modelo ultrapassado de jogar bola. Hoje, os times brasileiros com mais dinheiro não empolgam. Enchem estádios _ se 50 mil é considerado muita gente _ mas não tocam o coração.

Minha alegria só não foi completa por conta do acidente de Mendonça, que continua sua luta contra o alcoolismo. Esse é um representante legitimo do futebol arte, camisa 8 que marcou seu nome no Glorioso mesmo sem ganhar títulos. Seu estilo romântico e poético de jogar bola também foi soterrado pelos novos astros, os velocistas e brucutus.

Também queria que Mendonça tivesse assistido a esse Gremio x Fluminense. Sei do desgosto que sente com o futebol atual. Se Deus permitir que meu amigo supere mais essa vamos rever esse jogo e celebrar juntos o seu renascimento e o do futebol. 

FORÇA, MENDONÇA

Conheci Mendonça no Bar da Eva, no Grajaú, quando eu levava craques para reverem os jogos mais marcantes de suas vidas. Foram dois anos de pura felicidade! Bebi muitas geladas com Válber, Donizete Pantera, Búfalo Gil e, claro, Mendonça, que vinha de Bangu. Fechei o bar com alguns deles, sempre ouvindo glórias e derrotas. Rondinelli chorou, Assis chorou, Amarildo chorou. Os clientes choravam. O Afonsinho sentava em todas as mesas, o Adílio sorteou sua camisa, Francisco Horta cantou uma marcha tricolor e Eurico Miranda puxou o Casaca. Mendonça esteve lá várias vezes e em todas lamentou o fato de não ter sido campeão pelo Botafogo, time do coração. Nesse momento, eu pedia mais um chope, desviava o assunto e colocava na tevê o vídeo com seus dribles e golaços. Ele viajava e agradecia. No drible “Baila Comigo”, que descadeirou Júnior Capacete, levou uma bronca da mulher, rubro-negra, quando chegou em casa: “precisava daquilo tudo?”. Foram chopes e mais chopes! Na correria do dia a dia perdemos o contato até ser avisado por Adílio que ele precisava de ajuda, estava sendo vencido pelo álcool. O craque rubro-negro conseguiu a internação na Clínica Jorge Jaber e fomos visitá-los juntos. O álcool é devastador. Ficou três meses e recebeu alta com a condição de voltar quinzenalmente. Nunca mais apareceu. Mas na segunda passada o reencontrei na pelada do Carlinhos Cortázio, na Barra da Tijuca. Ficou meio sem graça quando me viu. Olhei para a mesa tentando flagrar algum copo de cerveja. Não tinha. Me aproximei e nos abraçamos. Sua aparência estava saudável e a memória boa. “Estou limpo!”, garantiu. Mas senti um cheirinho de álcool, típico de quando transpiramos na pelada após um dia de bebedeira. “Mesmo?”, perguntei. “A batalha é dura!”, disse. Não quis interpretar a resposta como um sim ou não, e pedi para que relembrasse pela milésima vez o seu “Baila Comigo”. 

DEZESSEIS NO CINEFOOT

Temos muito orgulho da parceria que formamos com o CINEfoot. Nesses dois anos de Museu, tivemos, por duas vezes, a honra de participar ativamente do festival de cinema de futebol liderado pela fera Antonio Leal.

Se no ano passado recebemos a “Honraria Futebol Arte” como a mais brilhante iniciativa no campo cultural em defesa da identidade e promoção dos valores mais preciosos do futebol genuinamente praticados nos campos e fora das quatro linhas, em 2017, na oitava edição do CINEfoot, tivemos a oportunidade de apresentar o “Dezesseis”, um vídeo sobre Adílio e Mendonça.

Vale destacar que é o número da edição do festival que determina os homenageados e, por isso, a oitava edição relembrou os grandes camisas 8 do futebol brasileiro. Presente no evento, o craque Adílio subiu ao palco para agradecer a homenagem e, logo em seguida, assistiu ao vídeo emocionante.

Além de travarem grandes duelos por Flamengo e Botafogo, respectivamente, Adílio e Mendonça honraram a camisa 8 e comandavam o meio-campo, sempre de cabeça erguida, como manda o figurino.

Todo e qualquer tipo de homenagem a essas feras continua sendo pouco por todas as alegrias que eles nos proporcionaram!

Viva o CINEfoot e viva os donos do meio-campo!