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Fluminense

SAUDADE DO GUM

por José Roberto Padilha


Gum e Henrique

Gum e Henrique

Nunca pensei que teria, como tricolor, tal sentimento. Humilde, esforçado, excelente cabeceador, Gum tem sido protagonista, ao longo dos seus sete anos atuando na zaga tricolor, de um arsenal de trapalhadas que impediram sua definitiva idolatria. Empanaram a importância dos seus gols decisivos, fazendo-o motivos de piadas, ao ponto da diretoria tricolor ter procurado desesperadamente um substituto. Daí repatriaram, completamente fora de forma, da reserva do Nápoli e sem jogar uma partida oficial desde maio de 2015, o Henrique.

Para não dizer que sou implicante, peço aos meus filhos fanáticos por Cristiano Ronaldo e, felizmente, Marcelo, e os coloco ao meu lado para assistir Fluminense x Madureira. Para o Bruno, rubro-negro, e o Guilherme, botafoguense, é um imerecido castigo pelos filhos que são. Mas precisava de um outro olhar esportivo sobre o desempenho deste atleta, amigo do Felipão, que deixou Miranda no auge da carreira de fora, e ganhou de presente do seu padrinho no Palmeiras uma convocação para assistir de perto,sentado, patrocinado pela Nike e inscrito pela FIFA, a ultima Copa do Mundo.

Não deu outra. Era o Fred marcar um gol lá na frente que ele chegava atrasado na cobertura do Marlon. Sem velocidade e força para realizar coberturas,  pernas para sair jogando e com uma irregular impulsão, Henrique foi o mapa que a corajosa equipe do subúrbio, com um jogador a menos, utilizou para igualar a partida. Ficava pensando se fosse um garoto revelado em Xerém estreando aquele dia com tal decepcionante atuação. Seguramente teria sua carreira encurtada e voltaria para os juniores para uma melhor avaliação. 

Após17 anos como atleta profissional, carrego comigo, dentre outros traumas próprios de cada uma profissão, o impiedoso julgamento dos jornais das segundas e quintas. Nenhum advogado é julgado publicamente por seu desempenho em audiências. Médicos operam, e não há um só repórter ao seu lado a dar notas pela sua atuação nas cirurgias. Mas nós, jogadores de futebol, temos um jornalista apócrifo corrigindo nossa partida e aplicando notas impiedosamente. Sem direito à revisão. A defesa. Por isto, estudei jornalismo para não cometer a mesma injustiça. Mas ao abrir o jornal O Globo após a partida, estava lá postado: Henrique, nota 3. Salários: 400mil. Idade: 29 anos. Era um olhar parecido com o nosso.

O futebol é um outro reflexo do nosso país. Que cresceu dando jeitinhos, sendo cordial, fisiológico, aristocrata, nobre, distribuindo favores, recebendo-os em troca. Sempre confundindo o público com o privado. Quando você acorda, Paulo Duque já foi indicado e derrubou a Petrobrás. Quando você desperta, Henrique foi indicado por um outro padrinho Felipão e começa a derrubar as pretensões tricolores de ser campeão carioca. Até quando?

CONSTELAÇÃO TRICOLOR

texto: Sergio Pugliese | foto: Guilherme Careca Meireles | vídeo: Rodrigo Cabral


No início do ano, o clube Costa Brava, em São Conrado, foi invadido por uma constelação tricolor. Mais uma obra da dupla Carlos Perez e Helso Teia, que adora reunir os amigos para relembrar os bons tempos!!! Foi o Terceiro Encontro de ex-Atletas do Fluminense e a casa ficou cheia!!! A equipe do Museu apareceu por lá e aproveitou para bater um papo com três de nossos ídolos, Arturzinho, Rubens Galaxe e Paulo Goulart. Matem a saudade!!!!   

A FUGA DE CAFURINGA

por Sergio Pugliese


Armando Pittigliani e Cafuringa

Armando Pittigliani e Cafuringa

Volta e meia me perguntam se as histórias contadas aqui realmente são verdadeiras. Difícil acreditar, mas são!!!! Por isso, fazemos questão de fotografar os personagens, ouvir testemunhas e confirmar com até três peladeiros, como se isso fosse garantia de alguma coisa, mas… Se não me cercasse desses “cuidados” me chamariam de mentiroso quando contei, por exemplo, a história de um boi que despencou de um morro, caiu dentro de um campo e virou churrasco. Não é Sérgio Sapo??!!! Aí, conversando, outro dia, com o parceirão Armando Pittigliani, o Pitti, no Clube dos Trinta, em São Conrado, escuto uma pérola envolvendo o saudoso Cafuringa, ídolo tricolor, e, claro, duvido. Para quê??? Pitti abriu seu baú abarrotado de preciosidades e calou o meu bico.

