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“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 63

22 / maio / 2024

por Eduardo Lamas Neiva

O povo dança a valer e aplaude muito ao fim da apresentação de “Reis da bola”, de Moraes Moreira, Galvão e Pepeu Gomes. Moraes Moreira sai do palco agradecendo e cumprimentando todos que passavam por ele. Quando houve uma breve acalmada, Idiota da Objetividade retomou a pelota.

Idiota da Objetividade: – No mesmo dia em que o Brasil derrotou o Paraguai, em 1969, no outro grupo, o Peru comandado pelo nosso Didi se classificou para a Copa do México, eliminando a Argentina, no estádio La Bombonera, em Buenos Aires, com um empate em 2 a 2.

Sobrenatural de Almeida: – Mandei um representante meu ao estádio do Boca Juniors naquele dia. (dá sua risada medonha)

Todos riem. Mas o Sobrenatural de Almeida fica repentinamente sério e mais uma vez vai cutucar João Sem Medo.

Sobrenatural de Almeida: – Depois de vitórias brilhantes, a seleção e você, João, começaram a ter muitos problemas, né? Também, um comunista que nunca levou desaforo pra casa como você, no comando da seleção em plena ditadura militar de direita… Imagine se é você o técnico campeão no México? Como os militares, tendo como presidente Emilio Garrastazu Médici, iriam recebê-lo em Brasília?

João Sem Medo: – Eu nem iria, Almeida. Médici matou – ou deixou matar – vários amigos meus. Pra mim, era uma barbada. Mas imagine se comigo a seleção não ganhasse. Eu nem poderia voltar pro Brasil. Os militares tentaram me impedir de ir ao México comentar os jogos. Mas não conseguiram. Quando eu ia sair do Brasil pro México, fui posto pra fora do avião, no Galeão, embora tivesse passagem comprada, passaporte, tudo certinho. Eles me puseram nuzinho no aeroporto.

Garçom: – Que desrespeito!

João Sem Medo: – Eu disse pra um dos caras: “Olha, desaparece, porque, se eu estiver vivo e você também, um dos dois vai morrer”. Nunca mais vi esse filho da mãe. Ele me deu dois tapas.

Garçom: – Que isso, “seu” João?

João Sem Medo: – Me deixaram nu, desfizeram mala, fizeram o diabo. E me soltaram, lá do Galeão mesmo, em duas, três horas. Um cara com vozeirão disse pra eu não aparecer mais no aeroporto. Aí falei com os chefões da Globo. Me deram mil dólares e me mandaram pegar um avião Rio-Belém. Fiquei lá um dia, parti pra Panamaribo, no caminho dos contrabandistas, o mesmo que o Ronald Biggs, aquele ladrão inglês de trem, fez. Sem precisar de passaporte, nem nada, peguei avião de vagabundo pra Port of Spain, depois pra Guatemala e, só então, fui pro México. Cheguei três dias após ter saído do Brasil. Foi duro sair do Brasil. Mas fui trabalhar, comentar os jogos pra TV Globo e torcer pelo time formado por mim.

Ceguinho Torcedor: – E fez outro trabalho brilhante.

Garçom: – Fez mesmo! Eu ouvi tudo, vi todos os jogos pela televisão na casa de um vizinho, o único da minha rua que tinha TV naquela época. E já que o assunto é o tri, vamos aproveitar pra trazer outro frevo que homenageia aquela seleção fundamental. Venha ao palco novamente, por favor, Jackson do Pandeiro!

Jackson do Pandeiro é muito aplaudido e volta ao palco com a alegria de sempre.

Jackson do Pandeiro: – Obrigado, obrigado. Depois de ter vindo aqui cantar o “Frevo do Bi”, agora vamos com o “Frevo do Tri”, de Braz Marques e Álvaro Castilho.

O povo se esbalda com o “Frevo do Tri” e aplaude muito Jackson do Pandeiro. Após breve intervalo, Sobrenatural de Almeida foi rápido pela direita e levantou mais uma polêmica, alfinetando João Sem Medo.

Sobrenatural de Almeida: – É João, me desculpe, mas você se meteu em muita confusão antes de ser demitido da seleção. Teve a história com o Yustrich.

Ceguinho Torcedor: – O Yustrich provocou muito.

Idiota da Objetividade: – Depois de vencer a seleção, num jogo-treino no Mineirão, por 2 a 1, em setembro de 69, Yustrich, então técnico do Atlético Mineiro…

Sobrenatural de Almeida: – Time do Dario, que aliás fez um dos gols.

Garçom: – Vamos ver os gols nas imagens do Canal 100 e narração de Vilibaldo Alves, da Rádio Itatiaia, no nosso telão.

Idiota da Objetividade: – Na narração, Vilibaldo Alves chama o Atlético Mineiro de Galo Vermelho, porque o time jogou com o uniforme da seleção mineira. Depois da partida, o Homão, como Yustrich era chamado, mandou seu time dar uma volta olímpica…

Garçom: – Mas que coisa ridícula! Yustrich não veio, mas um dia virá aqui explicar essa e outras muitas histórias que contam sobre ele.

Sobrenatural de Almeida: – Não sei se é boa ideia, Zé Ary.

Garçom: – É, talvez tenha razão, Seu Almeida.

Ceguinho Torcedor: – Yustrich sempre que podia criticava, debochava e chegou a chamar o João de covarde.

Idiota da Objetividade: – E quando já estava dirigindo o Flamengo ofendeu o João numa entrevista pra uma rádio.

João Sem Medo: – Aí fui lá na concentração do Flamengo fazer uma visita de cortesia…

Sobrenatural de Almeida: – Visita de cortesia com arma na mão, João?! (ri medonhamente)

O público ri.

João Sem Medo: – Eu entrei por uma porta, ele estava saindo por outra. Era muito meu amigo…

Garçom (imitando um personagem antigo de Jô Soares): – Muy amigo, muy amigo… (todos riem, inclusive João Sem Medo)

João Sem Medo: – Até você, Zé Ary? Bom, fizeram uma intriga enorme, e ele caiu naquilo. Aí não tinha arrego, não tinha mais papo, e então fui lá. Esvaziei a concentração do Flamengo, mas lá só tinha um come-e-dorme, porque eles se mandaram. Um caiu dentro de um rio em frente e ficou com água por aqui: “João, não sei nadar!”. Eu digo: “Fica aí, seu canalha”. E fui embora. Não houve nada.

Garçom: – Tá certo. Mas como o papo aqui é sobre futebol e aquele da melhor qualidade, vamos chamar um craque da Música brasileira pra cantar “Futebol” aqui pra gente. Venha, por favor, ao palco, Naná Vasconcelos!

Naná se levanta  e vai sorrindo pro palco, muito aplaudido.

Naná: – Muito obrigado a todos. É um prazer estar aqui com todos vocês. Vamos de “Futebol”, que ele não pode perder a dança.

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Um gol desse não se perde!

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