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ZEMBA, O IMPERADOR DO MORRO DO SABÃO

11 / abril / 2017

por Marcelo Mendez


Marcelo Mendez (Foto: Fabiano Ibidi)

Em um domingo de sol em Mauá, a cidade se fez presente em riso e festa por conta do Futebol de Várzea.

Haveria, então, na cidade duas finais de campeonato da bola marrom no mesmo dia. As pessoas, todas felizes, lotaram o estádio da Vila Mercedes para a primeira delas, entre Dínamo Mauá x Combatentes.

E no primeiro toque que deu na bola, um menino vestindo uma camisa 10 como seu Alforje fez daquela manhã de dezembro em Mauá, algo épico.

Era a vez de Zemba, o 10 do time do Combatentes, encher os olhos deste cronista que vos escreve…

Entre todo o sol, vento, prefeito presente, vereadores e instrumentos de samba, olhei para o tempo e naquele campo de plástico meus olhos queriam ver apenas ele.


(Foto: Sergio Moraes)

Jogador refinado, alto, esguio, de passos de Nijinski, de uma fleuma ao andar pelo campo que me remeteu a poesias e odes, um menino que troca seu dia a dia comum por um protagonismo justo, que a vida decerto insiste sistematicamente em lhe negar.

No futebol de várzea, Zemba e seu futebol Imperial são mais do que apenas comuns. Zemba é a o Cavaleiro da Guarda do sonho, o homem que mantém viva a poesia em seu estado puro.

Desfilava…

Era altivo, de seus pés não saíam apenas passes; Pela cancha, Zemba distribuía sonetos.

Deu vários aos atacantes de seu time, correu pela cancha como se a vida fosse realmente algo belo, tranqüilo, como se todo sofrimento dessa dura e deliciosa aventura de viver pudesse ser resolvido apenas com um par de chuteiras e uma bola marrom, adornada de terra.

Com Zemba tudo era fácil e muito bonito.

Antevia tudo, as jogadas, a marcação adversária, os sonhos, os amores. Armava sua equipe com a destreza com que Franz Liszt manuseava seu piano para criar sua obra “Poemas Sinfônicos”. Porque tudo que Zemba fazia por aquele campo era poesia pura.

Lançamentos, chutes, chapéu, passes, trivelas…


(Foto: Custodio Coimbra)

Me emocionava a cada vez que a bola chegava a seus pés. Da beira do campo de onde eu assistia a tudo isso, consegui ver um sorriso pleno de amante realizada nela, a bola.

A pelota procurava pelo camisa 10 do Combatentes pelo campo, tal e qual um apaixonado procura por uma rosa improvável pela noite boêmia para presentear a sua amada. A síntese de tudo que acontecia era esta:

Todos ali estavam totalmente apaixonados por Zemba.

Um craque da renascença. Um Leonardo Da Vinci sem pincel, um Michelangelo sem capela Sistina, nada disso; Zemba era um grande apenas com a camisa 10. E vos digo caros leitores:

Não há no mundo dos homens, obra de arte maior do que a camisa 10 de um time de futebol envergada por um craque.

Zemba é desses na várzea…

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