– É verdade, o Cafuringa forjou uma dor de barriga para sair no intervalo de um jogo do Fluminense, no Maracanã, para não perder uma pelada, na Tijuca!!! – garantiu.

Era uma quarta-feira, 31 de março de 1971, e Pitti prometera levar um time para jogar apostado contra o Country Clube Tijuca. Alguns dia antes, como de hábito, recebeu uma ligação de Cafuringa, fiel companheiro de peladas, para saber como estava a programação futebolística da semana. Pitti falou que tinha duas notícias, uma boa e outra má. O folclórico ponta preferiu ouvir a boa primeiro. Tinha jogo!!!! E a má? Seria quarta-feira, dia de Fluminense x Campo Grande.

Surpreendentemente, Cafuringa disse que daria um jeito e falou para Pitti esperá-lo às 22h30, na estátua do Bellini.

– Não contrariei, afinal seria o nosso maior reforço – recordou Pitti, que chegou bem antes da hora ao local marcado.


Cafuringa e Simonal

Cafuringa e Simonal

Pitti, na época com 36 anos, era diretor do Departamento de Serviços Criativos da gravadora Phonogram (depois Polygram e, hoje, Universal) e organizava peladas memoráveis!!! Jogava, entre outros campinhos, no Piraquê, Caiçaras, Clube dos Trinta, Country Clube da Tijuca e Polytheama. Seus parceiros mais constantes eram Amaral, Rochinha, Mauro Laviola, Zé Britto, Amaury, ex-goleiro do Botafogo, Jorge Bem, Sylvio Cesar, Chico Buarque, Betinho Cantor, Paulinho Tapajós, Ronaldo, do Golden Boys, o quarteto do MPB4, Paulinho da Viola, Erlon Chaves, Zeca do Trombone, o saudoso Miéle, João Carlos Barroso, Nuno Leal Maia, Francisco Cuoco, Arnaud Rodrigues, Dary Reis e Reynaldo Gonzaga.

– Fui com os amigos Sebastião Amaral e o goleiro Três Com Goma, integrante do Trio Nordestino, e ficamos na arquibancada, ligados no meu inseparável radinho de pilha – contou.

O Fluzão, do presidente Francisco Laport, disputava a liderança e precisava vencer para continuar na cola do Botafogo. O time era bom! Félix, Oliveira, Denilson, Galhardo, Assis e Marco Antônio, Cafuringa, Didi, Flávio, Ivair e Lula. Jorge Cury, pela Rádio Nacional, e Waldyr Amaral, pela Globo, arrasavam nas transmissões e fizeram o estádio explodir narrando os dribles de Cafuringa e o cruzamento certeiro para a cabeçada do príncipe Ivair abrir o placar. Alguns minutos depois, para espanto geral, Cafuringa, o ponta com fama de não fazer gols, pegou um rebote na área e marcou o segundo. Embora o atacante tenha sido campeão carioca pelo Fluminense quatro vezes, nunca brigou pela artilharia, mas consagrou vários centroavantes, como Ivair e Flávio.

– Quando terminou o primeiro tempo eram dez horas e duvidei que ele não voltasse para o segundo tempo.

A ideia era ver o início do segundo tempo e correr para o Country Clube Tijuca. Porém, às 22h15, o repórter de campo interrompeu os comentários de Ruy Porto para informar que Wilton substituiria Cafuringa. Ninguém tiraria Cafuringa naquele dia. A torcida chiou!!!! Mas entendeu quando veio a explicação: “desarranjo intestinal, passou o intervalo todo na privada”, informou Kleber Leite. Pitti, Sebastião e Três Com Goma foram os únicos a comemorar. Quem poderia imaginar que aqueles três malucos correndo desesperados em direção à Estátua do Bellini estavam indo resgatar Cafuringa para uma pelada????

– Foi mágico! Cafuringa chegou e nos abraçamos como crianças – comentou, feliz da vida.


No clube, os tricolores que ouviam a partida não entenderam nada!!! Mas Cafuringa não estava jogando??? O craque, dedo indicador cruzando a boca, pediu silêncio, “chiii, não espalha”. Gargalhada geral!!! No Maracanã, final 2 x 1 e o Fluzão campeão naquele ano. No Tijuca, o time do Pitti maltratou o adversário, 8 x 3, e o ponta fujão emplacou três. Ali, na pelada, braços dados com a irreverência, Cafu dava as cartas, era o grande artilheiro!