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UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 30

5 / outubro / 2023

por Eduardo Lamas Neiva

O povo dá uma rápida dispersada após a música, mas o Cruzeiro de 1966 continua sendo lembrado pelos nossos debatedores.

João Sem Medo: – Tostão e Dirceu Lopes foram os grandes nomes daquele time do Cruzeiro. Os dois, mais o Piazza, foram titulares do time que escalei logo quando assumi a seleção, três anos depois.

Ceguinho Torcedor: – As feras do Saldanha!

Idiota da Objetividade: – Félix, Carlos Alberto, Brito, Djalma Dias e Rildo; Piazza, Dirceu Lopes e Gérson; Jairzinho, Pelé e Tostão.

Ceguinho Torcedor: – Aquele time do Cruzeiro e as Feras do Saldanha merecem todas as nossas homenagens.

Idiota da Objetividade: – Em especial Tostão, craque daquele time do Cruzeiro e o artilheiro da seleção nas eliminatórias para a Copa de 70.

Garçom: – Então, vamos ouvir “Tema de Tostão”, de Milton Nascimento?

Zé Ary vai ao aparelho e põe a música-homenagem para ressoar nas caixas de som do Além da Imaginação.

Músico: – Esta música foi composta por Milton Nascimento para o documentário “Tostão, a fera de ouro”, de 1970. O filme teve roteiro do escritor mineiro Roberto Drummond, autor entre outros de “Hilda Furacão”, e direção de Paulo Laender e Ricardo Gomes Leite.

João Sem Medo: – A vitória do Cruzeiro em 66 fez finalmente a CBD ver que o futebol não se restringia a Rio e São Paulo.

Idiota da Objetividade: – É verdade. Para as Copas do Mundo, por exemplo, apenas cinco jogadores de clubes fora do eixo Rio-São Paulo haviam sido convocados até 66: o zagueiro Luz, do Grêmio, para a Copa de 34; o zagueiro Nena e o atacante Adãozinho, ambos do Internacional, para a Copa de 50, e os atacantes Alcindo, do Grêmio, e Tostão, do Cruzeiro, para 66. Já para o México, em 70, Zagallo teve o mesmo número de jogadores que não eram de clubes do Rio ou São Paulo: Piazza, Fontana e Tostão, do Cruzeiro; Everaldo, do Grêmio, e Dario, do Atlético Mineiro.

Garçom: – Caramba, fomos bicampeões mundiais só com jogadores de times do Rio e de São Paulo, então. Não se dava muita atenção ao futebol de outros estados?

João Sem Medo: – Na verdade, os clubes de Rio e São Paulo eram mais fortes economicamente e traziam muitos atletas de outros estados. Jogando nos dois principais estados do país eles se destacavam mais e acabavam convocados.

Garçom: – Ah sim, como o Almir Pernambuquinho, o Zagallo, que é alagoano…

Ceguinho Torcedor: – Vavá, também pernambucano.

João Sem Medo: – Aquele título do Cruzeiro em 66 também fez nascer o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, que era o Rio-São Paulo mais clubes de Minas, Rio Grande do Sul e de outros estados.

Ceguinho Torcedor: – O Robertão, como era chamado, é que deu origem ao Campeonato Brasileiro.

João Sem Medo: – Muitos anos depois a CBF numa decisão estapafúrdia misturou os campeões da Taça Brasil e do Robertão com os do Campeonato Brasileiro.

Ceguinho Torcedor: – Mas o Robertão foi o Big Bang do Brasileirão!

João Sem Medo: – A Taça Brasil era um torneio eliminatório, parecido com a atual Copa do Brasil. A CBF misturou alhos com bugalhos e o Palmeiras acabou virando bicampeão brasileiro no mesmo ano, porque ganhou duas competições diferentes em 1967, a Taça Brasil e o Roberto Gomes Pedrosa.

Idiota da Objetividade: – Em 1971, após forte campanha da imprensa esportiva, a CBD instituiu o Campeonato Brasileiro. A criação do campeonato nacional, no entanto, mereceu críticas dos mesmos veículos que reivindicavam a competição, pois viam pouca diferença em relação ao Robertão e uma ingerência política muito grande para a escolha dos times.

João em Medo: – A Arena, partido da ditadura, se aproveitou do futebol para angariar simpatias. E o lema foi criado: “Onde a Arena vai mal, mais um time no Nacional. E onde a Arena vai bem, mais um time também”.

Garçom: – Teve campeonato com quase cem times!

Idiota da Objetividade: – Foi em 1979, quando o Internacional de Porto Alegre conquistou o seu terceiro e último Campeonato Brasileiro. Venceu de forma invicta a competição que teve 94 clubes.

Sobrenatural de Almeida: – Assombroso.

João Sem Medo: – E seriam mais, se alguns grandes de São Paulo não tivessem ficado de fora.

Idiota da Objetividade: – Os times de São Paulo queriam entrar apenas na terceira fase da competição. A CBD, que naquele mesmo ano por exigência da Fifa passaria a cuidar apenas do futebol e se tornaria CBF, não aceitou. Com isso, Corinthians, Portuguesa, Santos e São Paulo ficaram fora do Campeonato Brasileiro de 1979.

Garçom: – Caramba, seriam então 98 clubes!

João Sem Medo: – Confusão no tapetão e politicagem nunca faltaram no futebol brasileiro. Os cartolas atuais são elitistas e praticamente expulsaram o povão dos estádios.

Ceguinho Torcedor: – A alma dos estádios estava na geral com seus personagens magníficos. Dizem os idiotas da objetividade que torcida não ganha jogo. Pois ganha!

Idiota da Objetividade: – Pra mim futebol é onze contra onze, decidido no campo de jogo.

João Sem Medo: – Os cartolas sempre atrapalharam o futebol brasileiro e tentaram ganhar alguns jogos na mão grande. Naquela época, do Brasil gigante, do ame-o ou deixe-o, com o campeonato inchando de clubes a cada ano, muito mais preocupados com seus interesses do que com os dos próprios clubes que dirigiam, eles faziam as maiores lambanças, elaboravam regulamentos confusos, mudavam tudo no meio do campeonato, jogos sem atrativos e ainda queriam que o povão fosse aos estádios com seu suado dinheirinho e pegasse sol a pino na cabeça sem saber se o jogo seria resolvido em campo ou no tapetão.

Garçom: – Fui a muito jogo com o estádio praticamente às moscas.

Músico: – Ah, João, Zé Ary, Ceguinho. Temos um grande artista presente na casa que pode cantar uma música que tem tudo a ver com isso que vocês estão falando. Eu estou falando do grande Taiguara!

Taiguara se levanta, todos aplaudem muito e o artista agradece.

Garçom: – Taiguara, por favor, venha ao palco!

Taiguara: – Obrigado, muito obrigado. É uma satisfação enorme estar aqui pra assistir a esta verdadeira aula de futebol, da História do nosso futebol, da nossa História, e ainda ouvir lindas músicas que falam do futebol brasileiro. E sem se esquecer do olhar crítico, como foi ressaltado aqui há pouco, especialmente pelo João Sem Medo. Então, pra tocar a bola em frente, vou apresentar “Público”, que gravei no meu disco “Imyra, Tayra, Ipy”, em 1976.

Músico: – Este disco é uma obra-prima!

Taiguara: – Obrigado, parceiro. Vamos lá!

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